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New York Times

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Indígenas encontram novos desafios em cidades

Por TIMOTHY WILLIAMS

MINNEAPOLIS - Nada da criação que recebeu em uma remota reserva indígena no norte de Minnesota preparou Jean Howard para sua apresentação à vida urbana, durante uma visita a Minneapolis oito anos atrás: um tiroteio, seguido da visão das pessoas correndo em todas as direções.

"Eu disse: 'Não vou viver aqui. Isso é loucura'", lembra.

Mas Howard voltou, participando de uma constante e geralmente despercebida migração em massa de indígenas americanos para centros urbanos, o que modificou tanto as reservas quanto as cidades.

Mais de 70% dos indígenas e nativos do Alasca vivem em áreas metropolitanas, segundo dados do Censo americano. Em 1970, esse número era de 45%. Em 1940, de 8%.

Números recentes do Orçamento mostram que o dinheiro federal não acompanhou a migração. Somente cerca de 1% dos gastos do Serviço de Saúde Indígena vai para programas urbanos. As cidades, com seus problemas de orçamento, também deixam de suprir suas necessidades.

Uma consequência da mudança para as cidades foi a proliferação de gangues de jovens indígenas, que imitam os bandos afro-americanos e latinos e às vezes formam parcerias com eles, segundo o FBI e relatórios policiais locais.

A migração vai ao cerne da questão de se as mais de 300 reservas indígenas dos Estados Unidos são um imperativo ou um obstáculo para os nativos americanos, um debate que remonta ao século 19, quando o sistema de reservas foi criado pelo governo federal.

Independentemente de onde estejam, os indígenas vivem na pobreza em maior proporção do que qualquer outro grupo, em um índice que é quase o dobro da média nacional. Dados do Censo mostram que 27% de todos os nativos americanos vivem na pobreza, comparado com 25,8% dos afro-americanos, que são o segundo maior grupo, e 14,3% dos americanos em geral.

Em Minneapolis, mais de 45% vivem na pobreza.

"Nossa população já enfrentou todos esses problemas no passado", disse Jay Bad Heart Bull, presidente e principal diretor do Instituto de Desenvolvimento da Comunidade Nativa Americana, uma agência de serviço social em Minneapolis. "Mas é mais fácil se perder na cidade. É mais fácil desaparecer."

Apesar da pobreza crescente, muitos veem Minneapolis como um símbolo de progresso. A população indígena da cidade, cerca de 2% do total, é mais integrada do que na maioria das outras áreas metropolitanas. Lá existem serviços sociais e programas de treinamento legal e profissional voltados especificamente para eles.

A cidade tem um membro da Câmara de Vereadores que é nativo americano, Robert Lilligren, uma deputada estadual, Susan Allen, e uma chefe de polícia, Janee Harteau, que é mestiça. Mas a vida urbana trouxe problemas sociais conhecidos, como alcoolismo e alto desemprego, juntamente com outros menos habituais, como racismo, uso de heroína e bandos de rua violentos.

Clyde Bellecourt, cofundador do Movimento Indígena Americano, que vive em Minneapolis e participa de várias organizações sociais, disse que, apesar da pobreza, as cidades tendem a oferecer maiores oportunidades aos nativos americanos.

"Não é ruim aqui", disse. "Eles vêm para cá, recebem treinamento profissional e não querem voltar para a reserva."

No centro de uma experiência para conter o ciclo de pobreza, está o Little Earth of United Tribes [Pequena Terra de Tribos Unidas], o único projeto habitacional público dos EUA que dá preferência a indígenas americanos.

O projeto oferece uma série de serviços, desde aconselhamento pessoal e aluguel de bicicletas a terapia de casais e um centro para adolescentes que ajuda com a lição de casa.

O morador típico é uma mãe solteira. O índice de desemprego, mais de 65%, é ligeiramente melhor que nas reservas pobres como Pine Ridge, na Dakota do Sul.

O presidente do projeto habitacional, Bill Ziegler, disse que veio de uma reserva em 2004 com sua mulher e cinco filhos pequenos. Em seis meses, segundo ele, houve cinco homicídios praticados por gangues. Em um fórum em 2007, ele perguntou aos pais se eles acreditavam que seus filhos se formariam no segundo grau. Nenhum se formou, disse.

"Nós esperamos que os meninos entrem para as gangues e as meninas engravidem", explicou. "Eu lhes disse: 'Nossos filhos estão fazendo o que se espera que eles façam'."

Sua solução foi oferecer programas e reforçar a segurança.

"Quando falamos sobre mudança, não estamos caçando vampiros -não há uma bala de prata", disse ele.

"É como os caçadores lakota derrubando um búfalo. Não era com um tiro. Era uma série de flechas que levavam ao sucesso."


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