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New York Times

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Após crise, Alemanha cogita aumentar sua presença na política internacional

Por ALISON SMALE

MUNIQUE - Líderes alemães vêm defendendo um novo argumento: é hora de seu país adotar uma voz mais vigorosa nos assuntos mundiais, chegando a sugerir que a Alemanha deixe de evitar algumas participações militares, como fez na Líbia quase três anos atrás.

A chanceler Angela Merkel ainda não manifestou sua posição, e não está claro até que ponto o público alemão está disposto a aderir a uma postura mais assertiva. Mas vários políticos seniores vêm pedindo que seja repensado o papel do país. O que os move é, em parte, a preocupação com as diversas crises, desde a Ucrânia até a África, mas também a inquietação em relação à força da parceria da Alemanha com os Estados Unidos, após as revelações sobre espionagem americana, e em relação à crescente relutância das autoridades americanas em assumir a liderança nas intervenções.

Foi o presidente Joachim Gauck quem transmitiu o sinal mais forte, até agora, sobre uma possível mudança de direção com um discurso que fez no final do mês passado na Conferência de Segurança de Munique, encontro anual que reúne líderes mundiais e especialistas em defesa.

Gauck disse que o passado nazista e comunista da Alemanha não constitui desculpa para o país esquivar-se de seus deveres internacionais. Ele argumentou que a Alemanha atual -"a melhor que já conhecemos"- está bem consolidada como democracia e como parceira confiável, de modo que deve intervir no palco mundial de modo "mais substancial".

Sob a Constituição da Alemanha, o presidente não tem o poder de definir políticas, mas espera-se dele que oriente o debate público. Os ministros alemães da Defesa e do Exterior também já sugeriram a disposição de buscar uma política externa mais robusta.

Embora seja pouco provável que os ministros proponham tal mudança sem a concordância de Merkel, é possível que a chanceler esteja aguardando que outros políticos apresentem o argumento, para ver se a discussão ganha força.

Em seu discurso, Gauck, que foi pastor luterano na comunista Alemanha oriental, disse que reagir às demandas de um mundo em transformação acelerada é "o maior desafio de nossos tempos".

Sem citar a Líbia -a Alemanha se absteve em uma votação da ONU que endossou a intervenção militar nesse país em 2011 e se recusou a tomar parte na intervenção-, Gauck assinalou que esse comportamento não deve se repetir. Os ataques aéreos internacionais ajudaram a levar à deposição do coronel Muammar Gaddafi.

Tropas alemãs estão no Afeganistão desde 2001 e nos Bálcãs desde a década de 1990. Mas o país tem evitado qualquer outra ação militar, em parte porque a crise da zona do euro vem consumindo sua atenção. A França vem tendo papel mais ativo, incluindo o envio de tropas ao Mali.

Gauck disse ainda que a Alemanha não pode se conceder algum tipo de abstenção privilegiada, escondendo-se atrás da história ou simplesmente deixando de agir por comodismo. A nova ministra da Defesa alemã, Ursula von der Leyen, subiu ao pódio depois de Gauck e declarou: "A indiferença não é uma opção para a Alemanha".

Leyen se manifestou dias depois de ter dito à revista "Der Spiegel" que a Alemanha talvez envie mais soldados para reforçar a presença francesa no Mali, cuja finalidade é impedir a desintegração de um país que vem se tornando uma base crescente de militantes islâmicos.

Recentemente, o ministro do Exterior, Frank-Walter Steinmeier, manifestou-se em relação a outra disputa, reiterando a exigência de que o presidente da Ucrânia cumpra suas promessas aos manifestantes que buscam estreitar laços com a Europa.

Norbert Röttgen, membro do partido conservador de Angela Merkel e chefe do comitê de assuntos exteriores do Parlamento alemão, disse em entrevista que o novo tom se deve a vários acontecimentos, como a guerra na Síria e o conflito na Ucrânia, além das vastas operações de coleta de informações realizadas pela Agência de Segurança Nacional dos EUA, que incluíram o grampeamento do celular de Merkel.

A desilusão com os Estados Unidos é aguda em todo o espectro da elite política alemã. Particularmente entre os alemães que se posicionam há anos ao lado dos EUA, "a decepção é profunda", comentou um jornalista alemão destacado, Georg Mascolo. De acordo com vários especialistas, a ideia de que o maior aliado da Alemanha pudesse espionar sua pupila mais devotada abalou a elite, instigando-a a agir.

Röttgen disse que o novo tom surgiu "à medida que surge a consciência de que a Europa não se encontra em muito boa forma" e que se espera mais de seu país mais forte.

Não está claro se a nova postura vai resultar em mudanças concretas importantes. Mas Washington parece ter reagido positivamente. O secretário de Defesa americano, Chuck Hagel, saudou a promessa de Leyen de assumir um papel maior na África, e os dois concordaram que ela deve fazer uma visita ao Pentágono.


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