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New York Times

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Lente

Propensão ao risco

A experiência indica que os seres humanos, sobretudo adolescentes, são propensos a ter comportamento arriscado.

No entanto, um trabalho que Laurence Steinberg publicou, há alguns anos, corroborando essa ideia foi recebido com bastante ceticismo. O estudo, feito em 2005, descobriu que, quando adolescentes brincavam de dirigir com um videogame e eram observados por dois amigos, havia maior probabilidade de se envolverem em acidentes. Para os adultos, nada mudava quando amigos estavam presentes.

Steinberg, psicólogo e professor na Universidade Temple em Filadélfia, realizou outro estudo que descobriu que centros de recompensa em cérebros de adolescentes ficavam estimulados mais facilmente quando eles estavam com pessoas da mesma idade. Ele usou camundongos em um experimento diferente, no qual houve fácil acesso a álcool, e descobriu que camundongos adolescentes eram mais propensos do que adultos a tomar mais álcool quando estavam com seus pares.

"A propensão dos adolescentes a fazer coisas mais arriscadas quando estão com amigos não só é real", escreveu Steinberg, "como pode ser incontrolável."

Então, qual é a justificativa para os adultos terem comportamentos temerários?

Correr riscos nos mercados financeiros deu origem à atividade de gestão de riscos, a qual implica que princípios aplicados aos investimentos poderiam proteger os mercados de desastres. A crise financeira derrubou essa suposição, e a crise que se assoma com o aquecimento global desafia a propensão humana a ignorar riscos de longo prazo, segundo Robert J. Shiller, colunista do "NYT".

Shiller diz que há grande probabilidade de que desastres ligados ao clima venham a ocorrer, mas que também há um risco substancial de fracasso dos esforços para deter o aquecimento global. Por isso, governos e empresas privadas precisam se empenhar fortemente para se proteger das enormes perdas financeiras que podem estar a caminho.

"É por isso que o aquecimento global deve estar na pauta de instituições privadas, como seguradoras e corretoras de investimentos", escreveu Shiller. "Elas têm vasta experiência em se desembaraçar dos efeitos de desastres, compartilhando-os com um grande número de pessoas."

Parte do problema é que geralmente consideramos o risco como um desafio intelectual, escreveu John Coates, ex-corretor de investimentos, no "NYT". O risco também é uma experiência muito física.

"O risco, por sua própria natureza, ameaça feri-lo", escreveu Coates, "então quando você se confronta com ele, seu corpo e seu cérebro, sob a influência da reação ao estresse, tornam-se uma unidade funcional coesa."

Atletas e soldados aprendem a funcionar em situações estressantes, assim como corretores de ações. A reação física do corretor dita seu apetite pelo risco financeiro, da mesma forma que o corpo de um atleta reage sob pressão para ter um desempenho de alto nível. "Se entendermos como o corpo de uma pessoa influencia sua exposição ao risco, poderemos aprender a lidar melhor com os riscos que assumimos", escreveu Coates no "NYT".

"Poderemos também reconhecer erros cometidos pelos governos que levaram muitas pessoas a se arriscar em demasia."

Henry M. Paulson Jr., secretário do Tesouro dos EUA de 2006 a 2009, entende de gestão de riscos, pois ajudou a reanimar a economia mundial após a crise de 2008. Hoje, Paulson, que sempre foi republicano, acredita que o destino do planeta está em jogo, pois parece provável que o aquecimento global causará uma catástrofe econômica em escala sem precedentes.

"Analisar a mudança climática em termos de avaliação e gestão de riscos deixa claro que adotar uma postura cautelosamente conservadora -ou seja, aguardar mais informações antes de agir- na verdade é assumir um risco muito radical", escreveu Paulson no "NYT".

"Nunca saberemos o suficiente para dirimir todas as incertezas", disse ele. "Mas sabemos o suficiente para reconhecer que precisamos agir imediatamente."

TOM BRADY

Envie comentários para nytweekly@nytimes.com


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