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New York Times

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Geografia greco-romana é tema de exposição

Por JOHN NOBLE WILFORD

Compreender o tamanho e a forma do Mundo já era um desafio para os gregos e os romanos da Antiguidade. As abordagens diferiam: os filosóficos gregos mediam o mundo pelas estrelas. Os romanos, construtores de estradas, por marcos terrestres.

Como escreveu o geógrafo grego Estrabão na época: "Podemos aprender, pelas evidências de nossos sentidos e por nossas experiências, que o mundo habitado é uma ilha, pois sempre que os homens puderam chegar aos limites da terra encontrou-se mar, que chamamos de 'Oceanus'. Sempre que não pudermos aprender pela evidência dos sentidos, a razão apontará o caminho".

As palavras de Estrabão receberão os visitantes de uma nova exposição, "Medindo e Mapeando a Ciência: Conhecimento Geográfico na Antiguidade Greco-romana", no Instituto de Estudos do Mundo Antigo em Nova York, até 5 de janeiro. A exposição reúne mais de 40 objetos que dão uma visão geral do pensamento geográfico greco-romano -arte e cerâmica, assim como mapas baseados em textos clássicos.

Quase não sobreviveram mapas originais. Os da exposição foram criados na Idade Média e no Renascimento a partir de descrições gregas e romanas.

"A geografia não é só mapas", disse a curadora convidada, Roberta Casagrande-Kim. "Também há o lado cognitivo subjacente ao mapeamento", disse ela.

Platão escreveu sobre Sócrates ter dito que o mundo é grande e que aqueles que vivem entre Gibraltar e o Cáucaso -em seu imaginário- vivem "em uma pequena parte dele perto do mar, como formigas ou rãs perto de um lago, e que muitas outras pessoas vivem em muitas outras regiões parecidas".

Um dos primeiros avanços no pensamento grego foi a descoberta por Aristóteles, na segunda metade do século 4° a.C., de que o mundo devia ser esférico. Ele se baseou em observações de eclipses lunares, na forma que navios desapareciam no horizonte (primeiro pelo casco) e na mudança do campo estelar conforme se viaja para o norte ou para o sul.

Depois Eratóstenes, bibliotecário em Alexandria no século 3° a.C., empregou a nova geometria para medir o tamanho do mundo com ângulos simultâneos da sombra do sol tomados em locais muito distantes no Egito. Isso produziu uma medida notavelmente precisa da circunferência da Terra: ficou claro que o mundo que eles conheciam -Ásia, Europa e África- era apenas uma parte de terras desconhecidas.

Tanto os gregos quanto os romanos identificaram o frígido Círculo Ártico, o hemisfério setentrional temperado, o tórrido Trópico de Câncer, a zona temperada ao sul e o Polo Sul.

Na parede da primeira galeria está projetada uma réplica do mapa de Peutinger, com cerca de sete metros de comprimento e mais de 50 cm de altura, para ilustrar como o mapeamento romano era ao mesmo tempo prático e magnífico. Ele mostra as estradas, cidades, portos e fortes do império, da Grã-Bretanha à Índia. Desenhos de árvores marcam as florestas na Alemanha. A topografia é mínima, as estradas têm largura fora de escala, as cidades são indicadas por muros ou torres simbólicos.

Uma antiga cópia do mapa veio à luz no século 17 e foi propriedade durante anos de Konrad Peutinger, diplomata dos Habsburgo e colecionador de mapas. Hoje está na Biblioteca Nacional da Áustria, em Viena. Richard J. A. Talbert, historiador da Universidade da Carolina do Norte, concluiu que o mapa, provavelmente criado no início do século 4°, pode ter sido feito para impressionar os súditos e os convidados do imperador.

O mais influente dos antigos gregos foi Cláudio Ptolomeu, o mais destacado estudioso da biblioteca de Alexandria no século 2°.

A "Geografia" de Ptolomeu forneceu ampla informação sobre localizações de antigas terras e cidades, permitindo que os cartógrafos do Renascimento preparassem os primeiros mapas razoavelmente modernos, o estilo mapa-múndi que foi seguido durante os séculos seguintes.

Até os erros de Ptolomeu foram importantes. Em vez de usar a estimativa mais precisa de Eratóstenes sobre o tamanho da Terra, Ptolomeu defendeu uma séria subestimativa, que mais tarde levou Colombo a pensar que, navegando para oeste, poderia chegar à China ou ao Japão.

Mas ele alcançou a terra que ficou conhecida como Índias Ocidentais -mais ou menos na distância que Ptolomeu o havia levado a esperar, mas sem um "Grande Khan" à vista.

Então talvez não seja coincidência que a redescoberta da geografia greco-romana tenha promovido a era de exploração ocidental. Depois de 1492, houve novos mundos a ser mapeados. Em dois séculos, lembram-nos as notas da exposição, "a primazia do antigo conhecimento geográfico e as convenções de mapeamento chegaram ao fim".

Novas descobertas e tecnologias haviam tornado obsoleta a geografia greco-romana. Mas sua influência ajudou a formar o modo como ainda vemos o mundo.


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