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New York Times

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Crise expõe corrupção na Espanha

Por SUZANNE DALEY

LA MUELA, Espanha - Nos bons tempos, a antiga prefeita de La Muela, uma aldeia de 5.000 moradores exposta aos ventos do norte da Espanha, dedicava seus esforços à construção: o museu do azeite de oliva, o museu do vento e o museu da vida. Se isso não bastasse, havia também uma nova arena de touradas, um centro esportivo com 25 mil lugares e um zoológico.

A antiga prefeita, María Victoria Pinilla, também parecia estar prosperando em sua vida pessoal. Ela tinha três grandes casas construídas nas terras de sua família, um apartamento em Madri, uma casa de praia e uma casa de férias na República Dominicana. ao lado da casa de Julio Iglesias.

Agora, a cerca que protege as propriedades da antiga prefeita está dilapidada e conjuntos habitacionais cuja construção foi abandonada antes do fim jazem nas cercanias da aldeia. Em abril, Pinilla, 57, que serviu como prefeita de La Muela por 25 anos, tornou-se mais uma entre as muitas autoridades políticas da Espanha a encarar acusações de corrupção.

Investigadores calculam que ela e outros familiares acumularam cerca de US$ 24 milhões, principalmente por meio de transações escusas de terras realizadas nos anos de boom econômico da Espanha. Em buscas conduzidas nas propriedades de Pinilla, a polícia pediu uma máquina de contar dinheiro emprestada a um banco para ajudar a totalizar o montante apreendido: US$ 485 mil.

Por décadas, a corrupção foi aceita no sul da Europa como um modo de vida e como uma forma de distribuir os espólios. Pouca gente se preocupava com isso. Mas a crise econômica ajudou a expor funcionários corruptos, desfalques, propinas, negociatas, trocas secretas de favores e outros delitos.

Em um momento no qual Espanha, Grécia, Itália e Portugal estão impondo medidas de austeridade para reduzir seus deficit, as revelações de corrupção política generalizada fomentam amargo ressentimento, desestabilizando governos e solapando a credibilidade da classe política.

A corrupção não causou a crise da zona do euro. Mas os problemas persistirão, dizem os especialistas, até que esses países se recriem como sociedades dotadas de economias eficientes e competitivas. "O principal desafio", diz Miklos Marschall, diretor-executivo-assistente da Transparência Internacional, "é que a classe política não tem respeito no sul da Europa. As instituição precisam ser reconstruídas, passo a passo, para que o governo possa ser um agente confiável".

A Espanha de forma alguma é o país mais corrupto da Europa. Grécia e Itália são vistas como mais corruptas. Mas o imenso volume de casos de corrupção política por aqui está causando profundos embaraços.

Os juízes estão investigando cerca de mil autoridades, de prefeitos de cidades pequenas, como Pinilla, a ex-integrantes de ministérios. Até mesmo o primeiro-ministro conservador Mariano Rajoy aparece na lista de notáveis de seu partido que supostamente aceitaram pagamentos ilegais. O genro e filha do rei Juan Carlos também foram intimidados a depor em um inquérito de corrupção.

A estrutura política da Espanha confere grande poder às autoridades locais. Muitas delas estão autorizadas a conceder contratos de compras ou a alterar o zoneamento de terrenos com pouca ou nenhuma supervisão.

"Em um almoço, eles podem decidir que você vai lucrar 100 milhões de euros", disse Manuel Villoria, professor de ciência política na Universidade Juan Carlos, em Madri.

Ao contrário da Grécia, na Espanha a corrupção não era um modo de vida. A maioria dos espanhóis vive sem pagar subornos. Mas os especialistas dizem que a concentração de poder nas mãos de autoridades regionais e municipais e que os elos delas com os bancos regionais de poupança criaram as condições ideais para a corrupção nos anos do boom da construção.

Em abril, o juiz que está investigando o caso de La Muela, Alfredo Lajusticia, decidiu que Pinilla devia ser julgada por desfalque de verbas públicas, sonegação tributária e lavagem de dinheiro, entre outras acusações. Pinilla continua a se declarar inocente.

La Muela parece uma cidade-fantasma. Outdoors desbotados anunciam projetos que jamais foram construídos. Um hotel inacabado e o zoológico quase vazio marcam os limites do centro da aldeia.

Alguns moradores se declaram atônitos diante da fortuna da família da prefeita, mas há quem pouco se incomode. "Sim, o que aconteceu aqui foi incrível", disse Alfonso Guirao, 42. "Mas, por outro lado, tudo é incrível. Veja o que está acontecendo em todo o país."


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