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New York Times

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Empréstimos não regulados preocupam China

Atividade bancária paralela corresponde a 69% do PIB

Por DAVID BARBOZA

XANGAI - As propostas começaram a surgir em junho nos celulares de chineses endinheirados, prometendo acesso a produtos de gestão de capitais com dividendos bem superiores aos da caderneta de poupança do governo.

"O Banco Mercantil da China vai emitir um produto de financiamento com juros elevados entre 28 e 30 de junho", dizia uma das mensagens. "O produto será de 90 dias, com taxa de juros de 5,5%. Por favor, ligue agora para nós." No dia seguinte, outra mensagem dizia que o rendimento havia sido elevado para 6%.

As ofertas partem de alguns dos maiores bancos chineses. Eles estão angariando uma enorme carteira de capitais para financiar um novo setor altamente lucrativo: os empréstimos fora do escrutínio das autoridades reguladoras do sistema bancário.

A complexa forma pela qual eles conseguem conceder créditos fora dos seus balanços contábeis é algo que está no coração do setor bancário paralelo da China, um negócio de US$ 6 trilhões que o governo está tentando domar.

Os esforços para conter práticas creditícias questionáveis abalaram as Bolsas do mundo todo no final de junho.

Os reguladores bancários -e vários economistas, autoridades e investidores- temem que os bancos estejam usando produtos mal regulamentados para maquilar velhos empréstimos e amparar companhias de risco.

Analistas alertam que o sistema bancário paralelo está contribuindo para uma rápida expansão do crédito em uma economia que está perdendo força: o que pode levar a quebras bancárias. "Essa é a maior incerteza que já vi nos 18 anos em que acompanho o mercado chinês", disse Dong Tao, do CreditSuisse.

O governo tolerou, até agora, o sistema bancário paralelo porque se livrar dele é praticamente impossível, segundo analistas. Os clientes ricos estão acostumados a receber dividendos melhores, e um grande segmento da economia está desesperado por capital e não consegue acesso fácil aos empréstimos bancários regulares. Mas esse grupo está disposto a pagar juros de 9%, 10% ou até 15% aos bancos paralelos.

Para que isso seja possível, os bancos da China estão reunindo carteiras de capital e criando instrumentos financeiros cada vez mais complexos.

Os líderes chineses estão tão preocupados com o risco dessas operações que, em junho, o banco central da China endureceu o crédito no mercado interbancário, em que os bancos tomam dinheiro emprestado de outros bancos. A medida fez com que os juros de curto prazo disparassem.

Praticamente todos os grandes bancos chineses venderam algum produto de gestão de capitais de curto prazo que precisaria ser concluído até o final de junho, segundo uma pesquisa telefônica. Muitos dos investimentos pagam juros anuais de 6%, o que é bem acima da maior taxa para cadernetas de poupança definida pelas autoridades bancárias: 3,3%. Os empregados dos bancos insistem que o capital principal fica garantido, mas os contatos geralmente são vagos, simplesmente observando que pode haver risco.

Grande parte do dinheiro, segundos analistas, é emprestada a incorporadores imobiliários e a veículos de financiamento de governos locais, áreas que causam preocupação às autoridades, por causa da explosão da atividade imobiliária e da valorização do preço das moradias. Bancos regulamentados não concedem esses empréstimos porque os credores são considerados excessivamente de risco.

"Os bancos agora têm essas carteiras de capital obscuras", disse Hoe Zhang, ex-banqueiro de investimentos. "Para financiar as transações, eles geralmente têm uma companhia fiduciária como intermediária e simplesmente colocam o seu carimbo."

No final do ano passado, a atividade bancária paralela na China já equivalia a 69% do PIB nacional, segundo relatório divulgado pelo JPMorgan Chase. Agora, até bancos estatais estão fazendo empréstimos paralelos, ampliando o financiamento para companhias em setores de alto risco.

A maior preocupação é que uma grande empresa quebre, causando prejuízo aos clientes dos bancos. "Muitos desses empréstimos são de apenas três meses e precisam ser rolados. Então, se houver um calote, isso poderia mudar as coisas", disse DingShuang, analista do Citigroup em Hong Kong.


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