Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

New York Times

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Vinícola resiste a revoluções

Por NEIL MacFARQUHAR

YALTA, Crimeia - As adegas cavernosas da vinícola Massandra são testemunhas dos tumultos da história e do interesse duradouro despertado pelo vinho produzido nas encostas vulcânicas e acidentadas da Crimeia.

O czar Nicolau 2° fundou Massandra em 1894 para garantir o fornecimento de vinho para seu palácio de verão. Até hoje, é possível ver a águia de duas cabeças de seu brasão em garrafas empoeiradas. Durante a Segunda Guerra Mundial, Stalin ordenou a apreensão de 60 mil garrafas das melhores safras da adega.

"Czar. URSS. Ucrânia. Rússia", citou Valentyn Mytyayev, diretor de comércio internacional do vinhedo, enquanto andava entre as 971 mil garrafas da adega. "Veja! Revolução. Guerra Civil. Guerra Mundial", disse, apontando datas significativas nas histórias mundial e russa: 1905, 1917 e 1944.

"Trabalhamos o tempo todo cercados pela história."

Com a repentina anexação da Crimeia pela Rússia em março, a vinícola mudou novamente de mãos, saindo do controle do governo ucraniano e sendo retomada por Moscou. O que não muda, disse Mytyayev, é a média de 300 dias ensolarados por ano na Crimeia, que permite uma farta colheita de uvas adocicadas.

A agricultura é um setor crucial que o Kremlin espera revigorar para garantir o êxito econômico da Crimeia. A nova administração também pretende usar a indústria de vinhos para atrair mais turistas e culpa a Ucrânia por negligenciar ambas as áreas quando governava a Crimeia.

"Graças a Deus, a vinicultura não foi totalmente arruinada nesses últimos 23 anos", disse Yelena Yurchenko, ministra de Turismo da Crimeia.

Na verdade, embora grande parte da região sofra com a baixa ocupação hoteleira e a escassez de turistas, a equipe em Massandra não tem do que reclamar. Segundo funcionários, os vinhos mal paravam nas prateleiras em suas três lojas locais em abril, e a vinícola está em vias de dobrar o volume de vendas registrado em 2013.

A vinícola informou que muitos russos que vieram para cá pela primeira vez estavam agarrando suvenires potáveis com sofreguidão. A ex-vinícola do czar atualmente produz 10 milhões de garrafas por ano.

A gerência espera que a incerteza gerada pela turbulência recente na Ucrânia não desanime estrangeiros de visitarem a vinícola. Há poucos dias, um comprador de Londres e outro de Moscou eram esperados para o almoço. Nikolay Boyko, diretor-geral da Massandra, disse que considera essas visitas um sinal positivo.

Para a Rússia e a Ucrânia, a Massandra tem sido destino de dignitários estrangeiros. O livro de visitas, com cinco centímetros de espessura e produzido para o 115° aniversário da vinícola, tem fotos de visitantes como Ho Chi Minh, do Vietnã, Josip Broz Tito, da Iugoslávia, e várias outras personalidades da esfera comunista.

Desde o início, a Massandra é considerada algo à parte. Ela foi frequentada por membros da alta sociedade artística que passavam o verão perto do czar.

Nacionalizada em 1922 após a Revolução Russa, continuou sendo uma grande atração. Porém, ninguém sabe ao certo quem a visitou antes da Segunda Guerra Mundial, pois os ocupantes nazistas furtaram o livro com as assinaturas dos visitantes.

Uma lei de 1936 que preserva as adegas sob proteção estatal continua em vigor.

Quando Mikhail Gorbachev, então secretário-geral do Partido Comunista, lançou uma campanha contra o consumo de álcool no final dos anos 1980, vinhedos de toda a Rússia foram fechados. Massandra, porém, foi poupada.

"Massandra é um país diferente, como o Vaticano", comparou Boyko. "Vivemos de acordo com nossas próprias regras e leis."


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página