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Arte digital demanda criação de novas formas de restauro

Por MELENA RYZIK

As pinturas desbotam e as esculturas lascam. Os restauradores de arte sabem há muito tempo como reparar essas imperfeições materiais. Mas quando uma obra baseada na web se torna tecnologicamente obsoleta, a atualização de um software resolve o problema? Ou a peça é fundamentalmente modificada?

Esse foi o enigma com o qual se deparou o Museu Whitney de Arte Americana, em Nova York, que, em 1995, tornou-se uma das primeiras instituições a adquirir uma obra de arte feita na internet. Criada pelo artista Douglas Davis, "A Primeira Sentença Colaborativa do Mundo" funcionava como um blog, permitindo que os usuários acrescentassem frases. A peça atraiu 200 mil contribuições de todo o mundo de 1994 a 2000.

Em 2005, a obra trocou de servidor e seu programador também mudou. Mas, quando os curadores do Whitney decidiram ressuscitar a obra, em 2012, ela não funcionou. Antes inovadora, "A Primeira Sentença Colaborativa do Mundo" passou a travar os navegadores com seu código rudimentar e links desatualizados.

Ao tentar restaurar a obra, o que foi finalmente concluído no final de maio, o Whitney encontrou um desafio exclusivo da arte digital: seus 1s e 0s se degradam muito mais rapidamente que a arte visual tradicional, e as exigências de manutenção são maiores.

"Estamos trabalhando em turnos que se revezam constantemente", disse Rudolf Frieling, curador de artes da mídia no Museu de Arte Moderna de San Francisco, que está na vanguarda da manutenção de arte on-line. "Qualquer hardware, plataforma ou dispositivo que estejamos usando hoje não estará aqui amanhã."

No Whitney, uma equipe de programadores e curadores passou mais de um ano discutindo e ensaiando a restauração. Davis, hoje com 80 anos, não estava disponível para reconstruir sua obra. "Uma das maiores questões filosóficas", disse Christiane Paul, curadora-adjunta de novas mídias no museu, "era: deixamos esses links partidos, como um testamento à web e seu rápido desenvolvimento?".

Muitos artistas, curadores e mecenas hoje estão reconsiderando se essa arte deve permanecer inalterada, disse Pip Laurenson, diretor de pesquisa de manutenção de acervo na Tate Gallery, em Londres. "Não lidamos mais com o modelo em que o museu adquire algo para seu acervo e tenta consertá-lo conforme a época em que a obra foi adquirida ou quando saiu do ateliê do artista."

Depois de muita deliberação, os curadores decidiram por uma solução quase inédita: duplicar a instalação de Davis e apresentá-la em suas formas original e atualizada. Uma versão é o original congelado, com o código partido e instruções para usuários que quiserem enviar suas contribuições por fax. "A ideia é que seja uma espécie de cápsula do tempo", disse Ben Fino-Radin, arquivista digital que ajudou a reconstruir a obra.

Em 1995, a obra de Davis foi exibida em uma bienal na Coreia do Sul, que foi visitada pelo célebre videoartista Nam June Paik.

Ela recebeu centenas de comentários em coreano, mas o código dos caracteres estava tão degradado, que Fino-Radin não conseguiu restaurá-lo. Se isso um dia for possível, ver essas mensagens "será uma estreia para o público ocidental", disse ele.

Na última década, especialistas do New Art Trust, da Tate Modern em Londres e dos museus de Arte Moderna de Nova York e San Francisco iniciaram o consórcio Matters in Media Art [Questões em arte-mídia], que se dedica a estudar a obsolescência da arte digital.

"Grande parte das primeiras web artes hoje está desaparecendo", disse Paul.

Segundo ela, a proliferação da cultura on-line e a próxima revolução tecnológica, seja esta qual for, tornarão ainda "mais desafiadora" a preservação desses momentos visionários.


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