Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

New York Times

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Livro mostra era das boates chinesas nos EUA

Por ROBERT ITO

LOS ANGELES - Em sua época áurea, nos anos 1940, a Forbidden City, em San Francisco, se anunciava como "a boate chinesa mais famosa do mundo".

Um porteiro uniformizado recebia os visitantes e os conduzia para dentro do clube suntuoso, com tapeçarias elegantes e barmen usando casacos com gola chinesa.

Desde o palco, um grande Buda dourado contemplava a plateia, que com frequência incluía celebridades como Bob Hope, Rita Hayworth e Lauren Bacall. Havia turistas também, atraídos pela promessa de "esplendor exótico" e do "show de atrações chinesas".

Uma vez iniciado o show, contudo, os espectadores interessados em entretenimento exótico se viam diante de artistas jovens, em sua maioria americanas de origem chinesa, dançando o Charleston e o shim-sham.

Larry Ching ("o Frank Sinatra chinês") e Toy Yat Mar ("a Sophie Tucker chinesa") cantavam as canções do momento e standards da Broadway, acompanhados por uma banda de seis músicos.

Outras artistas jogavam com a desconexão entre as expectativas da plateia e a realidade, iniciando as performances com vestes chinesas e tirando a roupa aos poucos, até ficar como uma showgirl.

Tendo crescido na Chinatown de San Francisco na década de 1960, Arthur Dong se recordava de ter passado diante da Forbidden City quando era garoto. Criação do empreendedor e proprietário Charlie Low, a casa já tinha se convertido em local próprio apenas para adultos.

Mas a fachada do clube (que seria fechado em 1970) ainda ostentava fotos em preto e branco dos templos de glória da casa. Dong nunca tinha visto nada parecido: dançarinas, cantores e showgirls vestidos de tafetá e ternos, e todos americanos de origem asiática.

Inspirado por essa recordação de infância, Dong escreveu o recentemente publicado "Forbidden City, USA: Chinese American Nightclubs, 1936-1970".

Autor de uma trilogia premiada de documentários sobre a discriminação contra os gays, um dos quais é "Coming Out Under Fire", começou a pesquisar sobre os clubes quando fazia o documentário "Forbidden City, U.S.A.", de 1989.

"Adoro a época das big bands, adoro os musicais de Busby Berkeley. E o fato de serem sino-americanos que faziam isso o torna ainda mais emocionante."

Dong teve encontros com artistas, examinou os álbuns de recordações deles, e sua coleção de relíquias começou a crescer.

Ele encontrou caixas de fósforos com imagens de dançarinas (as Wongettes) e dragões, além de artigos de revistas descrevendo as "asiáticas sedutoras" e as "atrações orientais" que trabalhavam nas boates.

Dong, 60, guarda seus achados em envelopes dentro de pastas perfeitamente organizadas. Há 30 anos ele acumula aquela que talvez seja a maior coleção no mundo de relíquias de boates chinesas -mais de mil objetos ao todo.

Ele descobriu sete boates em San Francisco, além de um clube solitário em Nova York, o China Doll, cujos frequentadores podiam tomar "ponches pagode" e drinques "dignos de um Buda".

Operado pelo produtor teatral branco Tom Ball, o China Doll maximizava o aspecto asiático de maneiras que não vistas nas boates de San Francisco, cujos donos eram todos chineses.

Dong também descobriu que muitas das artistas nesses cabarés "exclusivamente chineses" não eram chinesas, na realidade. Muitas eram de origem japonesa. A dançarina Coby Yee era uma das atrações principais da Forbidden City quando sua família comprou a casa, em 1962.

"Eu subia ao palco usando vestes orientais, tirava essa roupa e, por baixo, estava com uma roupinha de dançarina de samba. Então dançava um samba."

Descrita na época como a "Gypsy Rose Lee chinesa" (Gypsy Rose Lee foi uma famosa dançarina de burlesque), Coby Yee, até o final do show, tirava três ou quatro camadas de figurino, cada uma superposta à outra sobre seu corpinho de 44 quilos.

Arthur Dong entende que lugares como a Forbidden City foram um produto de uma época mais racista. As boates lotavam porque muitos espectadores viam os artistas chineses como uma espécie de curiosidade exótica, digna de ser vista como tal.

"Mas houve pessoas que combateram isso. Elas falavam que 'meu negócio não é ópera chinesa, não é kung fu. Gosto disto, porque foi esta a cultura com que eu nasci. É esta a cultura que eu gosto."


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página