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New York Times

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Inteligência/Amy Yee

Vidas precárias, ameaças crescentes

KHULNA, Bangladesh

Em uma quente manhã de primavera, Israfil Gazi foi sozinho para as Sunderbans, as florestas de mangue no sudoeste de Bangladesh, em busca de mel silvestre, apesar de ele saber que na área vivem tigres perigosos. Todo ano, os tigres matam pelo menos 50 pessoas que entram nas Sunderbans para pescar e coletar madeira, folhas de palmeira e mel. Gazi foi picado por abelhas diversas vezes e já esteve frente a frente com tigres.

Usando apenas uma camisa de mangas compridas e um lenço sobre o rosto, ele subiu em uma árvore de seis metros para fumigar as abelhas, afastando-as da colmeia, e cortar favos de mel. Sua mulher "reza ao poderoso Alá" por sua segurança, disse Gazi. Ele reapareceu cinco horas depois e voltou para sua cabana de palha em Koyra, onde espremeu os favos como grandes esponjas sobre uma velha panela. Os dois quilos que colheu alcançam 700 taka, cerca de US$ 9, o suficiente para alimentar sua família.

A vida é precária para famílias como os Gazi, que vivem perto dos manguezais costeiros. A ameaça da mudança climática e do aumento dos níveis do mar tornam suas existências ainda mais vulneráveis. Apesar de um ciclone ter atingido Bangladesh neste mês apenas com um golpe oblíquo, quase um milhão de pessoas foram desalojadas e milhares de casas ficaram danificadas.

Como um país de baixa altitude na baía de Bengala, Bangladesh é vulnerável a desastres naturais como enchentes dos rios, inundações, erosão e chuvas inesperadas. A inundação por água do mar ameaça terras agrícolas que alimentam 152 milhões de pessoas.Com as recentes medições mostrando o dióxido de carbono na atmosfera em níveis nunca vistos, a realidade da mudança climática resultante será sentida de forma mais aguda por famílias como os Gazi, que são pobres demais para se mudar para um terreno mais elevado.

O aquecimento global também aumenta a probabilidade de tempestades mais violentas e frequentes. Os cientistas preveem que ciclones como o Aila -que atingiu o país em maio de 2009 e gerou uma grande onda que rompeu os diques, inundou terras agrícolas ao redor de Koyra e deixou os Gazi e outras famílias sem meios de subsistência- podem se tornar mais comuns.

Mais de um milhão de pessoas em Bangladesh serão afetadas pelo aumento do nível do mar, segundo estimativas do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC na sigla em inglês). Até o final do século 21, a elevação oceânica deverá afetar 94 milhões de pessoas em terrenos baixos na Ásia.

Enquanto isso, há iniciativas para tornar a vida mais sustentável nos Sunderbans e adaptar-se às novas condições.

Organizações não governamentais estão ensinando os habitantes das áreas ameaçadas a cultivar peixes e camarões e engordar caranguejos retirados do manguezal. Um novo tipo de arroz e outras colheitas resistentes ao sal estão sendo introduzidas.

A Relief International do Reino Unido está treinando os moradores para coletar mel de maneira sustentável e forneceu capital para os pobres comprarem galinhas e carroças puxadas por bicicletas ou construirem pequenas oficinas, entre outros empreendimentos. Essas pequenas medidas podem melhorar a vida das vítimas de ciclones, mas sua sobrevivência ainda é precária.

A aldeia de Bainpura, no distrito de Dacope, nas Sunderbans, também foi devastada durante o ciclone Aila, que deixou milhares de pessoas morando em cabanas de palha ao longo dos diques.

Bainpura é tão isolada que chegar a um mercado leva meio dia a pé seguindo a margem instável do rio. Não havia abrigo contra ciclones na época do Aila. Em 2011, casas resistentes a ciclones foram construídas em Bainpura por um programa piloto financiado por agências de ajuda europeias e australianas e o Programa de Desenvolvimento da ONU, que se concentra em recuperação de tempestades.

As casas de um cômodo, projetadas pelo Instituto de Pesquisa de Habitação e Construção em Daca, têm fundações de concreto e paredes e teto com pequenos painéis solares. Elas oferecem certo conforto para a subsistência das famílias. Em um dia recente, enquanto um sonoro chamado à oração pairava sobre a aldeia, um bebê dormia pacificamente sob uma grande tela contra mosquitos.

Com a ajuda de ONGs locais financiadas por doadores como a União Europeia, estão surgindo hortas em Bainpura, uma façanha, considerando-se o terreno arenoso. Os desalojados pelos ciclones contaram com agências de ajuda para obter água potável durante dois anos depois que as lagoas foram invadidas por água salgada. Novos poços foram cavados e cada casa tem uma cisterna com base de concreto para recolher água da chuva. Um abrigo para ciclones de vários andares está quase pronto. Apesar de Bainpura continuar vulnerável, ela está melhor preparada para a próxima tempestade.

Alam teve sorte de se mudar para uma das novas casas resistentes a ciclones. Mas ele apontou para além de um arrozal, onde centenas de cabanas eram visíveis sobre um dique distante. "Eles também precisam de ajuda."


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