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New York Times

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Escolas ensinam programação de computadores a crianças

Para as crianças menores, aulas parecem um jogo

Por MATT RICHTEL

MILL VALLEY, Califórnia - Jordan Lisle, que tem sete anos e é aluno do 2˚ ano, ficou com sua família num evento escolar no ano passado, depois do horário normal das aulas, cujo objetivo era despertar um interesse novo: a programação de computadores.

"Acho que ele está ficando um pouco para trás", disse sua mãe, Wendy Lisle, explicando por que eles tinham entrado no curso.

O evento é parte de um movimento nacional para o estudo de codificação de computadores, que cresce rápido como a internet.

Desde dezembro, 20 mil professores da pré-escola até o 12˚ ano introduziram aulas de codificação, segundo a Code.org, grupo apoiado pelo setor de tecnologia e que oferece currículos gratuitos.

Cerca de 30 distritos escolares nos Estados Unidos terão aulas de codificação no próximo ano letivo, em sua maioria no ensino médio, mas também no fundamental.

Em nove Estados, a ciência da computação deixará de ser uma matéria eletiva e terá o mesmo valor de matemática e ciências.

Também são promovidos eventos após o horário das aulas, como o que aconteceu em Mill Valley, onde 70 pais e 90 crianças, da pré-escola até a 5˚ ano, se reuniram em torno de computadores para aprender os elementos fundamentais da lógica de computação.

Hoje, os smartphones e aplicativos estão por toda parte, e as carreiras profissionais em engenharia são cobiçadas. Para muitos pais -especialmente os que vivem aqui, no corredor da tecnologia-, a codificação não é tanto uma atividade extracurricular quanto uma habilidade básica.

A difusão das aulas de codificação é "algo sem precedentes", disse Elliot Soloway, professor de educação e ciência da computação na Universidade de Michigan. "Nunca antes houve um avanço tão veloz na educação."

Mas não está claro se o ensino de ciência da computação na escola primária vai garantir empregos no futuro ou fomentar mais criatividade e pensamento lógico.

E, especialmente no caso das crianças menores, disse Soloway, a atividade é mais como um videogame -melhor que disparar armas simuladas, mas não algo que tenha grandes chances de dar habilidades reais de programação.

Alguns educadores acham preocupante o papel proeminente da indústria tecnológica: grandes empresas de tecnologia e seus fundadores, entre eles Bill Gates e Mark Zuckerberg, do Facebook, contribuíram com US$ 10 milhões (R$ 22,1 milhões) para a Code.org.

A organização paga a formação de professores do secundário para que possam dar aulas mais avançadas de computação. Para os alunos menores, ela desenvolveu um currículo de codificação que casa instrução básica com videogames envolvendo os Angry Birds e zumbis esfomeados.

As aulas não envolvem a linguagem tradicional de computadores. Em vez disso, usam comandos de palavras simples -coisas como "avançar" e "virar à direita"- nos quais as crianças podem clicar para mandar um Angry Bird capturar um porco.

Distritos escolares de todo o país vêm aderindo à tendência. O sistema de ensino público de Chicago espera ter a ciência da computação como matéria obrigatória em seus 187 colégios de ensino médio até 2019 e ter as aulas em 25% de outras escolas. As escolas públicas de Nova York estão treinando professores para dar aulas de ciência da computação em 40 colégios de ensino médio, como preparação para a universidade.

"Há uma demanda grande por essas habilidades, tanto no setor tecnológico quanto em todos os outros", comentou Britt Neuhaus, diretora de projetos especiais no setor de inovação das escolas de Nova York.

A cidade pretende ampliar o ensino da disciplina até 2015 e estuda a possibilidade de levá-lo para as escolas de ensino médio.

O movimento é acompanhado de muito fervor de mercado, do tipo "estamos mudando o mundo", por parte do Vale do Silício.

"Isto é estrategicamente importante para a economia dos Estados Unidos", opinou o empreendedor John Pearce.

Ele e outro empreendedor, Jeff Leane, criaram a organização sem fins lucrativos MV Gate para levar cursos de codificação desenvolvidos pela Code.org para Mill Valley, um subúrbio de alto padrão de San Francisco, do outro lado da ponte Golden Gate.

De acordo com Pearce, os pais adoram a ideia de oferecer a seus filhos alguma coisa produtiva a se fazer com os computadores.

"Temos inúmeros pais que dizem 'não posso deixar meu filho mais uma hora jogando videogames'", ele comentou. "Mas, se a criança está explorando a codificação, os pais lhe dizem 'isso eu tolero a noite toda'."

O conceito está fazendo sucesso com James Meezan, que está no 2˚ ano. Ele assistiu a um dos primeiros eventos "Hora de Codificar" patrocinados pela MV Gate com sua mãe, Karen Meezan, presidente da associação local de pais e mestres e ex-executiva do setor tecnológico, mas hoje gerente de uma imobiliária. Karen faz parte dos defensores entusiasmados dos cursos de codificação, ao lado de vários diretores de escolas locais.

Ela contou que seu filho tem bom aproveitamento, mas não tinha encontrado seu interesse especial e "não era o melhor corredor do playground".

Mas ele adora programar e passa ao menos uma hora por semana nos CodeKids, programas organizados pela MV Gate para depois do horário escolar.

James, 8, explicou que programar é "conseguir que o computador faça alguma coisa sozinho" e disse que é divertido. Sua mãe falou que, quando se trata de programação, "ele é o melhor corredor".

Sammy Smith, 10,, estava absorta no evento em Mill Valley, movendo blocos de comandos básicos para levar o Angry Bird até a presa e brincando com comandos mais complexos, como "repetir", aprendendo sobre afirmações do tipo "se então".

O uso dos blocos de comandos em palavras para simplificar a lógica de codificação vem em grande medida do trabalho do Laboratório de Mídia do Massachusetts Institute of Technology (MIT), que em 2007 introduziu a linguagem de programação visual Scratch. A linguagem tem milhões de usuários, mas a maioria vem de fora das escolas.

Em 2013 chegou a Code.org, que emprestou ideias do Scratch e procurou difundir o conceito entre escolas e educadores.

Para Hadi Partovi, fundador da Code.org e ex-executivo da Microsoft, a programação de computadores deveria ser ensinada em todas as escolas. Ele a descreveu como sendo tão essencial quanto "aprender sobre a gravidade ou moléculas, eletricidade ou a fotossíntese".

Entre os 20 mil professores que, segundo a Code.org, já se inscreveram no programa está Alana Aaron, professora de matemática e ciência.Ela trocou dois meses de aulas de ciências naturais pela programação.

"A ciência da computação é superimportante. Se meus alunos não forem apresentados a isso, podem perder oportunidades profissionais potenciais."


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