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New York Times

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Argentina prenuncia problemas para América Latina

Este artigo é de autoria de Jonathan Gilbert, Simon Romero e William Neuman.

BUENOS AIRES - Em cidades de toda a Argentina, os saques ocorridos em dezembro -depois que policiais entraram em greve em protesto contra os salários corroídos pela crescente inflação-, os apagões que deixaram a população sufocada durante uma recente onda de calor e a desvalorização mais acentuada do peso desde o colapso econômico do país, em 2002, têm suscitado temores de uma nova crise financeira.

"Nos anos 1980, houve momentos difíceis, mas nunca foi tão ruim como agora", disse Irma Herrera, 80, psicóloga aposentada, depois que o governo anunciou que facilitaria a compra de dólares para os argentinos em meio à convulsão financeira.

"Não vou comprar dólares se a minha pensão mensal nem é suficiente para comprar comida", disse Herrera.

A Argentina se tornou símbolo das tensões econômicas crescentes nos países em desenvolvimento. Há temores de que a demanda por produtos de base, as commodities, esteja enfraquecendo em lugares como a China, desaceleração que pode ameaçar os países em desenvolvimento, como a Argentina.

Ao mesmo tempo, a perspectiva de obter melhores retornos para investimentos nos Estados Unidos está tirando dinheiro dos países em desenvolvimento, provocando uma queda nas moedas de lugares como Turquia, Rússia e África do Sul, entre outros.

No Brasil, a indústria automobilística está se preparando para os problemas que afligem a Argentina, um de seus maiores mercados de exportação. No entanto, além das forças internacionais que estão em jogo, os balanços financeiros têm chamado a atenção para os desafios específicos de algumas das economias mais vulneráveis da América Latina.

"O que está acontecendo em toda a América Latina é que a região está se aproximando do fim de um ciclo de sucesso dos produtos de base", disse Francisco Rodríguez, economista do Bank of America Merrill Lynch. "Alguns países são mais vulneráveis do que outros, e as Venezuelas e as Argentinas do mundo são definitivamente mais vulneráveis".

O governo venezuelano anunciou uma desvalorização parcial e novos controles cambiais.

Várias companhias aéreas dizem que o governo venezuelano não está permitindo que elas transfiram 3,3 bilhões de dólares em receitas dos bancos do país para o exterior.

Elas temem que o valor desse dinheiro, que ainda está em moeda local, possa diminuir.

Além disso, o governo da Venezuela impôs novos limites sobre os dólares que ele promete vender aos cidadãos que vão viajar ao exterior, com um limite de 700 dólares por viagem para a Flórida e 2.500 dólares por viagem para outras partes dos Estados Unidos.

"Isso é uma loucura", disse Antonio Miglio, 42, empresário que viaja para Orlando, na Flórida, todo ano com a família para ir às compras. "O governo tomou essa decisão por causa da crise econômica, mas isso só vai tornar a crise ainda pior."

Na Argentina, o generoso gasto social despendido depois da crise ocorrida em 2002, que envolveu o congelamento das taxas de energia elétrica residencial e pagamentos a famílias pobres, aumentou o deficit do país. O governo intensificou a impressão de dinheiro, alimentando a inflação.

Economistas independentes dizem que a inflação chegou a 28% em 2013, embora as autoridades digam que ela ficou em 10,9%.

De acordo com o Fundo Monetário Internacional, a economia da Argentina deverá crescer 2,8% neste ano, uma queda significativa. Como o governo nacionalizou as empresas, muitas pessoas tentaram levar o dinheiro para fora do país.

Para evitar esse êxodo, as autoridades têm tentado restringir o acesso a moedas estrangeiras. Com uma queda de quase 20% no valor do peso em apenas uma semana, o governo disse recentemente que iria permitir que as pessoas comprassem dólares com maior facilidade.

O ministro da Economia descreveu a mudança como uma resposta à "psicose" nos mercados financeiros da Argentina.

"O governo está tentando encontrar uma maneira de sair da confusão em que se enfiou", disse Fausto Spotorno, economista da Orlando Ferreres y Asociados, em Buenos Aires. "Mas temos muitas outras coisas a fazer, como combater a inflação".

Recentemente, as ruas do centro de Buenos Aires estiveram agitadas, mas calmas, sendo que o clima de humor negro era mais frequente do que os sinais de pânico. "Ótimo, podemos comprar dólares agora", disse Nicolás Titaro, 61, tesoureiro de uma empresa. "Só precisamos de salários que nos deem condições de fazer isso."

Outros argentinos se perguntavam se haveria um novo período de turbulência econômica.

"Aqui é sempre a mesma coisa, uma crise a cada dez anos", disse Marcelo Rosales, 50, que trabalha como segurança. "O governo não vai assumir o custo político de lidar com isso. Ele está só tapando buracos do jeito que dá."


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