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New York Times

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Embargo afeta cinema em Cuba

Por VICTORIA BURNETT

CIDADE DO MÉXICO - Em termos de Hollywood, a mudança seria mínima. No entanto, para o cineasta cubano Miguel Coyula, acostumado a lidar com orçamentos pequenos, os US$ 5.200 (R$ 11.500) obtidos em um site de financiamento foram cruciais para fazer seu filme de ficção científica.

Com o dinheiro, angariado no site de financiamento Indiegogo, ele comprou equipamentos de iluminação, uma Steadicam e um tripé para seu filme, "Blue Heart" [Coração Azul].

O Indiegogo, porém, suspendeu a campanha em agosto e congelou o dinheiro após verificar que transferir fundos para Cuba ou para um residente cubano violaria o embargo econômico imposto pelos Estados Unidos.

"Foi como se puxassem meu tapete", disse Coyula. "Foi aí que percebi que estava realmente sozinho e o quanto é difícil fazer um filme em Cuba, pois tanto o governo cubano quanto o americano criam obstáculos."

Alexandra Halkin, diretora da Iniciativa para Mídia das Américas, disse que o financiamento coletivo havia aberto uma brecha -embora por breve tempo- em um país no qual há poucas fundações sem fins lucrativos para financiar as artes e escasso apoio do governo.

Como há fontes não americanas disponíveis, Cuba produz filmes em parceria com empresas de países como Espanha, França e México, ou com financiamento, por exemplo, da Ibermedia, um programa com patrocínio estatal da Espanha para financiar filmes latinos.

Mas ficou bem mais difícil obter dinheiro da Espanha devido à crise econômica. E os EUA seriam um "financiador natural" do cinema cubano, comentou Halkin, em vista da história partilhada dos dois países.

O cinema cubano mudou muito nos últimos anos. O papel do Estado diminuiu, a tecnologia digital viabilizou produções independentes e a internet abriu vias para o financiamento.

Um número crescente de filmes cubanos selecionados para festivais internacionais é feito com pouca ou nenhuma ajuda financeira de órgãos estatais.

Especialistas em cinema cubano dizem que o embargo está entravando o crescimento de um cinema cada vez mais independente do Estado e que apresenta com frequência uma reflexão realista da vida cubana ou ridiculariza o governo.

Filmes como "Pablo" (2012), de Yosmani Acosta, sobre a violência doméstica, e "Chamaco" (2010), de Juan Carlos Cremata, sobre a prostituição masculina, falam sobre temas debatidos nas ruas, mas raramente na mídia.

O filme "Memories of Overdevelopment" ["Memórias do Superdesenvolvimento"], feito por Coyula em 2010, tem uma cena em que o protagonista fala para uma bengala com cabeça de cão como se estivesse se dirigindo ao ex-ditador Fidel Castro.

"Minta mais para mim", diz. Em uma exibição em Havana, o público irrompeu em aplausos.

A lei americana determina que americanos só podem fazer um filme em Cuba como parte de um projeto de pesquisa. "É absurdo não termos legislação para produtores independentes", disse o diretor Esteban Insausti.

O fato é que a ameaça de ser alvo de um processo do Departamento do Tesouro e a enorme burocracia para obter uma permissão são suficientes para desencorajar muitas organizações.

Ubaldo Huerta, que geriu uma plataforma de financiamento coletivo, disse não acreditar que o embargo visava impedir os projetos. "Nós somos danos colaterais", ponderou.

Segundo especialistas, agora a indústria cinematográfica americana anseia por usar a ilha como locação e pelo contato com cineastas cubanos.

"Aqui nos EUA estamos impossibilitados de ter contato com jovens muito talentosos", disse Ann Marie Stock, diretora de estudos de cinema e mídia no College of William and Mary em Virgínia, autora de um livro sobre cinema cubano independente.

"Esses cineastas irão longe em suas carreiras, mas graças a empresas de produção espanholas e mexicanas, não a empresas americanas. Estamos perdendo oportunidades em termos econômicos e criativos."


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