Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

New York Times

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Islâmicos moderados perdem terreno para extremistas

Movimento avalia importância de parcerias nacionais

POR DAVID D. KIRKPATRICK

TÚNIS - Políticos islâmicos moderados venceram muitas eleições depois da Primavera Árabe, aproximando-se do poder na Tunísia, no Egito, na Líbia e no Marrocos. Eles solaparam a tese de militantes de movimentos como a Al Qaeda de que só a violência oferecia esperança de mudança.

Hoje, esses mesmos políticos estão em retirada frenética, de Riad a Rabat, bloqueados por seus adversários políticos, perseguidos por generais e caindo vítimas de complôs armados por monarcas enriquecidos pelo petróleo. Agora, são os extremistas que estão em marcha, avançando sem oposição em regiões do norte da África e do Oriente Médio. Inclusive, já tomaram o controle de territórios na fronteira entre o Iraque e a Síria, esperando estabelecer neles um califado islâmico.

"Os direitos só podem ser restaurados pela força", declarou no ano passado o Estado Islâmico no Iraque e no Levante (EIIL), grupo dissidente da Al Qaeda que está em rápida ascensão, depois que as Forças Armadas egípcias derrubaram o presidente Mohammed Mursi, da Irmandade Muçulmana. O grupo definiu a Irmandade Muçulmana, mais interessada nas urnas que nas armas, como "um partido laico em trajes islâmicos" e como "malévola e astuta".

Bloqueados pela velha guarda e eclipsados pelos extremistas, os políticos islâmicos moderados no Egito, na Líbia, no Iêmen e na oposição síria estão debatendo o que aconteceu de errado, como resgatar seu movimento e como reanimar o sonho de sintetizar islamismo e democracia. Alguns moderados insistem que as principais lições a aprender se referem à força de seus inimigos, não às deficiências de seus movimentos.

Mas outros, liderados pelos tunisianos, argumentam que o movimento também é culpado pela situação. Dizem que, se os moderados esperam resistir aos extremistas e construir democracias, seus partidos precisam ser muito mais inclusivos e conciliatórios com relação aos rivais não islâmicos.

Os extremistas sempre disseram aos moderados que os militares não eram confiáveis, diz Rachid al-Ghannouchi, fundador e presidente do Ennahda, partido islâmico tunisiano. "Infelizmente, o que eles previram se confirmou."

Ele afirmou que a solução para o movimento islâmico é se apegar ainda mais ao pluralismo, à tolerância e ao compromisso. "A cura para as falhas da democracia é mais democracia", disse Ghannouchi, porque "uma ditadura disfarçada pela religião é o pior tipo de ditadura".

Mesmo o Ennahda foi pressionado a ceder o controle do governo tunisiano de transição, devido à sua incapacidade de conter a violência dos extremistas. Mas ele ainda se considera uma das raras histórias de sucesso islâmicas e deve manter a maioria no Legislativo depois das eleições do final deste ano -em parte, acredita o partido, porque se dispôs a dividir o poder no governo interino.

Quando islâmicos de toda a região se reuniram no Centro de Estudos do Oriente Médio, em Amã, na Jordânia, no final do ano passado, para avaliar as lições aprendidas, a principal conclusão foi a de que "os islâmicos precisam desenvolver uma ideia de parceria nacional com outras forças", segundo Jawad el-Hamad, o diretor do centro de estudos.

Quando Mursi venceu a primeira eleição presidencial aberta da história do Egito, muita gente disse que a vitória democrática da Irmandade Muçulmana havia tornado a Al Qaeda obsoleta.

Então, em 3 de julho de 2013, o governo instalado pelas Forças Armadas egípcias aprisionou Mursi e os líderes parlamentares da Irmandade Muçulmana. Também aprisionou outros 16 mil partidários do movimento e matou mais de mil de seus integrantes.

Agora, um general líbio renegado está tentando usar o Egito como modelo para um golpe anti-islâmico em seu país, ainda que sem dispor do poder do Estado como base. Correndo a apoiar o golpe dos militares egípcios, a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos (EAU) proscreveram a Irmandade Muçulmana.

Na Síria, Bashar al Assad desafiou as previsões de que seria derrubado, em parte porque os extremistas entre os rebeldes entraram em confronto com os moderados pelo poder e pelos espólios. Os militantes do EIIL, expulsos da Al Qaeda por serem extremistas demais, agora dominam boa parte do território ocupado pelos rebeldes na Síria.

Uma ala dos moderados islâmicos sustenta que essas derrotas são temporárias. As disputas "aumentarão a força, experiência, coerência e compreensão do funcionamento da realidade por parte do movimento islâmico", disse Roushdy Bouibry, político islâmico do Marrocos, em um ensaio.

Uma segunda ala, que inclui muitos dos integrantes mais jovens da Irmandade Muçulmana, está questionando o que seus líderes fizeram de errado e como agir de modo diferente.

Mohammed Sawan, líder da Irmandade Muçulmana na Líbia, argumentou que sua facção precisava fazer um trabalho melhor na cooperação com os progressistas. "A batalha não é sobre o islã ou a identidade. É sobre os valores fundamentais da democracia, da liberdade e dos direitos".

Muita gente diz que a Tunísia está criando o novo modelo. "Os tunisianos provaram que se pode aceitar compromissos sem perder a existência", disse Emad Shahin, cientista político egípcio.

Hichem Laarayedh, líder da ala jovem do Ennahda, disse que recentemente conversou em Istambul com um grupo de jovens ativistas islâmicos egípcios exilados. "Você viu os progressistas protestando contra Sisi quando ele estava nos massacrando em Rabaa?", perguntaram os ativistas, em referência ao amplo apoio entre os não islâmicos ao general Abdel Fattah el-Sisi, agora presidente do Egito, e sua mortífera repressão a um protesto islâmico contra o golpe militar.

Laarayedh disse ter respondido que alguns progressistas haviam aprendido a lição, acrescentando que o governo de Sisi agora também havia proibido o Movimento de 6 de Abril. "O 6 de Abril não se voltou contra Sisi quando compreendeu?", diz ter respondido aos ativistas. "Eles cometeram erros, mas vocês também cometeram erros. Isso tudo é passado agora."


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página