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New York Times

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Restaurantes são envolvidos em polêmica com armas

Por KIM SEVERSON

CLEMSON, Carolina do Sul - Pete Matsko esperava uma ligeira reação negativa quando expôs um aviso sarcástico proibindo o porte oculto de armas no Backstreets Pub & Grill, sua lanchonete e cervejaria em Clemson.

Mas ele foi alvo de tantas agressões na internet e de tantos telefonemas ameaçadores que precisou trocar de número e pedir à polícia que abrisse sua correspondência. Uma nova lei sobre o porte oculto de armas em vigor na Carolina do Sul transformou esse pub em campo de batalha na guerra cultural nos Estados Unidos.

Como um crescente número de proprietários de bares e restaurantes, Matsko descobriu que suas posições políticas podem ser mais importantes do que os comes e bebes servidos aos clientes.

A mudança reflete tanto as divisões no país a respeito de questões sociais quanto a mudança no papel dos restaurantes e chefs.

Recusar-se a fazer um bolo para um casamento de homossexuais, pedir que uma mulher não amamente à mesa ou tentar impedir que um cliente porte uma arma são atitudes que podem ter sérias implicações para os negócios.

"É mais do que apenas cozinhar", disse David McMillan, da Associação de Restaurantes e Alojamentos da Carolina do Sul. "Precisamos ser especialistas em alergias e em nutrição, e agora especialistas na Segunda Emenda."

Algumas celebridades da gastronomia, como os chefs Alice Waters, Marcus Samuelsson e Jean-Georges Vongerichten, assumem o papel de ativistas da alimentação e agentes políticos, expressando-se abertamente e recebendo eventos de arrecadação.

Outros restaurantes contribuem com o debate social por meio de fundações polêmicas. O Chick-fil-A se tornou um alvo em 2012, quando a imprensa informou que sua fundação doou milhões de dólares a grupos que combatem os direitos dos homossexuais.

Os restaurantes não são mais apenas lugares para comer, disse Rich Harrill, da Escola de Gestão de Hotéis, Restaurantes e Turismo da Universidade da Carolina do Sul. Eles são substitutos da mesa de jantar familiar, proporcionando um fórum comunitário.

"É interessante que começamos a frequentar o Starbucks para ler o jornal e tomar café juntos, e agora estamos tendo uma discussão sobre armas lá", disse.

Harrill referia-se ao comunicado de Howard Schultz, o executivo-chefe da rede de cafés, no qual ele pedia aos donos de armas que não as levem às lojas.

A maioria dos donos de restaurantes quer evitar polêmica. Mas, nos Estados em fase de transição nas suas leis de porte de arma, isso se tornou um desafio.

Em fevereiro, a Carolina do Sul permitiu que as pessoas com porte levem suas armas escondidas a bares e restaurantes, assim como poucos Estados do sul. Clientes armados não podem consumir bebidas alcoólicas, e os restaurantes têm a opção de proibir a entrada de pessoas armadas no local.

Em um Estado com mais de 230 mil licenças de porte, a política teve forte apoio de muitos legisladores estaduais. Matsko, que tem duas pistolas, decidiu colocar um aviso em seu pub proibindo as armas. "Em algumas noites a garotada da faculdade lota isto aqui para beber. A gente não quer uma arma por aqui."

Ao ponderar sobre o assunto agora, ele disse que teria sido melhor usar o aviso oficial. O dele dizia: "Se você se é tão fracassado que sente a necessidade de carregar uma arma quando sai, não quero saber de você."

A frase é seguida de um termo pejorativo usado para designar uma pessoa repulsiva. O cartaz ficou lá por um mês, até as coisas explodirem em 17 de março.

Alguém postou uma foto do aviso de Matsko no Twitter. Foi colocada também na página do Facebook da Associação dos Proprietários de Fuzis AR-15 da América.

Os comentaristas das redes sociais questionavam o respeito de Matsko à Segunda Emenda da Constituição, que garante o direito ao porte de armas.

Alguns proprietários de restaurantes ainda estão tentando decidir o que fazer. Um deles é Sean Brock, chef com restaurantes na Carolina do Sul e em Nashville, no Estado do Tennessee.

Ele dorme ao lado de uma pistola 9 milímetros, mas não quer armas em seus restaurantes Husk. "É um pouco estranho para mim que alguém ache que precise portar uma arma quando está comendo um cheeseburger."

Ele foi pressionado a colocar um cartaz de proibição de armas pela organização Tennessee Livre de Armas nos Restaurantes, formada depois que o Estado aprovou leis semelhantes às da Carolina do Sul, em 2009.

A entidade mantêm uma lista pública dos estabelecimentos que permitem e proíbem armas. Caso Brock não o fizesse, ameaçou fazer protestos na porta de seu restaurante.

A intensidade da interação fez com que Brock entendesse a mudança do papel do chefe. "Há 20 ou 30 anos, era simplesmente o cara que fazia ovos benedict".


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