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New York Times

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Segurança provoca cisão na indústria

Por STEVEN GREENHOUSE e ELIZABETH A. HARRIS

Desde que a malharia Spectrum desmoronou, em 2005, matando 64 operários, quase nada mudou para melhor na segurança das fábricas em Bangladesh. Depois, em 24 de abril do ano passado, a fábrica Rana Plaza, perto de Dacca, desabou, matando 1.129 trabalhadores, no pior desastre da indústria do vestuário em todo o mundo.

E isso aconteceu apenas alguns meses depois do incêndio na Tazreen Fashions, que terminou com a morte de 112 operários.

Reagindo à indignação da opinião pública, marcas de roupas e varejistas ocidentais lançaram uma grande ofensiva para melhorar a segurança nas fábricas dos seus fornecedores.

Trata-se de um esforço para inspecionar centenas de fábricas a cada mês e do compromisso de ajudar a corrigir os problemas de segurança encontrados.

Mas, em vez de unirem forças, as empresas ocidentais se dividiram em dois campos eventualmente antagônicos -um resultado, dizem alguns, que prejudica a elogiada iniciativa.

Um desses grupos, chamado Convênio de Bangladesh para a Segurança Predial e de Incêndios, tem mais de 150 integrantes, incluindo muitas marcas europeias, como H & M, Mango e Carrefour, além de 14 empresas americanas.

O outro grupo -a Aliança para a Segurança dos Trabalhadores de Bangladesh- é composto por 26 companhias, todas elas americanas ou canadenses, incluindo Walmart, Gap, Target e Kohl.

Alguns membros da Aliança dizem que ela tem feito mais inspeções que o Convênio, dominado pelos europeus, enquanto integrantes do segundo afirmam que as inspeções do primeiro são menos rigorosas.

Os integrantes do Convênio dizem trabalhar em conjunto com sindicato e contar com forte colaboração dos trabalhadores, ao passo que os membros da Aliança afirmam que os rivais não indenizaram os trabalhadores demitidos de uma fábrica interditada por problemas graves.

A Aliança inspecionou 400 fábricas até abril e tem como meta visitar as 630 instalações de seus membros até 10 de julho. Por outro lado, o Convênio revistou 300 fábricas e estima inspecionar as 1.500 fábricas afiliadas ao grupo até o final de outubro.

Nas vistorias, foram encontrados problemas graves: edifícios com rachaduras nas colunas devido à sobrecarga, depósitos de tecido inflamável ao lado de espaços de trabalho, escadas de incêndio que levam ao chão da fábrica, em vez de terminarem fora do prédio.

O custo para a correção dos problemas pode ser substancial -de vários milhares de dólares por algumas portas corta-fogo até US$ 250 mil (R$ 555 mil) para um sistema de "sprinklers".

"Encontramos problemas em todas as fábricas que já inspecionamos", afirmou o inspetor-chefe de segurança do Convênio, Brad Loewen.

"Há portões com trancas em 90% das fábricas, e ocasionalmente elas estão trancadas quando os nossos engenheiros chegam lá."

Como resultado das inspeções do Convênio, quatro prédios fabris foram interditados por risco de desabamento, e o grupo solicitou a uma comissão governamental que feche outros quatro.

Alguns membros da Aliança criticam o Convênio por não ter pago os salários aos mais de 2.500 operários da fábrica Softex quando ela foi interditada, em março, depois de inspetores relatarem problemas estruturais que precisavam de correção urgente.

A Aliança diz ter um fundo de US$ 5 milhões (R$ 11,1 milhões) para pagar metade dos salários dos trabalhadores bengaleses demitidos nessas circunstâncias. Segundo as regras do Convênio, os donos das fábricas devem pagar todos os salários perdidos, se tiverem condições.

Rezwan Selim, presidente-executivo da Softex, afirmou que sua fábrica foi fechada sem o devido processo e que o Convênio não demonstrava cooperação nem estava sendo profissional.

Selim disse que pegou um empréstimo bancário para pagar os salários depois que os trabalhadores começaram a protestar.

Rob Wayss, diretor-executivo do Convênio para Bangladesh, disse que uma das principais conquistas do grupo foi permitir que o público tenha acesso a relatórios detalhados das inspeções fabris, os quais incluem fotos mostrando quadros elétricos perigosos e rachaduras nas colunas.

"Isso demonstrou um nível inédito de transparência. O objetivo é identificar as preocupações de segurança e fazer com que as pessoas que trabalham na fábrica, as pessoas que possuem a fábrica e as pessoas que produzem na fábrica entendam quais necessidades precisam ser corrigidas."

A Aliança, preocupada com processos por difamação e em obter de antemão o aval das autoridades bengalesas, não divulgou ao público nenhum dos seus relatórios de inspeção.

Insatisfeita com o atrito entre as duas organizações, Ellen Tauscher, presidente do conselho de administração da Aliança, disse: "Isto não é realmente uma competição entre a Aliança e o Convênio. Trata-se de trabalhar em conjunto para mudar a vida dos trabalhadores em Bangladesh".

Mas Dara O'Rourke, especialista em monitoramento no local de trabalho da Universidade da Califórnia, em Berkeley, disse que a rivalidade é inegável.

"Há um aspecto bom na competição. Ela está empurrando ambos os lados a aumentarem o nível daquilo que estão fazendo para melhorar a segurança."


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