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New York Times

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Beethoven or Björk? Você decide

Por ANAND GIRIDHARADAS

As pessoas à minha volta estavam pedindo música como eu peço um hambúrguer. "Vou pedir o Prokofiev", disse a pessoa número 12. "Que tal o Bach?" propôs a número dois. No Shuffle Concert, cada pessoa da plateia recebe um número. Se o seu número é chamado, você escolhe a próxima música que será tocada.

As obras musicais também são numeradas: teoricamente, o espectador número quatro poderia pedir a música número seis. Mas o público sabe evitar os números das músicas e fazer seus pedidos pelo nome do compositor. Para criar mais efeito, recomenda-se murmurar o nome casualmente, como se você e Stravinsky fossem amigos de longa data.

O objetivo do Shuffle Concert é criar uma porta para os ouvintes casuais ou esporádicos terem contato com a música erudita. O resultado: obras breves tocadas em sequência confusa, uma escolha própria para nossa era em que o tempo de atenção das pessoas é cada vez mais breve, e com a possibilidade de o público escolher, para uma época em que selecionar a dieta cultural está se tornando o direito de cada um.

Um homem jovial chamado Oded Naaman perguntava às pessoas que chegavam para o concerto, realizado no Brooklyn: "Você já participou antes?". Se a resposta era "não", ele explicava o funcionamento do Shuffle Concert. O menu de cada espectador contém um número escrito à mão, que é só daquela pessoa, e uma lista de 35 obras musicais de 15 categorias, desde B. G. Marcello, na categoria barroco, até Björk, na categoria pop/rock (a mistura de música contemporânea com clássica é um dos artifícios usados para atrair o público).

Se os músicos chamam seu número, você escolhe o que todos vão ouvir a seguir. O conjunto sabe tocar todas as 35 músicas.

Depois de passar tanto tempo tendo as decisões feitas por nós, tínhamos que aprender a escolher em pouco tempo. A pessoa sentada ao meu lado, Barbara Kalish, disse que tinha que escolher uma música com flauta doce, porque seu professor de flauta doce toca no conjunto.

Vendo que eu estava com dificuldade para escolher, Kalish perguntou: "Como você escolhe o que comer num restaurante?"

Isso me fez pensar qual seria o análogo, em termos de música clássica, a sempre pedir o que mais se aproximasse de carne vermelha. Kalish também recomendou: "Pense em você mesmo como outra pessoa."

Então um homem alto e barbado sentou-se em nossa fila. Ele tinha detectado minha incerteza e me disse para escolher o número nove no menu, o primeiro movimento da Sonata n° 8 em sol de Beethoven (Op. 30, n° 3), e o número 26, uma suíte de Stravinsky.Percebo agora que votei por ele, porque eu fui escolhido, e ele, não.

O conjunto subiu ao palco. Os músicos começaram tocando algo que eles próprios tinham selecionado e então deixaram a democracia correr solta. As escolhas da plateia atravessaram gêneros e eras -do compositor brasileiro do século 20 Antônio Carlos Jobim ao compositor barroco G.P. Telemann, do klezmer à ópera, passando pela Broadway.

Nós, o povo, para formar um concerto mais perfeito, pudemos escolher as músicas e a ordem em que elas foram tocadas, mas o repertório mais amplo estava fora de nosso controle. Mas quem esteve naquela sala naquela noite descobriu a tensão e o drama de nunca saber o que vai acontecer a seguir.

Para o artista, a entrega desse poder ao público pode ser estressante e instigante. Depois de um longo tempo sem tocar, o oboísta Hassan Anderson estava com medo de que sua palheta tivesse secado. Quando membros do público escolheram uma música em que ele tocaria, ele se pôs em pé, com um sorriso tão grande quanto é longo o oboé. "Vocês gostam de mim!", disse. "Vou poder tocar!"


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