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New York Times

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Diário de Nairóbi

Google perde o ônibus

Por JEFFREY GETTLEMAN

NAIRÓBI, Quênia - Uma batalha está em curso nas ruas encardidas desta capital. Muitos dos donos de "matatus", os milhares de micro-ônibus que fazem o transporte coletivo em Nairóbi, estão se recusando a adotar uma nova tecnologia que poderia revolucionar um dos setores mais irregulares e mais lucrativos da África oriental, um setor que trabalha com dinheiro vivo.

O Google está promovendo um cartão de trânsito para ser usado nos micro-ônibus em lugar do dinheiro vivo. Com o cartão, ficaria muito mais difícil subornar policiais e mais fácil para o governo arrecadar milhões de dólares em impostos. Mas, apesar de o Google ter feito um investimento grande e o governo ter fixado o prazo para o fim do dinheiro vivo nos micro-ônibus em julho, a grande maioria dos "matatus" que percorrem as ruas de Nairóbi, superlotados de passageiros e "costurando" para fugir do trânsito, ainda trabalha com dinheiro.

"As pessoas acharam que o Google era louco por investir no setor de transportes do Quênia", comentou Dorothy Ooko, executiva do escritório da empresa em Nairóbi, onde trabalham 40 pessoas. "Quando começamos a nos envolver, ninguém queria mexer com os micro-ônibus."

A luta para modernizar os "matatus" quenianos ilustra as dificuldades da adoção de tecnologia de vanguarda em alguns dos países mais pobres do mundo. Ruanda investiu fortemente em internet de banda larga, apesar de a maioria de sua população trabalhar na agricultura. Na República Democrática do Congo, iPhones são vendidos em quiosques iluminados a vela.

O Quênia não é tão pobre quanto esses países; o queniano médio ganha US$ 5 por dia. O país é líder mundial em transferências de dinheiro feitas por celulares e tem um dos maiores índices de uso da internet da África subsaariana. Alguns "matatus" chegam a ter wi-fi. Para o presidente, Uhuru Kenyatta, adepto do Twitter, uma das metas básicas de seu governo é transformar o modo como seus 45 milhões de cidadãos interagem com a tecnologia.

O governo espera que colocar serviços on-line reduza a corrupção, um flagelo notório em todas as interações com os serviços públicos. "Estamos tentando minimizar o contato humano", disse um porta-voz do governo, Manoah Esipisu, com um gesto de cabeça indicativo de tristeza.

Os "matatus" podem ser o melhor exemplo desse esforço. Milhões de pessoas usam os "matatus" diariamente para ir ao trabalho. Cobradores conduzem os passageiros da calçada para os micro-ônibus superlotados que abrem caminho em zigue-zague entre as filas de carros. Como os proprietários geralmente cobram um valor fixo pelo uso dos micro-ônibus, os cobradores comprimem o maior número possível de passageiros nos veículos e os levam até seus destinos em velocidade mortal. Um único acidente pode matar uma dúzia de pessoas. Se um policial para um "matatu" por superlotação ou excesso de velocidade, o motorista simplesmente lhe passa um punhado de xelins pela janela.

O Google criou um aplicativo simples para os cobradores dos matatus usarem com um telefone Android. O plano era monitorar a atividade digitalmente, eliminar os roubos e acabar com o incentivo para dirigir perigosamente (sem dinheiro, os motoristas e cobradores passariam a receber um salário mensal). O governo queria arrecadar impostos de um setor que movimento estimados US$ 2 bilhões (R$ 4,4 bi).

O Google forneceu a tecnologia de graça, desde que todos que quisessem um cartão BebaPay se cadastrassem no Gmail, o serviço de e-mail gratuito da empresa.

Mas os donos de "matatus" não querem ser usuários do Google.

Questionado se seu micro-ônibus aceitava cartão, um cobrador gritou: "O Quênia é uma economia baseada no dinheiro!". O governo estendeu em vários meses o prazo para a adesão aos cartões, dizendo que precisa repensar a implementação do plano.


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