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New York Times

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Cardápios exibem luxo de refeições em navios

Por KATE MURPHY

HOUSTON, Texas - Esta é uma história de amor, alto mar e comida. Nossa improvável heroína é Norma Beazley, que decididamente não tem nada de romântica ou de sentimental para a maioria das coisas, mas amolece quando fala do seu marido, Herbert, nosso igualmente improvável herói.

O advogado Herbert Beazley morreu em 2001, mas suas roupas continuam penduradas no armário que dividia com a mulher. Também seguem intocados os cinco gaveteiros com milhares de cardápios antigos de navios de passageiros, compradosdurante o casamento de 30 anos. A coleção remonta ao final do século 19, e documenta mais de um século de cozinha marítima.

"Não sei de ninguém mais que tenha colecionado os cardápios", disse Richard Faber, comerciante de antiguidades marítimas em Nova York, que chegou a vender itens para Beazley. "Ele tinha olho bom e gastava muito dinheiro comigo."

Se estava num navio, Beazley provavelmente colecionou listas de passageiros, plantas de conveses, cinzeiros, lençóis, pratos, flâmulas, escotilhas. Em 2011, Norma doou 19 mil peças ao Museu dos Marinheiros, em Newport News, na Virgínia. Mas manteve os cardápios do marido consigo.

"Adoro cozinhar e sou meio amante da comida", contou ela, por isso Herbert considerava essa uma forma de justificar o dinheiro que ele gastava em suas coleções marítimas.

Praticamente o único grande navio de passageiros que não está representado na coleção é o Titanic. Por razões óbvias, os menus dele são raros de encontrar. Um deles foi leiloado em 2012 por US$ 102.508 (R$ 225.517).

Para os passageiros de primeira classe durante a era dos navios oceânicos, de 1910 a 1960, as opções eram impressionantes. Em navios como o Normandie e o Mauretania, o jantar podia ter 12 itens, com oito a dez opções para cada uma.

"Não vejo como seria possível ir de Nova York para a Europa sem ganhar 20 libras [cerca de 9 kg]", disse Norma, olhando o cardápio de um jantar de 1935 no navio Normandie que oferecia três tipos de consomê, seis tipos de presunto e cinco opções de sorvete.

Os atuais navios de cruzeiro oferecem uma fartura que pode ir ainda além, com bufês 24 horas. Mas, quando as pessoas usavam os navios para chegar a algum lugar, em vez de apenas passear preguiçosamente, as refeições eram mais requintadas e orquestradas, com assentos reservados e garçons recrutados nos mais finos hotéis da Europa.

Os itens do cardápio também eram mais sofisticados: caviar beluga gelado, sopa clara de tartaruga verde, mousseline de couve-flor e filés de cervo à la Nérac.

Além dos cardápios, Norma também localizou as receitas e preparou muitos dos pratos, para alegria do seu marido, um entusiasmado gourmand.

"É preciso lembrar que as refeições eram o ponto alto do dia no meio do oceano", disse Norma, que esteve em 15 cruzeiros com Beazley, inclusive no navio Queen Elizabeth 2 e Achille Lauro, sequestrado em 1985 e que naufragou após um incêndio em 1994.

O glamour daquela era fica evidente na arte dos cardápios mantidos por Norma. As linhas de navegação costumavam encomendar a artistas a criação de capas originais para os menus de cada refeição servida.

Hoje em dia, há alternativas ao refeitório principal, e elas custam um extra. Mas os cardápios não são nada comparáveis, digamos, àqueles dados a Grace Kelly em 1956, quando ela atravessou o Atlântico no SS Constitution, a caminho de se casar com o príncipe Rainier, de Mônaco.

Entre as escolhas à disposição dela estavam ovas de peixe com manteiga de limão, no menu do almoço, e medalhão de foie gras de Estrasburgo, para o jantar. "É uma era perdida", disse Norma. Mas deliciosa de recordar.


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