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Sanções não afastam russos da praia

Dinheiro do exterior transforma balneário da Toscana, na Itália

Por JIM YARDLEY

FORTE DEI MARMI, Itália - Neste balneário que é a versão italiana de uma Riviera russa, onde casacos de pele balançam nas vitrines em pleno agosto e clubes de praia servem garrafas de vodca geladas, um tremor de ansiedade deixou donos de hotéis e restaurantes nervosos em março.

Normalmente, os telefones tocariam com russos reservando quartos. Mas de repente os aparelhos ficaram mudos.

Quando os Estados Unidos e a Europa anunciaram em março a primeira rodada de sanções em resposta à agressão russa contra a Ucrânia, a intenção era atingir instituições e pessoas próximas do presidente Vladimir Putin.

Mas o dinheiro russo é exibido de forma frequente e explícita neste trecho da costa toscana, e a possibilidade de que a fonte seque alarmou a cidade.

"Durante alguns dias houve uma pausa, e parecia que o movimento estava caindo", disse Paolo Corchia, proprietário do Hotel President. "Mas depois os negócios voltaram ao normal."

Normal, no caso, é o fato de uma loja vender sapatos violeta de pele de crocodilo por € 1.690 (R$ 5.002). Ou barracas de praia serem alugadas por € 250 (R$ 740) por dia. Ou companhias que alugam helicópteros que levam russos para fazer compras em Monte Carlo por € 4.450 (R$ 13.172) por dia.

Apesar de toda a atenção dedicada às sanções, a abrangência do investimento russo e sua influência em toda a Europa são fortes e em geral pouco afetados, especialmente porque os ricos da Rússia já transformaram lugares como Londres, Côte d'Azur e Forte dei Marmi em seus parquinhos.

O dinheiro russo é tão importante que, mesmo com os líderes europeus adotando uma postura mais dura contra Putin, ninguém quer prejudicar os laços econômicos mais amplos com medidas que vão além de sanções específicas.

Antes um dos locais favoritos de empresários italianos, Forte dei Marmi tem sobrevivido ao desaquecimento econômico desde 2008, principalmente devido ao dinheiro russo.

O turismo russo cresceu rapidamente na Itália, com aumento de 25% só em 2013. De acordo com o Ministério de Relações Exteriores da Itália, 747 mil russos visitaram o país no ano passado.

Os russos também estão entre os turistas que mais gastam, com uma média de € 150 a € 175 por dia (R$ 444 a R$ 518), segundo o Ministério de Relações Exteriores.

"Aqui é bonito, seguro, limpo, confortável, equipado com barcos e iates para alugar -e cheio de pessoas elegantes", disse Irina Krassiouk, que nasceu em Moscou, mora há 23 anos na Itália e administra um dos clubes de praia privados ao longo da costa. Os russos frequentam Forte dei Marmi há 20 anos e transformaram o que um dia foi um pacato vilarejo para a elite italiana.

Os moradores dizem que há dez anos, em meio a um frenesi imobiliário, os russos compravam casas sem ver -e depois as derrubavam para construir residências maiores.

O centro da cidade, antes marcado por lojas pitorescas da região, foi dominado por marcas de luxo como Prada e Gucci, além de comerciantes de casacos de pele e outros estabelecimentos de grife.

Forte dei Marmi tem praias extensas, uma boa localização para visitar outras áreas e, acima de tudo, exclusividade. Não é raro, de acordo com comerciantes, que clientes russos cheguem pouco antes de uma loja fechar e peçam para que fique aberta só para eles.

"Eles podem sair de uma loja com € 150 mil a € 200 mil (R$ 444 mil a R$ 592 mil) em roupas", disse Enrico Salvadori, um jornalista que foi correspondente do jornal "La Nazione" na região.

Ainda assim, moradores antigos não veem os russos como salvadores. "Um tsunami pode vir do oceano, mas do dinheiro também", disse Fabio Genovesi, autor do livro "Morte dei Marmi". "É tarde demais", disse. "A economia agora está apoiada neles. Não podemos voltar atrás."

O turismo está em baixa este ano, mas muitos culpam as chuvas em julho e o menor número de turistas italianos.

"Os oligarcas não mudaram nada por causa da guerra", disse Indrek Alberg, de origem russa e criado na Estônia, um dos proprietários do clube e restaurante Lobster Russian Corner. "Acho que são jogos políticos. Não mudou muita coisa."


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