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Inclusão de vícios melhora cifras do PIB

Por LIZ ALDERMAN

PARIS - Como porta-voz da Associação Nacional de Clubes de Sexo da Espanha, José Roca já respondeu a todo tipo de pergunta bizarra. Mas raramente ficou tão surpreso quanto ao receber um telefonema da agência de estatísticas do governo, no ano passado.

Em tom sério, um estatístico lhe perguntou se ele sabia o preço médio de um programa com uma prostituta na Espanha e o custo básico de um quarto em um bordel no país. "Pensei que fosse uma brincadeira", disse Roca. "Estava tão incrédulo que pedi que enviassem um e-mail, para eu ter certeza de que não era uma piada".

As perguntas não eram um trote, e sim parte de um novo esforço para medir o tamanho da economia espanhola. A partir de setembro, todos os países europeus serão obrigados a contabilizar detalhadamente o comércio de sexo, drogas e outros negócios escusos como parte de uma revisão dos indicadores econômicos solicitada pela Eurostat, a agência europeia de estatísticas.

O objetivo de contabilizar tudo é obter uma leitura mais precisa do produto interno bruto de cada país. Como o PIB é um número muito importante, a União Europeia quer estatísticas que "reflitam melhor o ambiente econômico", disse Vincent Bourgeais, porta-voz da Eurostat.

Num momento em que os governos da União Europeia se veem obrigados a reduzir a dívida em termos de percentual do seu PIB, as mudanças devem fazer com que, da Espanha à Suécia, as taxas de crescimento econômico pareçam mais positivas, possivelmente fazendo também com que os níveis de endividamento pareçam mais róseos.

Segundo Roca, a prostituição gera cerca de 20 bilhões de euros (cerca de R$ 59 bilhões) por ano na Espanha. "Os homens espanhóis costumam frequentar os clubes, e há muito turismo", explicou. Tecnicamente, há muito tempo o registro de atividades econômicas do mercado negro é uma norma da União Europeia.

As novas regras da UE vão exigir um esforço redobrado de todos os 28 países do bloco, mesmo que isso signifique questionar proprietários de bordéis ou registrar toneladas de cocaína que venham a ser apreendidas de narcotraficantes.

"As agências têm colhido informações, mas não são particularmente precisas, porque estamos falando de atividades que as pessoas tentam esconder", disse Gian Paolo Oneto, da Istat, agência nacional de estatísticas da Itália.

Para a maioria dos governos, a atividade ilegal pode representar nada mais do que um arredondamento dos dados. Na Holanda, conhecida por suas zonas de prostituição e por seus "coffee shops" que vendem maconha, essas atividades respondem por 0,4% do PIB.

O maior impulso aos números do PIB virá de algo nada excitante: uma revisão da Eurostat permitindo que os governos contabilizem pesquisa e desenvolvimento como investimentos, em vez de custos. A Finlândia e a Suécia, redutos do capitalismo de alta tecnologia, poderiam aumentar o tamanho de suas economias em até 5%, de acordo com a Eurostat.

Na Itália, Irlanda, Portugal e Espanha, que tentam sair da recessão, o PIB poderia crescer até 2%, estima a Eurostat, enquanto a Alemanha e a França teriam uma expansão de até 3%. O Reino Unido pode apresentar um ganho de 3% a 4%, segundo a Eurostat.

A França se recusa a incluir drogas e serviços sexuais devido à preocupação com o fato de que a prostituição, por exemplo, normalmente vem acompanhada da escravidão sexual, e como tal não deveria receber um verniz de legitimidade econômica nos balanços.

E alguns economistas dizem que, qualquer que seja a melhoria nos índices, não será fácil pagar as dívidas, porque os governos não podem recolher impostos de atividades ilegais.

Ao mesmo tempo, José Roca diz que não consegue enxergar a razão de nada disso.

"É tudo uma grande bobagem", afirma.


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