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New York Times

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'Ninho humano' ganha destaque como arte

Por PENELOPE GREEN

BIG SUR, Califórnia - Feito com ramos de eucalipto, o ninho se projeta da lateral de um penhasco que dá para a rodovia Pacific Coast. Ele parece um redemoinho de gravetos pousado sobre quatro colunas cheias de nós. O vento norte atravessa os espaços entre os galhos, as estrelas são visíveis a partir da entrada circular e ouvem-se elefantes-marinhos rugindo, como numa canção de ninar.

O ninho foi projetado e construído por Jayson Fann para o resort Treebones, em Big Sur. O pernoite custa US$ 110, e o lugar está sempre reservado. Já houve casamentos celebrados no ninho e, como não poderia deixar de ser, bebês concebidos nele.

De casulos new age e brinquedos nos quintais de ricos até instalações públicas feitas da madeira de árvores derrubadas por furacões, passando por objetos de arte contemporânea, os ninhos humanos estão ganhando destaque.

O sul-africano Willem Hefer (conhecido como Porky) era diretor criativo da agência de comunicações de marketing Ogilvy & Mather and Bozell, mas se tornou designer de ninhos. Ele já levou suas criações para feiras de design, como a Design Miami/Basileia, a Collective.1, em Manhattan, e a Design Days, em Dubai.

Chee Pearlman, consultor de design e curador, considera que os ninhos humanos são "provavelmente o mais puro antídoto aos rastros de aço e concreto que estão tomando conta do planeta".

Para ele, os pré-humanos nasceram em ninhos, e, no passado, nós, humanos, éramos bons em construí-los. Os grandes macacos, como chimpanzés e chimpanzés pigmeus, ainda constroem ninhos complexos e belos.

Alguns artistas adoram ninhos. O maior expoente dessa forma é o criador de instalações itinerantes Patrick Dougherty, cujos redemoinhos de paus e gravetos já foram embutidos nas paisagens de instituições culturais pelo mundo afora. Cinéticos e de aparência animada, eles são feitos de materiais vegetais locais e projetados para se degradarem com o tempo, como moitas de capim seco numa planície aberta.

Artistas cênicos vivem "propondo" o ninho humano. Em março, o artista inglês Gareth Wynne Fitzpatrick construiu um ninho como fazem as aves -ou algo parecido.

Ele usou equipamentos de escalada para ficar pendurado do teto da galeria Mediamatic, em Amsterdã, para criar um enorme e complexo globo de vime, tomando o cuidado de empregar os mesmos nós usados pelos tecelões (aves). Fitzpatrick, 40, comentou que não pode usar os ninhos que criou (esse foi seu segundo). "A não ser que você saiba voar, eles são inacessíveis", escreveu em e-mail.

Hefer, 45, começou a construir ninhos depois que se cansou da carreira publicitária. Ele era fã de Buckminster Fuller e da "Shelter", a bíblia contracultural dos anos 1970 da construção "faça você mesmo", e era um observador atento dos estilos de construção indígenas de seu país. Ele já criou ninhos de vime tecidos por cegos, ninhos feitos das cordas plásticas que envolvem contêineres de navios e ninhos de pneus reciclados e restos de couro. Seu ninho de couro foi vendido por US$ 17 mil a um piloto da Fórmula Um que o viu na feira de arte de Basileia.

O artista e músico Roderick Wolgamott Romero constrói ninhos desde meados da década de 1990, quando construiu o primeiro como projeto de arte e o suspendeu de uma árvore de nove metros de altura em Olympia, em Washington. Em 2004, durante a instalação de um ninho de arte de 900 quilos no Museu de Arte Moderna de Tacoma, em Washington, Romero passou uma noite naquele primeiro ninho que fez na vizinha Olympia, acordou no meio da noite pensando ainda estar no museu e caiu no chão.

Embora tenha quebrado a coluna, desde então ele já criou mais ou menos duas dúzias de outros ninhos, incluindo um para um projeto de Laurie Anderson, na Suíça, um ninho comunitário num jardim em East Village, em Nova York, e um ninho de US$ 70 mil para o filho de um rico executivo de Los Angeles. Em maio, no Jardim Botânico do Brooklyn, ele construiu um ninho com madeira recuperada de árvores derrubadas em outubro pelo furacão Sandy. É um trabalho mais pesado que as estruturas delicadas que ele geralmente produz.

Recentemente, Romero, 48, refletiu sobre a pergunta eterna sobre o que veio antes, a galinha ou o ovo. Sua resposta: "O ninho, é claro".


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