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New York Times

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Gregos processam a Alemanha por crimes do nazismo

Por SUZANNE DALEY

AMIRAS, Grécia - Ao avançar pelas aldeias desta região de Creta, em 1943, soldados alemães mataram 400 homens em represália a um ataque a um posto avançado. Entre eles, estava o pai de Giannis Syngelakis. Ele, que tinha então sete anos, ainda busca retratação.

Ao pedir uma indenização à Alemanha, ele reflete um movimento crescente na Grécia, alimentado não apenas por problemas históricos mas também pelo ressentimento sobre o atual poder da Alemanha de impor a austeridade orçamentária. "Talvez alguns de nós não tenham pago impostos", disse Syngelakis. "Mas isso não é nada, comparado ao que eles fizeram."

O governo do primeiro-ministro Antonis Samaras compilou um relatório sobre reparações de um empréstimo nunca reembolsado que a Grécia foi obrigada a conceder sob a ocupação nazista, de 1941 a 1945. Mas não está claro se o governo vai pressionar a Alemanha por essa questão.

Alguns analistas políticos estão em dúvida, afinal, o país contribuiu mais que qualquer outro para o pacote de socorro aos gregos. Outros acreditam que as reivindicações poderão pelo menos servir como barganha quando a Grécia e seus credores discutirem maneiras de reduzir o enorme peso da dívida.

Durante sua última visita a Atenas, em julho, o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, disse: "Precisamos examinar exatamente o que aconteceu na Grécia". Mas ele insistiu que a Grécia havia desistido de seus direitos sobre a questão há muito tempo.

As estimativas de quanto dinheiro está em jogo variam.

O número discutido com maior frequência é US$ 220 bilhões, calculados somente pelos danos à infraestrutura.

Esse valor equivale a cerca da metade da dívida do país.

Mas alguns membros do Conselho Nacional sobre Reparações, grupo de defesa civil, pedem mais de US$ 677 bilhões para cobrir os artefatos roubados, os danos à economia e à infraestrutura, assim como o empréstimo bancário e reivindicações individuais.

A ocupação alemã da Grécia foi brutal. A Alemanha requisitou alimentos do país mesmo quando os gregos passavam fome. No final da guerra, cerca de 300 mil haviam morrido por desnutrição.

Depois da guerra, a Grécia pouco recebeu em indenizações, assim como outros países. Os aliados se concentraram na reconstrução da Alemanha. Alguma propriedade alemã foi expropriada, mas muitas alegações foram simplesmente adiadas até que as Alemanhas oriental e ocidental pudessem se reunir.

Quando esse momento chegou, a União Europeia estava implementada, a Alemanha contribuía mais para o orçamento do bloco do que recebia de volta e, segundo alguns especialistas, os livros estavam fechados. (A Alemanha pagou enormes indenizações a Israel em nome do povo judeu em geral.)

Mas alguns grupos na Grécia defendem que a Alemanha ainda deve para vítimas como Syngelakis. E outros, que hoje olham para trás, acreditam que a Alemanha tenha sido perdoada com muita facilidade na época e deveria ser mais generosa hoje, na hora de necessidade da Grécia.

Alguns casos individuais chegaram aos tribunais gregos, incluindo um que representou as vítimas de um massacre em Distomo em 1944. Os alemães assolaram a aldeia, destripando mulheres grávidas, matando bebês a baioneta e incendiando casas, segundo testemunhas. Advogados de Distomo ganharam um julgamento de US$ 38 milhões na Grécia. Mas o governo grego nunca deu permissão para que propriedades alemãs na Grécia fossem confiscadas como forma de cobrar a dívida.

Especialistas dizem que é altamente improvável que a Alemanha queira rever as questões de indenizações com a Grécia, já que outros países provavelmente fariam reivindicações semelhantes. Mas alguns acreditam que a Grécia tenha chances de receber pagamento pelo empréstimo bancário.

"O que é incomum nesse empréstimo é que há um contrato escrito", disse Katerina Kralova, autora de "In the Shadow of Occupation: The Greek-German Relations During the Period 1940-2010" [À sombra da ocupação: as relações greco-germânicas durante o período 1940-2010]. "Em outros países, os alemães simplesmente pegaram o dinheiro."

Questionados sobre o relatório de 80 páginas, funcionários do Ministério das Relações Exteriores grego disseram que a Grécia não tem a intenção de misturar reivindicações de guerra com a atual situação financeira. Mas disseram que seus pedidos de indenização ainda são válidos.

Para os que sobreviveram ao massacre de Amiras, uma pobreza esmagadora se instalou. Syngelakis disse que sua mãe às vezes procurava raízes comestíveis para alimentar os filhos.

"Na época, eles nos destruíram com armas", disse Syngelakis, com a raiva ainda evidente. "Hoje eles o fazem financeiramente."


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