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New York Times

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Ex-espião norte-coreano escreve suas memórias

Por CHOE SANG-HUN

SEUL, Coreia do Sul - Em 1995, dois agentes norte-coreanos se esgueiraram para a Coreia do Sul de barco em uma missão para trazer de volta um espião comunista que estivera trabalhando no Sul durante 15 anos. O espião tinha recebido instruções para esperar em um templo em Buyeo, disfarçado de monge budista.

Mas lá não havia nenhum monge. "Em vez disso, havia um velho de jeans desbotado", disse um dos agentes, hoje conhecido como Kim Dong-sik, em uma entrevista em Seul no mês passado. "Eu só descobri muito depois que o homem era na verdade um dos vários agentes da contraespionagem da Coreia do Sul que esperavam para me apanhar."

Quando percebeu que a missão iria fracassar, Kim considerou suas opções: resistir à captura ou tomar cianureto.

Mas, em vez disso, fugiu sob tiros. Kim foi capturado mais tarde naquele dia com um ferimento de bala. Seu colega foi morto dois dias depois. Dois policiais também morreram. "Eu não fiquei feliz por estar vivo, pois sabia que minha família sofreria porque eu decidi viver", disse Kim.

Antes saudado como herói comunista, Kim se tornaria um traidor para a Coreia do Norte. Sua família no Norte, incluindo uma filha que teria 21 anos, se estiver viva, desapareceu em um expurgo. Hoje ele vive no Sul sob pseudônimo.

Sua história, detalhada no livro "No One Reported Me" [Ninguém me delatou], fornece uma rara visão da guerra de espiões, muitas vezes letal, que as Coreias travam há décadas.

Muitos conservadores disseram que o livro é evidência do esforço incansável da Coreia do Norte para derrubar o Sul.

Kim, hoje com 51 anos, foi recrutado na escola de treinamento de espiões da Coreia do Norte em 1981. Mais tarde, foi indicado para um escritório de inteligência que deveria se infiltrar na Coreia do Sul para recrutar espiões e "reforçar o potencial de revolução no Sul".

Em maio de 1990, ele e um colega deixaram Nampo a bordo de um barco disfarçado de pesqueiro japonês e pararam na China para apanhar suprimentos antes de entrar em águas internacionais. Lá, os agentes seguiram em um submersível até a ilha sul-coreana de Jeju.

A dupla atuou no Sul durante cinco meses, enviando relatórios codificados para Pyongyang, usando rádios escondidos por agentes anteriores. À meia-noite, um locutor da Rádio Pyongyang lia suas instruções em uma série de números. Kim e seus chefes usavam o texto de um romance popular para decifrar as respectivas mensagens.

Os agentes retornaram a Pyongyang de submersível, carregando um recruta, presentes e uma mulher norte-coreana que tinha atuado como agente no Sul durante dez anos.

Kim e seu colega receberam o título de Heróis da República, a mais alta honraria no Norte. Mas, cinco anos depois, nada saiu como planejado. Em 1995, o sonho de uma revolução socialista estava em declínio entre os dissidentes sul-coreanos.

A Coreia do Norte também não percebeu que o agente que deveria ter-se disfarçado de monge tinha sido preso logo depois de sua chegada ao Sul em 1980.

Durante 15 anos, autoridades sul-coreanas posaram no lugar do agente.

Depois da captura de Kim, ele passou por quatro anos de interrogatórios antes de entrar para o comando de contrainteligência do Sul.

Ele tem motivos para temer. Em 1997, ajudou a identificar o assassino de um importante desertor norte-coreano -Lee Han-young, parente de Kim Jong-il, o líder norte-coreano que morreu em 2011- como um ex-colega.

Kim disse que sua maior preocupação foi que a exposição de sua identidade pudesse chamar a atenção para seus dois filhos e sua mulher sul-coreana.

"Escrevi minhas memórias para que meus filhos a leiam quando tiverem idade suficiente para entender quem foi seu pai", disse.

"Às vezes, penso que minha vida parece um filme. Eu gostaria que tivesse sido apenas isso."


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