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New York Times

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Presidente Taft seguia regime moderno

Por GINA KOLATA

Há um século, William Howard Taft, o único obeso a ter sido presidente dos EUA, lutou tremendamente para controlar seu peso, preocupado com sua saúde e com sua imagem. Uma nova pesquisa descobriu que o programa que ele seguiu para isso foi surpreendentemente contemporâneo.

Seguindo os conselhos de seu médico, um famoso guru do emagrecimento, Taft seguiu um regime de baixas calorias e baixo teor de gordura. Evitava comer entre as refeições. Anotava cuidadosamente tudo o que comia e se pesava diariamente. Contratou um personal trainer e andava a cavalo para se exercitar. Escrevia a seu médico, Nathaniel E. Yorke-Davis, duas vezes por semana para mantê-lo a par de seu progresso.

Taft estava à frente de seu tempo. A obesidade tornou-se um problema médico em meados do século 20, mais ou menos na mesma época em que se passou a usar comumente o termo "obesidade" no lugar de "corpulência", segundo Abigail C. Saguy, da Universidade da Califórnia em Los Angeles.

Como muitas pessoas que fazem regimes hoje, Taft, que media 1,80 metro, perdia peso e o recobrava, tendo flutuado entre mais de 158 quilos e 115. Tinha 48 anos quando procurou pela primeira vez o doutor Yorke-Davies e passou os 25 anos restantes de sua vida correspondendo-se com ele e consultando outros médicos em seu esforço para perder peso.

A luta de Taft é relatada pela historiadora da medicina Deborah Levine, do Providence College, em Rhode Island. Suas descobertas foram publicadas recentemente em "The Annals of Internal Medicine".

Levine comentou que a história do ex-presidente "esclarece muito sobre aquilo pelo qual estamos passando hoje".

Considerada com frequência uma consequência de nosso estilo de vida sedentário e do fast food, a obesidade é motivo de preocupação há mais de cem anos.

Especialistas em obesidade comentaram que a experiência de Taft destaca como é difícil para as pessoas perderem peso e manterem a nova medida e também quão pouco se avançou até hoje na descoberta de uma combinação de alimentos que possa levar à perda de peso permanente.

"Talvez estejamos procurando algo que não existe", aventou David B. Allison, da Universidade do Alabama. Hoje, os médicos provavelmente proporiam a Taft uma cirurgia para perda de peso ou medicamentos, que exercem efeito pequeno, na melhor das hipóteses. Mas o regime alimentar que foi recomendado ao presidente seria quase o mesmo hoje, disse Allison.

Deborah Levine se interessou pela história de Taft quando leu artigos de jornais antigos mencionando que o então presidente estava seguindo as orientações do médico Yorke-Davies para perder peso. Ela encontrou as cartas trocadas pelos dois na Biblioteca do Congresso.

Yorke-Davies era conhecido por criar planos alimentares pessoais e rígidos. Numa relação médico-paciente mantida exclusivamente através de cartas, ele aconselhou Taft a perder de 27 a 36 quilos. Em abril de 1905, seis meses depois de escrever ao médico pela primeira vez, Taft tinha perdido 27 quilos.

Mas, embora as pessoas lhe dissessem que sua aparência estava ótima, ele escreveu ao médico que sentia "fome constante". Quando Taft chegou à Presidência, em 1909, pesava 160 quilos. Tinha 127 quilos quando morreu, em 1930.

Especialistas em obesidade dizem que o caso de Taft chama a atenção por ser tão atual. Pesar-se diariamente e manter um diário de alimentação constituem "os princípios básicos da mudança comportamental", disse Kimberly Gudzune, da Universidade Johns Hopkins em Baltimore, Maryland.

Algo que chamou sua atenção e a de outros foi o fato de Taft sentir fome constante.

O Dr. Jules Hirsch, da Universidade Rockefeller, em Nova York, disse que perder peso e manter a perda assinala ao corpo que ele está privado de alimento. Ele constatou o fato em seus próprios estudos pioneiros, décadas atrás. Neles, obesos concordaram em viver num hospital enquanto seguiam uma dieta, até alcançar um peso normal. Mas sofriam fome extrema e quase todos acabaram recuperando o peso perdido às custas de tanto sofrimento. "Um de nossos instintos mais importantes é o de combater a fome", disse Hirsch.


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