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New York Times

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'Crowdfunding' de um filme provoca furor

Por KATHRYN SHATTUCK

Em abril de 2013 o ator Zach Braff anunciou no Kickstarter -um pouco ingenuamente, talvez, como ele agora admite- que buscava US$ 2 milhões (cerca de R$ 4,4 milhões) para financiar o filme "Wish I Was Here", que tinha escrito com seu irmão, Adam.

Braff se animou com o sucesso da campanha de financiamento coletivo do filme "Veronica Mars", baseado no seriado de TV homônimo, que é um sucesso cult, e que recebeu US$ 2 milhões em menos de 12 horas de campanha no Kickstarter, também em 2013. Ele imaginou que seu próprio filme -sobre um ator aspirante que decide fazer seus filhos estudarem em casa, em vez de frequentarem a escola- era justamente o tipo de projeto que despertaria o entusiasmo de seus fãs.

Braff tinha razão: alcançou sua meta em 48 horas. Um mês depois, mais de 46 mil pessoas tinham contribuído com cerca de US$ 3,1 milhões (R$ 6,8 milhões) em troca de prêmios que variavam de um diário da produção (por uma contribuição de US$ 10, ou R$ 22) até o tratamento dado a um astro (por US$ 10 mil). Mas então eclodiu um furor, "como se eu tivesse recebido um soco no estômago", disse Braff.

Ele foi criticado pelo que alguns consideraram ser uma exploração indevida da filosofia do Kickstarter. De acordo com o argumento, Braff tinha influência suficiente no mundo do cinema e dinheiro próprio demais para pedir a pessoas com recursos menores que financiassem seus caprichos; esse dinheiro seria mais bem gasto com quem realmente não possuísse meios de financiar um filme. O "Guardian" sugeriu que Braff tinha sequestrado o processo de "crowdfunding" (financiamento em massa). Na versão de Zach Braff, porém, ele não tinha como financiar seu filme.

É verdade que as nove temporadas em que representou o médico John Dorian na sitcom da NBC "Scrubs" o converteram em celebridade rica. Mas isso foi televisão, e o seriado terminou em 2010. Tirando o filme "Hora de Voltar", sucesso indie que o próprio Braff escreveu e dirigiu, seus maiores papéis no cinema tinham sido vozes: o do personagem-título de "O Galinho Chicken Little" e o de um macaco alado em "Oz - Mágico e Poderoso".

Em outras palavras, Zach Braff não era o tipo de nome que seria atração nas bilheterias mundiais e em quem os financistas gostam de apostar. Havia também o problema do roteiro altamente idiossincrático de "Wish I Was Here," tratando do judaísmo, de pais e filhos e incluindo sequências fantásticas em que Braff é um cavaleiro espacial escoltado por um senhor feudal robótico voador.

Braff definiu seu orçamento em modestos US$ 5,5 milhões (R$ 12,5 milhões). Em maio de 2013 ele obteve um financiamento da Worldview Entertainment, alimentando mais ainda as reações de indignação quando pessoas o acusaram de ter contado com dinheiro de estúdios, afinal de contas, embora o investimento da Worldview fosse o equivalente a um empréstimo bancário.

Braff também investiu dinheiro próprio no filme, embora tenha se negado a dizer quanto. O filme, que também tem Kate Hudson e Mandy Patinkin no elenco, está sendo lançado mundialmente. Em janeiro Braff o vendeu à Focus Features por supostos US$ 2,75 milhões (R$ 6,05 milhões).

O designer gráfico e da web Grant Stolk, residente no Canadá, disse que doou US$ 40 no primeiro dia da campanha de levantamento de fundos. Esse valor lhe deu direito a uma camiseta, um ingresso para uma sessão do filme, a título de agradecimento, acesso antecipado à trilha sonora através de um link, playlists semanais, diário de produção e roteiro.

"Não há nada que me foi prometido na campanha que não tenha sido entregue", Stolk escreveu em e-mail. "Na verdade, no meu caso me deram muito mais do que foi prometido."

Stolk viajou até a Califórnia, onde passou um dia no set com outros financiadores, uma experiência que disse ter sido incrível. No mês passado, ele e sua mulher assistiram a uma première do filme em Los Angeles e conversaram com Braff na festa após a sessão.

"Não contribuí para o filme para receber uma participação nos lucros", ele disse. "Contribuí para fazer parte do processo, para ver como é feito um filme e para ver a visão pura de Zach se realizar. Paguei por uma experiência."


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