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New York Times

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Sírios enfrentam mais hostilidade no Egito

Após queda de Mursi, refugiados são perseguidos

Por SARAH MOUSA e KAREEM FAHIM

CAIRO - Os egípcios estão começando a ficar contra os refugiados sírios a quem outrora acolheram bem, e diante disso, muitos deles optaram por passar menos tempo em público ou ir embora para o Líbano, a Turquia e a Jordânia, exacerbando a crise regional de refugiados.

Outros estão se arriscando com contrabandistas e fugindo de barco para a Itália, segundo defensores dos refugiados. E centenas de sírios já foram presos e deportados.

A mudança de comportamento chegou dias após a deposição do presidente Mohammed Mursi pelos militares egípcios. Naquele 3 de julho, dezenas de homens com porretes e facas invadiram uma entidade beneficente que atende refugiados sírios.

"Vocês, sírios, estão ateando fogo no país", gritavam os agressores enquanto batiam em Raqan Abulkheir, sírio de Homs, na região central do país. Ele dirige o centro para refugiados de um apartamento em um subúrbio do Cairo, onde milhares de sírios se instalaram. Seu filho, de 25 anos, levou diversos golpes na cabeça e ficou em coma.

Em dois anos e meio de guerra civil na Síria, mais de 2 milhões de pessoas fugiram do país, a maioria para Jordânia, Líbano e Turquia. Mas até 300 mil foram bem acolhidos no Egito, inclusive por Mursi e seus aliados islâmicos, que apoiavam abertamente a rebelião contra o ditador Bashar al-Assad.

"As pessoas aqui nos apoiavam", disse o cineasta Mohamed Taher, do norte da Síria. "Os egípcios faziam o que podiam para ajudar os sírios. Eles saíam do seu caminho para fazerem mais."

Mas, à medida que crescia a insatisfação popular com Mursi, que levou à sua deposição, os sírios passaram a ser vistos como aliados dele. E, junto com outros estrangeiros, foram transformados em bodes expiatórios quando os militares tomaram o poder e alertaram sobre complôs externos para desestabilizar o Egito.

Um ex-parlamentar defendeu que os sírios e outros estrangeiros fossem executados. Um apresentador de TV pediu que os "homens de verdade" entre os sírios "voltem para o seu país e resolvam seus problemas lá".

A ascensão do nacionalismo foi repentina, e chocante. Mohamed Abazid, 28, refugiado da região de Deraa, no sul da Síria, começou a ficar com medo ao ver panfletos sendo distribuídos. "Meu irmão egípcio, minha irmã egípcia", diziam os papéis, "lutem contra a ocupação síria e defendam seus empregos".

Nas últimas semanas, alguns apoiadores proeminentes do novo governo elogiaram publicamente os militares de Assad, numa reviravolta chocante para os refugiados que se sentiam seguros no Egito como dissidentes.

Depois da agressão, Abulkheir voltou a trabalhar e ele disse que seu filho se recuperou depois de levar 40 pontos na cabeça. Outros refugiados afirmaram não enfrentar problemas, mas histórias como as de Abulkheir os deixam nervosos.

Depois que o governo apoiado pelos militares assumiu o poder no Egito, os refugiados sírios foram obrigados a ter vistos, o que provocou uma corrida desesperada pelo registro de refugiados do Alto Comissariado para Refugiados da ONU (Acnur).

Porém, um número crescente deles está cancelando seu documento de refugiados, em um sinal de que pretendem sair do país. De acordo com o porta-voz do Acnur, Edward Leposky, cerca de 820 refugiados deram baixa nos registros em agosto.

Em um subúrbio do Cairo, um sírio chamado Mamoun, oriundo de Damasco, se recuperava de facadas que levou de um homem dentro de um ônibus, depois de pedir a algumas pessoas que parassem de fumar. O esfaqueador o acusou de pertencer à Irmandade Muçulmana, o partido islâmico de Mursi.

"O Egito era um país calmo. Agora, não há nenhum país calmo na região."

No bairro Cidade 6 de Outubro, do qual uma parte passou a ser conhecida como Pequena Damasco, os refugiados dizem que a hostilidade oficial amplificou as frustrações dos egípcios com as suas próprias dificuldades econômicas.

"Meus vizinhos egípcios dizem: 'Vocês estão pegando nossos empregos, estamos fartos de vocês'", disse uma mulher da região de Ghouta, perto de Damasco. Ela disse que mudou o jeito de se vestir e de falar para se tornar menos identificável como síria. "As pessoas que vieram para cá já estavam abaladas", disse ela.


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