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Fogo destrói a tela urbana de um artista

Por MONICA DAVEY

DETROIT - Uma tênue fumaça ainda se erguia no ar gelado, e tudo o que restava do edifício eram os alicerces calcinados, agora emoldurados pela fita amarela da polícia. Já faz muito tempo que o imenso inventário de edifícios abandonados em Detroit é alvo de incêndios criminosos, mas esta casa era diferente.

Ela estava coberta de animais de brinquedo. Dezenas de criaturas fofas e desbotadas estavam presas nas paredes externas. Um panda pendia perto do telhado, e Mickey observava de uma janela.

Para o artista Tyree Guyton, que cresceu na zona leste da cidade, a casa vazia era uma tela. E o bairro também.

Durante quase três décadas, Guyton transformou casas e terrenos próximos à rua Heidelberg, em geral abandonados, no que considera uma instalação artística, com casas cobertas por pontos ou números, rostos pintados nas calçadas e todos os indícios de vida deixados para trás: bonecas descartadas, televisores, bicicletas enferrujadas, discos, carros, sapatos presos numa cerca, uma árvore recheada de relógios.

Mas o que começou como a resposta de um homem à deterioração urbana em Detroit agora se vê vítima das mesmas forças.

Desde maio, nove incêndios consumiram parte da obra de Guyton, conhecida como Projeto Heidelberg, sendo o mais recente em março, na "Casa da Festa Animal". Seis das dez casas foram destruídas. Os bombeiros suspeitam que o último incêndio tenha sido criminoso.

O Projeto Heidelberg, que Guyton criou em 1986, sempre atraiu opiniões intensas e conflitantes. Algumas pessoas consideram significativas essas obras que emergem de forma estridente, com clarões de cor e um jeito de Pop Art.

Outras as viam como lixo, impossibilitando que um bairro em dificuldades melhorasse de forma mais corriqueira. Duas vezes, em 1991 e 1999, partes da instalação foram demolidas pela prefeitura. Guyton sempre recomeçava.

"Tive uma epifania", disse, sobre os primeiros dias. "Eu vi isto."

Uma casa coberta de pontos é a sua forma de mostrar que tudo no universo está conectado. A "Casa da Festa Animal" evoca um velho conhecido de Guyton do bairro e uma questão que permaneceu: "Quando a gente para de fazer festa e fala sério?". Os visitantes vêm de cidades distantes, com suas câmeras, e percorrem uma rua que jamais veriam se não fosse pela obra.

A operação tem seus próprios funcionários e um escritório da ONG Projeto Heidelberg, que diz possuir atualmente muitos dos imóveis que formam a obra (financiada por doações e dotações) e receber 275 mil visitas por ano -o que faz desta uma das principais atrações turísticas da cidade.

"O Heidelberg sempre foi uma evolução", disse ele. "Eu sempre dizia para usar o que está na sua frente, objetos descartados, e é a mesma coisa com essas estruturas queimando. Vou usá-las para criar algo maior. Eu vejo isso. Eu acredito nisso."


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