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New York Times

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Carne enlatada ganha afeição coreana

Muito depois da guerra, ração militar Spam permaneceu

Por CHOE SANG-HUN

SEUL, Coreia do Sul - Com a aproximação do Ano Novo Lunar, no final de janeiro, os moradores cada vez mais abastados de Seul limpavam das prateleiras os alimentos normalmente servidos em ocasiões especiais, como vinhos importados, carnes finas, chás de ervas raras e...Spam.

Sim, a carne gelatinosa acondicionada na conhecida lata azul e amarela que, pelo menos nos Estados Unidos, é conhecida como um produto barato e de baixo nível culinário (no Brasil, é chamada de "viandada" ou "presuntada"). Mas, na vibrante economia sul-coreana, os tijolos rosados de carne suína e presunto adquiriram glamour e ganharam o afeto das pessoas.

"Aqui, Spam é um presente chique que se dá às pessoas queridas", disse Im So-ra, vendedora da elegante loja de departamentos Lotte, que exibia com orgulho caixas requintadas cheias de latas de Spam. A Coreia do Sul tornou-se o maior consumidor de Spam fora dos Estados Unidos, segundo o produtor local.

A viagem do produto desde o excedente de carne suína em Minnesota até o centro da mesa de jantar na Coreia do Sul começou em uma época de privação -pegando carona com os militares americanos durante a Guerra da Coreia e se tornando um artigo de luxo cobiçado nos anos de desespero posteriores, quando as tropas americanas ficaram para manter a paz.

"A única maneira de se conseguir carne era nas lojas PX", disse Kim Jong-sik, 79, veterano sul-coreano, referindo-se aos postos de correio do Exército americano. "Spam era um luxo disponível só para os ricos e bem relacionados."

Hoje pode ser fácil esquecer que a presença dos militares americanos durou décadas. A ampla base militar está diminuindo em deferência às sensibilidades coreanas. Até o bairro de Itaewon, que já foi um centro de bares para soldados, hoje é um bairro elegante com um toque mais internacional.

Mas o Spam continua sendo uma parte tão importante da vida culinária local que muitos jovens não têm ideia de sua origem, mesmo quando pedem "cozido militar", ou "budaejjigae". O prato às vezes é chamado de Cozido Johnson, em homenagem ao presidente Lyndon B. Johnson, que visitou a Coreia em 1966 e prometeu manter a ajuda econômica americana.

Os restaurantes especializados no cozido -que muitas vezes mistura Spam com o nativo "kimchi"- salpicam os becos das cidades. Algumas mães sul-coreanas apreciam a conveniência de abrir uma lata e servir um café da manhã de Spam frito com ovos.

Depois, há as caixas para presente, que ajudaram a aumentar em quatro vezes as vendas de Spam na Coreia do Sul na última década, atingindo US$ 235 milhões no ano passado. O produtor local, CJ Cheil Jedang, disse que lançou 1,6 milhão de conjuntos embalados para presente nesta temporada de fim de ano.

A atração do Spam ficou evidente em um recente comercial que mostrava astros do cinema e da TV. Nele, um homem faz um convite para um jantar romântico que sua namorada exigente não consegue recusar: que tal fatias de Spam fritas sobre uma tigela de arroz cozido?

Isso não quer dizer que todo mundo aqui adore Spam. Em um momento em que não há escassez de carne fresca e em que os alimentos orgânicos se tornaram uma obsessão nacional, alguns sul-coreanos desdenham o produto enlatado.

Kim, o veterano do Exército, lembra as dolorosas origens da popularidade do produto. "As crianças vasculhavam o lixo do Exército americano, recolhendo Spam, salsicha, hambúrgueres comidos pela metade, bacon e pão -qualquer coisa comestível- e as vendiam aos restaurantes", disse ele. O "budaejjigae" nasceu quando as pessoas limpavam os dejetos e os misturavam com "kimchi".

Kim e sua mulher hoje dirigem o Bada Sikdang, um dos mais populares restaurantes de "budaejjigae" em Seul.

Mesmo alguns coreanos que não se consideram grandes fãs disseram ter boas lembranças do Spam em sua infância.

Seo Soo-kyung, 40, disse que foi uma revelação quando seu cunhado americano pareceu chocado ao vê-la comprar Spam, dizendo-lhe que aquela era uma "comida lixo para os sem-teto nos Estados Unidos". Ela disse: "Para mim, Spam era apenas um alimento saboroso e conveniente que minha mãe preparava para nós".


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