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New York Times

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Lente

A casa dos sonhos pode, afinal, não trazer felicidade

Quase cinco anos após o derretimento econômico global, a economia americana parece estar se recuperando. É hora, pelo visto, de que a loucura imobiliária recomece.

Em Manhattan, onde o preço médio dos apartamentos meses atrás era de US$ 1,425 milhão, os juros baixos e a renovada confiança dos compradores fortaleceram as vendas e reduziram os apartamentos disponíveis ao seu menor número em mais de uma década, criando uma demanda que não pode ser atendida. Tudo voltou: a corrida dos compradores nervosos, os preços mais altos e um frenesi familiar.

"Anúncios colocados numa janela ou na internet são saudados por uma onda de compradores desesperados e de ofertas frenéticas", escreveu Elizabeth Harris no "New York Times". "Quase com a mesma rapidez que aparecem, esses anúncios somem."

Aspirantes a compradores estão ficando desanimados com a lotação de interessados nos imóveis em exposição, são incapazes de cobrir os lances de terceiros ou são rejeitados por vendedores que exigem pagamento à vista (para quem tem mais ou menos US$ 1 milhão parado na conta bancária).

Quem está determinado a permanecer no jogo e vencer, escreveu Harris, está sendo levado ao extremo. O professor de matemática Michael Munn voltou às pressas para a cidade, no meio das suas férias, para ver um apartamento recém-anunciado. "Todo mundo me alertou de como a coisa poderia ficar emocional", disse Munn ao "Times". "Mas essa é uma emoção completamente diferente. Ficou muito maníaca."

Ele perdeu o apartamento. Outro interessado pagou mais.

Como a casa própria é considerada parte essencial do sonho americano, pouca gente no passado chegou a proferir a pergunta de US$ 1,425 milhão: vale a pena?

Isso começou a mudar, não só em Nova York, mas em todo o país.

"Um crescente número de pesquisas sugere que gastar dinheiro em imóveis não necessariamente significa investir em contentamento", disse uma reportagem do "Times". "O conselho convencional de restringir férias, refeições em restaurantes e outros extras para poupar dinheiro para uma casa pode, na verdade, ser prejudicial à felicidade."

Um dos motivos é que muitas das pessoas que compram sua "casa dos sonhos" se descobrem despreparadas para o tempo e o dinheiro que a propriedade exige.

Elizabeth Dunn, professora-associada de psicologia da Universidade da Columbia Britânica, disse ao "Times" que há poucos indícios de que a casa própria leve à felicidade pessoal. Um pequeno estudo de 2011 na Escola Wharton, da Universidade da Pensilvânia, entrevistou 600 mulheres de Ohio e concluiu que as proprietárias de imóveis não eram mais felizes que as que moravam de aluguel.

Um estudo feito na Alemanha entre 1991 e 2007 com mais de 3.600 pessoas que se mudaram para uma casa nova mostrou que elas experimentavam alguma melhora no contentamento nos primeiros cinco anos, mas não ficavam mais satisfeitas a longo prazo. Na verdade, pesquisas sobre gastos indicam, na última década, que a compra de bens materiais, como imóveis e carros, traz menos felicidade geral do que gastos em experiências, como noitadas com amigos e viagens.

Escolhas como essas seriam consideradas luxos por muitos dos que foram atingidos pela crise econômica. Um editorial do "Times" no mês passado colocou de forma clara: "Mais de 50 mil nova-iorquinos dormiram nos albergues para sem-teto e nas ruas da cidade ontem à noite. Cerca de 21 mil eram crianças".

Na Espanha, onde milhares foram despejados de seus lares desde o início da crise, ocupar apartamentos vazios se tornou uma tática de sobrevivência. Rafael Martín Sanz, presidente de uma imobiliária em Sevilha, disse que o significado de "procurar imóvel" mudou. "A piada é que metade das pessoas que visitam apartamentos postos no mercado estão na verdade só escolhendo quais apartamentos eles querem ocupar", disse ele ao "Times".

PETER CATAPANO

Envie comentários para nytweekly@nytimes.com


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