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New York Times

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Governo palestino enfrenta impasse

Quantidade de servidores públicos impacta Orçamento

Por FARES AKRAM e JODI RUDOREN

GAZA - Abu Raid al-Samouni, 46, é motorista e faxineiro na sede do Ministério do Exterior em Gaza. Ele sai para trabalhar todas as manhãs antes de seus 14 filhos acordarem, para evitar seus pedidos de trocados para comprar doces. Como os outros 42 mil funcionários contratados enquanto o grupo militante islâmico Hamas comandou o governo da Faixa de Gaza, nos últimos sete anos, desde outubro Samouni recebe apenas uma parte de seu salário mensal de US$ 350. Em abril e maio, não recebeu nada.

Mustafa, 34, é agente de segurança e não informou seu sobrenome por temer represálias. Ele passou uma tarde recente fumando narguilé enquanto seus três filhos nadavam no mar Mediterrâneo. Como as outras 70 mil pessoas empregadas pela Autoridade Palestina na Faixa de Gaza antes de o Hamas assumir o controle, ele continuou a receber seu salário integral -US$ 520 mensais- sem jamais ir trabalhar.

A história desses dois homens ilustra um dilema fundamental com o qual se confronta o novo governo palestino, fundamentado no acordo de reconciliação entre o Hamas e a facção secular e mais moderada Fatah, que domina a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e a Autoridade Palestina.

Por trás da batalha ideológica, esconde-se uma disputa mais básica e burocrática que também coloca o pacto em risco.

O pacto firmado em abril entre o Hamas e a OLP deixou o problema de reconciliar os dois conjuntos de trabalhadores, que vários representantes palestinos reconhecem que ultrapassam de longe o número de funcionários com os quais o governo pode arcar e que são necessários para atender os 1,7 milhão de habitantes da Faixa de Gaza.

"Como podemos aceitar um funcionário sem qualificações?", disse o premiê Rami Hamdallah. "E se você tiver duas pessoas para um cargo só? É preciso estudar a questão e encontrar uma solução. Isso deve levar tempo." Com um deficit de US$ 1,3 bilhão no Orçamento de US$ 4,6 bilhões da Autoridade Palestina para 2014, Hamdallah disse: "Eu deixei claro e o presidente deixou claro que não temos como pagar".

Alguns funcionários nomeados pelo Hamas entraram em greve recentemente para protestar contra a falta de pagamento. No início de junho, funcionários do Hamas fecharam bancos na Faixa de Gaza por uma semana para impedir ex-funcionários da Autoridade Palestina de sacar seus salários.

"Esperávamos que com o novo governo a situação fosse diferente, mas o que eu vejo é que está havendo um retrocesso", disse Samouni, o funcionário do Hamas. Sua casa, em Gaza, não tem portas internas, e lonas de plástico cobrem as janelas, porque Samouni não tem condições de concluir a reconstrução desde que a casa foi demolida numa incursão israelense em 2009. "Ninguém está cuidando de nós."

Falando de Samouni e seus colegas, Mustafa comentou: "Sinto pena deles, mas não é meu problema". "Sei que esses funcionários não têm culpa. É difícil imaginar como vão voltar para casa no Ramadã sem dinheiro ou comida para seus filhos. Mas é a política suja."

Mustafa passa os dias na praia com sua família -"Este é o nosso único escape", comentou-e, recentemente, passava as noites fumando narguilé num café enquanto assistia às partidas da Copa do Mundo. No Ramadã, ele pretende passar a noite acordado, fazer uma refeição antes do dia raiar e dormir durante as horas mais quentes do dia.

Enquanto isso, Samouni estará no trabalho, angustiando-se ao pensar em como irá comprar comida para os jantares festivos do "iftar". Sua mulher, Imam, 44, mostrou sua geladeira com apenas alguns tomates, um vidro de molho de tomate, um prato de tomilho e um pão.

Recebendo US$ 350 mensais, Samouni está na parte inferior da escala salarial do Hamas. O lado bom disso é que, durante os meses de vacas magras após a tomada do poder pelos militares no Egito, ele não perdeu muito, porque o mínimo que cada funcionário recebeu foi mais ou menos US$ 290. Ele gasta US$ 60 para cobrir o trajeto diário de ida e volta do trabalho, 14 quilômetros.

Mas, nos últimos dois meses, ninguém recebeu nada. "Não sabemos se estamos aqui ou lá", disse Samouni, aludindo ao fato de que o Hamas afastou-se oficialmente da administração dos ministérios da Faixa de Gaza, mas o novo governo ainda não a assumiu. "O que sabemos é que estamos perdidos."

Colaborou Nayef Hashlamoun, de Hebron, Cisjordânia


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