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New York Times

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Ensaio - Rachel L. Swarns

O sabor do verão em Coney Island

Todo nova-iorquino tem sua delícia favorita do verão. Quando eu era menina, a minha era algodão-doce, aquela maravilha que derrete na boca e desaparece quando toca nossa língua. Para mim, o algodão-doce me faz pensar em montanha-russa, carrinhos bate-bate, quermesses e passeios a pé calçando sandálias de plástico.

Mas fazia mais de 25 anos que eu não saboreava um algodão-doce. Por isso, embarquei no metrô recentemente para ir a Coney Island, onde o aroma de "funnel cake" (uma espécie de bolinho de chuva) e algodão-doce é o perfume do verão à beira-mar. Fui para passar algum tempo com uma mestre da produção de algodão-doce: Jenny Villon, 30 anos e mãe de três filhos, que há quase uma década produz o quitute neste bairro do Brooklyn.

Villon trabalha atrás do balcão da Williams Candy, uma loja de estilo antigo que fica ao lado da casa de cachorro-quente Nathan's Famous. Quando o movimento está bom, ela faz cem saquinhos de algodão-doce por dia, vendidos por US$ 4 (R$ 9)cada. Passar tempo com ela na temporada mais movimentada do ano significa ter um gostinho do que mudou ou não em Coney Island e Nova York.

"Me ensinaram já no segundo dia que cheguei aqui", conta Villon, que emigrou do México quando era adolescente. Ela nunca imaginou que passaria a maior parte de sua vida profissional fazendo algodão-doce.

Ela me mostrou o Whirlwind e o Tornado, duas das máquinas de algodão-doce fabricadas pela Gold Medal Products Company.

O algodão-doce é quase 100% açúcar, com um pouquinho de corante e flavorizante. Villon despejou duas conchas de açúcar num tubo no centro da boca do Whirlwind. Acionou um botão, e o tubo começou a girar, se aquecer e zunir. Em pouco tempo surgiram teias açucaradas, e logo depois o algodão cor-de-rosa tão conhecido. Ela pôs a mão dentro do tubo, agarrou o algodão e, com alguns movimentos do pulso, criou uma bolinha fofa e bonitinha que colocou dentro de um saquinho plástico. O processo todo levou 30 segundos.

Na Williams Candy, pertencente Peter Agrapides Jr., o doce é feito da mesma maneira há 32 anos, usando os mesmos sabores -baunilha cor-de-rosa e framboesa azul- e as cores, rosa e azul, que eu adorava quando era criança. Na década de 1990 a família Agrapides deixou de colocar o algodão-doce num palito (de acordo com Agrapides, colocá-lo num saquinho dá menos trabalho). De lá para cá, os funcionários da empresa também mudaram.

Nos anos 80 e 90, os funcionários eram principalmente afro-americanos ou porto-riquenhos, e muitos eram adolescentes que buscavam trabalho temporário nas férias. Hoje, eles são em sua maioria imigrantes, e muitos são adultos, como Villon, que não conseguiram encontrar trabalho melhor numa economia incerta.

Jenny Villon ganha US$ 11 (R$ 25) por hora e trabalha o ano inteiro. Ela já se acostumou com o cheiro açucarado que não sai de seus cabelos. Acostumou-se a trabalhar mais horas por dia no verão e menos no inverno, quando a atividade principal é com chás de noiva e bar-mitzvás.

Villon diz que às vezes sonha em encontrar outro emprego, com horário de trabalho mais regular e salário melhor -o tipo de trabalho que imaginou quando chegou aos Estados Unidos, aos 15 anos. "Ser enfermeira", falou, dando de ombros.

Quando um grupo de fregueses entrou, ela os saudou com um sorriso e ficou olhando enquanto mergulhavam em suas criações deliciosas.

O algodão-doce era exatamente como eu o recordava: aquele sabor, aquela doçura gloriosa que só dura um instante. E então some, nos lembrando que, como a vida nesta cidade, o verão muitas vezes é agridoce.


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