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Diário de Budapeste

Alambiques caseiros ganham respaldo formal

Premiê húngaro desafia regras da União Europeia

Por DANNY HAKIM

BUDAPESTE - Zoltan Hajas aprendeu a fazer palinca com um vizinho que mora na casa ao lado. Ele fica com um ar filosófico ao falar sobre essa aguardente húngara com sabor frutado.

"Nós estamos ficando muito... como é mesmo a palavra?... padronizados", disse ele em sua casa nas cercanias de Budapeste, onde destila sua palinca em dois panelões de metal envoltos por alguns canos.

"Acho que realmente é preciso manter algumas das ideias que nos diferenciam", acrescentou.

"Uma delas obviamente é o idioma, e a outra reside nessas minúcias que de fato nos distinguem bastante de outros países. Acho que a palinca exemplifica bem isso."

Para o paladar delicado de um consumidor de vinho branco, a palinca tem o efeito de um tapa no rosto -álcool forte com um toque de damasco, ameixa ou qualquer outra fruta com a qual ela for feita. Como frequentemente metade ou mais de sua composição é de álcool puro, é melhor consumi-la longe de qualquer chama. Além de uma bebida, aqui a palinca também é uma questão de política.

Em 2010, Viktor Orban, o autocrático primeiro-ministro, aprovou uma lei permitindo que os cidadãos destilem 50 litros de palinca livres de impostos, desde que usem equipamento aprovado e não vendam ou distribuam a bebida.

Embora tenha gerado polêmica em um país que tem um dos índices de consumo de álcool mais altos da Europa, essa lei também foi uma hábil jogada populista de Orban. Aparentemente, todo húngaro tem um avô, primo ou tio que produz palinca.

"As pessoas ganharam permissão para desenvolver uma atividade que sempre praticaram ilegalmente", disse Ferenc Kumin, porta-voz do governo húngaro.

A lei violou regras impostas pela União Europeia, que requerem taxas sobre bebidas alcoólicas e, em abril, um tribunal decidiu que a política húngara para a palinca violava a legislação europeia.

A controvérsia só aumentou o sentimento contra Bruxelas que ajudou Orban a ter outra vitória arrebatadora na eleição recente. Além disso, está alimentando a má reputação de Bruxelas de se imiscuir em questões frívolas, como a maneira com que restaurantes servem azeite de oliva.

Muitos húngaros, como Hajas, 42, só querem ser deixados em paz. "É impossível controlar isso", opinou ele. "A verdade é que ninguém aqui liga para a opinião de Bruxelas."

Jozsef, 58, que trabalha no governo, foi indagado sobre o motivo de tantas pessoas fazerem palinca. "Basta olhar ao redor para notar que todos os que vivem nesta área têm árvores frutíferas", explicou Jozsef, que não quis revelar seu sobrenome por ser funcionário público. "Para não desperdiçar as frutas, todos fazem palinca."

Ele conta que na época comunista "até possuir o equipamento era ilegal, mas isso não impressionava ninguém. Quem vendia palinca podia até ir para a cadeia, mas todo mundo continuou produzindo a bebida, pois essa é uma tradição muito antiga".

Colaborou Anita Komuves


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