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New York Times

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Um esporte para quem não quer transpirar

Artes do flerte e do estilo, sustentadas pelo croquet

Por EMILY S. RUEB

Em meio aos banhistas e jogadores de vôlei sem camisa no Prospect Park, no Brooklyn, numa recente tarde de domingo, Gabriel Vaughan era uma aparição em branco: tênis converse branco, shorts e camiseta branca, chapéu branco de velejador com uma fita azul e vermelha. Três mulheres de biquíni ouviam Bob Marley enquanto Vaughan colocava arcos de croquet num trecho de grama.

"O bom jogo depende de quando a grama é cortada", afirmou Vaughan, autonomeado comissário do Brooklyn Croquet and Hunt Club. Mesmo assim, ele acrescentou, "as irregularidades do terreno somam frustração e prazer ao jogo".

O croquet é para pessoas que gostam de se vestir de branco e aproveitar seus arredores pastorais -mas que não gostam de se exaurir numa transpiração desarrumada. É menos um esporte do que uma forma de flertar, como os moradores do Brooklyn vêm fazendo desde a virada do século 20, quando universitários se reuniam nos campos de croquet do parque.

"As maiores vantagens do jogo", escreveu um repórter do "Brooklyn Daily Eagle", em 1865, "são que ambos os sexos podem participar, ele não é tão laborioso, acontece ao ar livre e sob o sol, é gracioso para as damas, e é interessante tanto para os participantes quanto para os espectadores". E assim segue a tradição até hoje.

"Uma vez trouxe um namorado meu", contou Emily Earle, de 35 anos, que era um dos oito jogadores na tarde recente. O relacionamento não durou, disse ela, "mas foi um bom filtro".

Andrew Bakonyi, um australiano de 27 anos que trabalha no Jardim Botânico de Nova York, deparou-se com o grupo numa tarde após jogar rúgbi e voltou com sua namorada. "É algo agradável para fazermos juntos", explicou o jogador.

Segundo Bakonyi, o ritmo relaxado do jogo oferece um espaço para conhecer pessoas na cidade, onde pode ser difícil o contato com os outros.

Sob a proteção de guarda-chuvas e um guarda-sol floral comunitário, observadores vestidos em tons de branco, com rendas e chapéus de abas largas, descansavam em mantas e cadeiras de nylon enquanto petiscavam.

Piper Goodeve, de 35 anos, a noiva do comissário (que ajudou a fundar o clube no ano passado), havia levado torradas, geleias de pimenta picante e doce, brownies e um bolo de limão na cesta de piquenique de sua avó.

"Eu nunca jogo", garantiu Haas Regen, de 31 anos, ator que iniciou uma companhia de teatro com Goodeve. "Para mim, tudo se resume à #daydrinking [beber durante o dia]".

No campo de jogo, Bakonyi amarrava seus sapatos após rebater a bola do time preto. Ele realizaria o que descreveu como "um croquet", quando o jogador alinha duas bolas, coloca um pé sobre a própria bola e a atinge com a cabeça do taco para enviar a bola do adversário para onde bem quiser.

Uma seca pancada metálica soou quando ele mandou a bola voando para fora do campo. Anthony Garcia, de 9 anos, que jogava futebol ao lado do campo, passou perto dos arcos para recuperar sua bola errante. Originalmente do México, ele disse não conhecer a atividade. "O que é croquet?" perguntou depois. "Uma comida?" Quanto à parte do nome do clube que cita a caça ("hunt"), Vaughan explicou: "De forma extra-oficial, a caça está indefinidamente adiada".

Naquele domingo, duas das quatro equipes estavam muito perto do último conjunto de arcos, mas a bola do time preto tocou primeiro a estaca de madeira e a torcida comemorou.

O time de Bakonyi não venceu, mas ele ganhou uma medalha de plástico por seu traje: camisa branca e bordada de mangas curtas, um chapéu fedora com uma pena azul e shorts num azul desbotado. Seu bigode avermelhado também pode ter influenciado a decisão final do juiz.


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