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Ensaio - Michael Kimmelman

Arquiteto promove consciência social

O júri do prêmio Pritzker de arquitetura transmitiu uma mensagem clara neste ano ao escolher o japonês Shigeru Ban. O fato de o júri não ter escolhido uma mulher -após muitos e justificados protestos sobre sua indiferença histórica em relação às mulheres, e apesar do trabalho extraordinário de tantas projetistas- sugere que a mudança na arquitetura continua em ritmo glacial e precisa de um empurrão. Mas está acontecendo.

Ouça os alunos das faculdades de arquitetura, muitos deles ávidos por exercerem um impacto além de uma bolha de glamour minguante, na qual o estrelato deriva de ter projetado anexos de museus de arte ou megaprojetos no Qatar e em Dubai.

"Os jovens arquitetos parecem cada vez mais interessado no que eu estou fazendo", disse Ban. "Antigamente, todos queriam ser estrelas. Não é mais o caso."

Ao reconhecer a arquitetura socialmente consciente de Ban, o Pritzker confere um prestígio útil a esse trabalho.

Ban já criou alguns edifícios para clientes corporativos e culturais, incluindo uma filial do Centro Pompidou em Metz, na França, e uma nova sede da Swatch e da Omega em Biel, na Suíça. No entanto, ele também tem se concentrado em projetos para aqueles que não têm recursos para contratar um arquiteto. Ele insiste que a arquitetura deve recuperar seu papel histórico como um veículo não só de admiração e beleza, mas também de mudança social.

Como um pioneiro no uso de tubos de papel, entre outros materiais inovadores, ele ampliou a definição da arquitetura temporária e dos usos de materiais ambientalmente corretos. Ban disse certa vez sobre casas feitas com tubos de papel: "Um edifício de concreto e aço pode ser temporário. Ele pode ser demolido ou destruído por um terremoto. Mas o papel pode durar. É uma questão de amor. Se um edifício é amado, torna-se permanente."

Recentemente, ele me mostrou fotos de casas que ele fez a partir de contêineres para as vítimas do terremoto e do tsunami que atingiram o Japão em 2011, arrasando a cidade de Onagawa. Alegres, empilhadas em um campo em torno de minipraças onde eventos podem ser organizados, os contêineres temporários se tornaram tão populares que algumas famílias não querem deixá-los, disse ele.

"Seja trabalhando para um cliente particular ou criando uma casa para uma vítima do terremoto, seu projeto sempre tem algum problema a resolver. A única diferença é se você recebe pagamento ou não", disse.

Em Kobe, cidade japonesa atingida por um terremoto em 1995, Ban construiu com seu próprio dinheiro uma casa de papel tubular, para mostrar que ela funcionava e poderia ser erguida por qualquer pessoa. Ele então angariou dinheiro para a construção de dezenas de outras moradias para refugiados vietnamitas locais. E construiu uma igreja temporária de papel, que se tornou símbolo de resistência.

Quase 20 anos depois, tendo sido utilizada por uma década e então transferida para Taiwan, a igreja permanece em funcionamento, provando o argumento sobre longevidade e amor.

A linha de trabalho de Ban envolve não apenas preocupação social, elementos dançantes e projetos com méritos ambientais. Ele cita o mestre finlandês Alvar Aalto como um arquiteto "cujo trabalho era inseparável dos seus arredores, estética e funcionalmente".

O trabalho de Ban aponta para um respeito oportuno e crescente aos materiais à mão. No Sri Lanka, ele usou tijolos locais em vez de tubos de papel para uma aldeia varrida por um tsunami em 2004. Recentemente, Ban descreveu alguns novos materiais que ele está desenvolvendo para a habitação modular, os quais fábricas nos países em desenvolvimento "poderiam usar para reconstruir favelas, mas que também poderiam ser usados como moradia temporária após desastres", afirmou.

"Eu sempre lamento pelos médicos e advogados que trabalham apenas com pessoas em dificuldades, ao passo que os arquitetos conseguem trabalhar com pessoas que estão felizes por se mudarem para casas novas", disse. "Nós temos a responsabilidade de também trabalhar com pessoas que têm problemas, porque temos a oportunidade de lhes proporcionar algo bonito e confortável."


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