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New York Times

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Controles em Chipre alimentam temor sobre fim do euro

"O euro cipriota não é igual ao euro de Frankfurt"

Por ANDREW HIGGINS

NICÓSIA, Chipre - Em uma visita a Atenas neste ano, Marios Loucaides, empresário de Chipre, viu um apartamento do qual gostou e decidiu comprá-lo. Ele disse ao proprietário que faria a transferência do dinheiro da compra quando voltasse ao seu país -o preço era 170 mil euros (cerca de R$ 510 mil).

Então Loucaides descobriu que os euros que tinha em Nicósia, a capital, não poderiam ser enviados para a Grécia, apesar de os países terem a mesma moeda e, pelo menos na teoria, o mesmo compromisso com a livre movimentação de capitais.

O negócio do apartamento fracassou, assim como a crença de Loucaides de que a Europa tem uma moeda comum. Resultado das restrições que condicionaram parte do socorro aos bancos cipriotas em dificuldades em março, € 1 em Chipre não é mais o mesmo € 1 que na França, na Alemanha ou na Grécia.

Os controles de capital, que já foram uma ferramenta usada com frequência por governos em tempos de crise, tornaram-se raros na Europa.

Com um PIB de cerca de US$ 23 bilhões e em declínio, Chipre é uma pequena fração dos US$ 9,5 trilhões da economia da zona do euro. Mas também é o primeiro país a usar o euro para restringir o fluxo de capitais, levantando uma questão crucial: será que, na verdade, a ruptura da zona do euro já começou -algo que os líderes europeus lutam para evitar há três anos, com reuniões de cúpula frequentes em Bruxelas e uma série de pacotes de socorro de bilhões de euros?

O presidente de Chipre, Nicos Anastasiades, acredita que sim. "Na verdade, já estamos fora da zona do euro", disse.

As regras da União Europeia, consagradas em 1992 no Tratado de Maastricht, proíbem restrições ao movimento de capital, mas as medidas de Chipre foram endossadas pelo Banco Central Europeu e pelo braço executivo da UE, a Comissão Europeia, como essenciais para evitar que o dinheiro deixasse o país. Questionados, o BCE não quis comentar sua decisão e as autoridades de Bruxelas disseram que continuam comprometidas em manter o euro uma moeda única.

Entretanto, muitos especialistas financeiros dizem que Chipre fez uma "saída silenciosa e oculta" do euro, como Guntram B. Wolff, diretor do grupo de pesquisas Bruegel, de Bruxelas. "O euro de Chipre não é mais igual ao euro de Frankfurt."

Os controles de capital adotados em março foram relaxados.

Dentro de certos limites, indivíduos e empresas hoje podem fazer transferências para o exterior e entre bancos em Chipre. As transferências de mais de 500 mil euros por uma empresa -e 300 mil euros por indivíduo- exigem a aprovação do Banco Central. Ainda é proibido descontar cheques ou abrir uma nova conta a menos que haja uma anterior no mesmo banco.

Os indivíduos não podem sacar mais de 300 euros por dia, enquanto o limite para as empresas é de 500 euros. Cartazes nos aeroportos advertem os passageiros de que é ilegal levar mais de 3.000 euros para fora do país.

Essas regras se acrescentam ao custo das transações, efetivamente reduzindo o valor do euro em Chipre.

"Nosso € 1 parece € 1, mas não é realmente € 1", disse Alexandros Diogenous, executivo-chefe da Unicars, empresa de Nicósia que importa carros feitos pelo grupo Volkswagen na Alemanha.

Exemplo disso, para Diogenous, é a ampla diferença das taxas de juros. "Eu pago 7,75% nos empréstimos a longo prazo, mas meus parceiros na Alemanha pagam de 3% a 4%", disse.

Mas essa questão é cada vez mais acadêmica: a maioria dos bancos de Chipre parou de conceder empréstimos.

Esse problema ligado ao euro em Chipre "desafia a própria essência de uma área de moeda comum", afirma Harris Georgiades, o novo ministro das Finanças do país. Ele disse que pretende suspender todas as restrições até o fim do ano.

Mas remover as restrições em um país onde ninguém confia nos bancos provavelmente causaria uma enxurrada de dinheiro para fora do país e o colapso de todo o sistema bancário, segundo o economista Theodore Panayotou, diretor do Instituto Internacional de Administração de Chipre.

Panayotou acredita que, ao destacar Chipre do resto da zona do euro, as autoridades europeias estão testando o que acontece quando a moeda comum deixa de ser realmente comum.


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