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New York Times

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Cresce hostilidade entre China e Japão

Antiga rivalidade pode impactar economia mundial

Por ANDREW ROSS SORKIN

DAVOS, Suíça - A hostilidade entre a China e o Japão pode estar perto de eclodir. Um alto executivo presente ao recente Fórum Econômico Mundial em Davos chegou a descrever a relação entre os dois países como uma "guerra travada na surdina".

As implicações disso para a economia global -e para algumas das maiores empresas multinacionais- são profundas. China e Japão representam as segunda e terceira maiores economias do mundo, depois dos EUA, e cada um está entre os maiores parceiros comerciais do outro.

"Falei com cerca de 40 CEOs de empresas americanas aqui, e esse problema foi citado em mais de metade dessas conversas", comentou Ian Bremmer, cientista político que fundou o Eurasia Group, empresa de consultoria em riscos políticos. "O principal comentário foi que a questão China-Japão é muito mais problemática do que pensávamos. Existe a possibilidade real de isso prejudicar concretamente o comércio e as duas economias."

No fórum, o premiê do Japão, Shinzo Abe, disse que o relacionamento de seu país com a China se encontra em "situação semelhante" à relação entre Alemanha e o Reino Unido antes da Primeira Guerra Mundial.

Wu Xinbo, reitor de uma universidade chinesa e pessoa vista como tendo relação próxima com a liderança chinesa, descreveu Abe como "encrenqueiro" e, em dado momento, traçou uma comparação pouco evidente entre ele e o ditador norte-coreano, Kim Jong-un. "Tenho que admitir que a confiança política entre os dois países está baixíssima neste momento", disse Wu. Ele prevê que "as relações políticas entre os dois países vão continuar frias, até congeladas, nos anos restantes da administração Abe ".

Os problemas entre a China e o Japão perduram e provocam ressentimentos há muito tempo, especialmente porque Abe procurou reescrever a Constituição japonesa e reforçar as Forças Armadas, há muito tempo consideradas unicamente defensivas.

As tensões se agravaram quando, em novembro, a China irritou o Japão ao declarar uma zona de identificação de defesa aérea sobre uma cadeia de ilhas no mar da China Oriental cujo controle é disputado pelos dois países. E cresceram ainda mais depois de Abe fazer uma visita ao santuário Yasukuni, onde são lembrados os mortos japoneses na guerra, entre os quais figuram vários criminosos de guerra executados após a derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial. A visita ofendeu muitos chineses.

De acordo com a Pew Research, apenas 1 em cada 20 japoneses "tem atitude positiva em relação à China" e "o sentimento anti-Japão é muito forte na China, onde 90% do público tem uma opinião desfavorável do Japão".

As tensões mais recentes estão tendo um impacto econômico direto: os japoneses estão investindo menos na China.

Bremmer expressou o problema sem rodeios: "Os chineses descartaram Shinzo Abe como alguém com quem possam potencialmente trabalhar. Não sentem a menor confiança nele. Pensam que Abe é hostil a eles".

Abe procurou minimizar as sugestões de que as tensões possam conduzir a um conflito militar. "O Japão jurou que nunca mais travará uma guerra", disse em seu discurso. "Nunca deixamos de desejar que o mundo esteja em paz e vamos continuar a fazê-lo."

Mas não foi isso que muitos dos executivos e reguladores que assistiram à sua apresentação deduziram das declarações do premiê. "Quando eu voltar para casa, vou pedir a nossas equipes na China e no Japão uma análise completa dos riscos ao nosso negócio", comentou em tom aparentemente preocupado o CEO de uma empresa que faz parte da lista "Fortune 500". "Talvez este problema devesse ter estado no meu radar antes. Mas agora, em todo caso, está."

Qual é o maior risco? "A possibilidade de um erro em que alguém seja morto está aumentando", disse Bremmer. "Todos os dias eles sobrevoam o mar da China Oriental em seus caças."

E os mal-entendidos podem se agravar. "O que é mais problemático é que a consequência de algum erro pode ser que cada país desconfie ativamente das intenções do outro, sem um mecanismo para dialogar realmente e sem que os americanos atuem como intermediários", disse Bremmer.


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