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New York Times

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Pesquisa mostra que aranhas têm personalidade

Por NATALIE ANGIER

Das 43 mil variedades de aranhas conhecidas no mundo, uma esmagadora maioria é solitária: tecendo teias, atirando laços, liquidificando presas e atacando invasores. Mas 25 espécies de aracnídeos trocaram a solidão por uma estratégia mais sociável, na qual dezenas ou centenas de aranhas juntam seus poderes.

Essas aranhas podem levar a novas descobertas sobre uma série de mistérios humanos: como nossas personalidades se formam e por que elas são como são. "É muito gratificante para mim que o mais difamado dos organismos possa ter algo a nos dizer sobre quem somos", disse Jonathan Pruitt, biólogo da Universidade de Pittsburgh, na Pensilvânia, que estuda aranhas sociais.

O novo trabalho faz parte do crescente campo de pesquisa sobre a personalidade dos animais, que tenta entender as várias diferenças estilísticas identificadas numa ampla gama de espécies, incluindo macacos, martas, carneiros selvagens, certas lulas, o peixe esgana-gata e hienas pintadas.

Em um artigo na revista "The Proceedings of the Royal Society B", Pruitt e Kate Laskowski, do Instituto Leibniz de Ecologia de Água Doce e Pesca, em Berlim, constataram que a construção do caráter em aranhas sociais é um processo comunitário. Embora elas demonstrem sua predisposição bem cedo -tendência à timidez ou à ousadia, à irritabilidade ou à doçura-, tal personalidade também é influenciada pelas outras aranhas no grupo.

Em experimentos de laboratório, os pesquisadores demonstraram que as aranhas expostas cotidianamente ao mesmo grupo desenvolviam personalidades mais fortes e distintas do que aquelas que foram deslocadas de um conjunto de aranhas para outro. Além disso, as aranhas em um ambiente social estável ficavam cada vez menos parecidas entre si com o passar do tempo.

Os pesquisadores estudaram a espécie Stegodyphus mimosarum, pequenas aranhas sociais que vivem em colônias de 20 a 300 integrantes, tecendo enormes teias comunitárias do tamanho de automóveis sobre árvores e arbustos do Kalahari, no sul da África. As comunidades de aranhas ganham força por meio de uma divisão do trabalho, com alguns membros especializados em consertar teias e outros em atacar e subjugar presas. Com trabalho em equipe e experiência profissional, as aranhas sociais prosperam.

"É possível capturar presas muito maiores", disse Pruitt. "Vi esqueletos de pássaros e ratos em algumas dessas colônias".

Mas como decidir quem faz o quê? A personalidade parece ditar a profissão. Pruitt verificou que as aranhas encarregadas de defender a colônia e capturar presas tiveram o melhor desempenho em testes de agressividade, enquanto as responsáveis por cuidar das mais jovens eram comprovadamente mais dóceis.

Para medir o desenvolvimento da personalidade sob ambientes estáveis em relação a cenários de mudança social, os pesquisadores simularam a aproximação de um predador, jogando ar na aranha com uma seringa de borracha, o que faz o animal reagir se encolhendo e retraindo as pernas.

O tempo levado para que voltassem à atividade serviu como medida de ousadia, e as diferenças foram grandes.

A mais ousada recuperou-se da ameaça detectada depois de quatro ou cinco segundos, enquanto a mais tímida permaneceu inerte por 10 minutos ou mais.

Igualmente impressionante foi o impacto das condições sociais no teste de ousadia. Grupos estáveis de aranhas, formados por seis aranhas que permaneceram juntas por até quatro semanas, mostraram a maior variedade entre os membros, a maior mescla entre ousadas e tímidas, bem como a maior consistência individual.

Alison Bell, que estuda o esgana-gata na Universidade de Illinois, disse que o trabalho da aranha ilustra a combinação de plasticidade e predileção por trás da personalidade.

"É muito interessante a ideia de que interações sociais possam resultar em nichos sociais. Isso remete à nossa própria experiência como seres humanos", disse. "Quando você faz parte de um grupo, seu comportamento muda dependendo da natureza daquele grupo, mas pode mudar apenas até certo ponto."


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