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New York Times

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Perseguição a cães de grande porte aterroriza Pequim

Polícia fiscaliza antiga proibição e gera protestos

Por ANDREW JACOBS

PEQUIM - Com sua desgrenhada pelagem louro-avermelhada e um fraco por cenouras cozidas, o barulhento golden retriever Dou Dou, 6, dificilmente seria identificado como um inimigo público número um.

Mas, no mês passado, sua inequívoca figura começou a aparecer em cartazes de "Procura-se" por Pequim inteira.

A polícia estava à caça desse e de outros caninos fugitivos como parte de uma campanha que está levando medo aos corações dos moradores de Pequim.

"Eu me sinto vivendo em um daqueles filmes de guerra em que os comunistas ficam procurando japoneses e ameaçando acabar com eles", disse a mulher que se considera mãe adotiva de Dou Dou. "Como pode o governo ser tão cruel?"

O governo municipal há muito tempo proibiu dezenas de raças grandes na maior parte da capital. Mas, ultimamente, essa proibição tem sido fiscalizada com zelo, alarmando proprietários de animais que consideravam as restrições extintas.

A polícia, frequentemente com base em denúncias de vizinhos, tem realizado revistas noturnas em casas, e muitos cães estão sendo arrancados dos seus assustados proprietários.

Quem tem condições está enviando seus cachorros para canis fora da cidade, e outros mantêm seus animais escondidos dentro de casa. "Não estou a fim de entregar um dos meus cachorros sem armar uma briga", disse Huang Feng, 30, que é dono de um pet shop e tem especial predileção por raças grandes e pesadas.

"O que está acontecendo é criminoso."

A polícia diz estar simplesmente cumprindo uma antiga proibição à presença de cães com mais de 35 centímetros de altura na região central de Pequim. As autoridades observam que a raiva matou 13 pessoas no ano passado em Pequim, mais do que o dobro do que em 2011. Cachorros grandes, argumenta a polícia, são incompatíveis com a vida urbana.

As autoridades, aparentemente preocupadas com a reação popular, estão apagando críticas feitas na internet à medida. No mês passado, uma mulher foi detida após descrever como policiais mataram um golden retriever a pontapés na frente do dono. A polícia depois divulgou nota dizendo que a mulher admitiu ter inventando a história, uma afirmação recebida com ceticismo.

Ativistas dos diretos dos animais dizem que muitos dos cães apreendidos provavelmente vão parar nas mãos de comerciantes de carne canina.

Há anos, as ONGs dessa área tentam convencer a polícia de que maior não necessariamente quer dizer mau.

Em vez de perseguir cães grandes, dizem os ativistas, o governo deveria priorizar a vacinação antirrábica e exigir o uso de coleiras. Estimular as pessoas a castrar os animais também teria um efeito calmante sobre os cães, segundo eles.

Uma mulher descreveu como coloca o despertador para tocar às 2h, quando leva seu labrador para rápidas caminhadas. Outra mulher não permite mais que seu husky de dois anos se aventure para fora de casa. Em vez disso, ele se alivia na varanda do apartamento dela, depois que escurece.

Uma designer de 25 anos, que pediu para ser identificada apenas com o sobrenome Gao, espera que a campanha termine logo. No mês passado, um esquadrão policial varreu seu bairro com redes e armadilhas metálicas.

Desde então, ela não sai mais de casa para trabalhar, traumatizada pela visão de uma dúzia de cães não autorizados, ensanguentados e choramingando, sendo atirados a uma jaula na caçamba de um caminhão.

"Toda vez que batem à porta meu coração para", disse ela. "Simplesmente não entendo por que as pessoas acham que cachorros grandes são uma ameaça. Meu cachorro pode ser grande, mas não faz mal a uma mosca."


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