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New York Times

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Filmes sobre solidão fazem sucesso no cinema

Por MICHAEL CIEPLY

LOS ANGELES - Há vários anos, um filão de filmes pequeno, porém recorrente, exploram as alegrias, os desafios e o poder curativo de algo raro na era digital: o isolamento humano.

"Wild" [Selvagem], que será lançado em 5 de dezembro nos EUA e até março no resto do mundo, é o exemplo mais recente.

O filme é baseado na obra "Livre - A jornada de uma mulher em busca de um recomeço", de Cheryl Strayed, sobre sua expedição na Pacific Crest Trail, nos EUA. "Wild" é estrelado por Reese Witherspoon e dirigido por Jean-Marc Vallée, cujo "Clube de Compras Dallas" foi indicado ao Oscar de melhor filme. O roteirista foi o escritor Nick Hornby, cujo roteiro para o filme "Educação" também foi indicado ao Oscar em 2010.

Em "Tracks" [Trilhas], de John Curran, que está sendo lançado globalmente, Mia Wasikowska interpreta Robyn Davidson, que em 1977 percorreu 2.700 quilômetros no deserto australiano. Na maior parte da jornada ela estava sozinha, exceto pela companhia de seu cão e de quatro camelos.

Nenhum filme neste ano, porém, talvez exemplifique melhor a solidão do que "Deepsea Challenge 3D" [Desafio em mares profundos], do James Cameron, que explora as profundezas do mar.

Um dos maiores sucessos do ano passado foi "Gravidade", de Alfonso Cuarón, que ganhou sete Oscars e arrecadou US$ 716 milhões (R$ 1,65 bilhão) em bilheterias. O filme enfoca uma astronauta, interpretada por Sandra Bullock, que passa a maior parte da história sozinha no espaço.

Entre as decepções esteve a descortesia da Academia que outorga os Oscars pelo desempenho de Robert Redford em "Até o Fim", de J. C. Chandor, sobre um navegador solitário que luta em silêncio contra um desastre marítimo.

Nos últimos anos, esse e outros filmes, como "Na Natureza Selvagem", "Sobrevivente", "127 Horas", "O Homem-Urso" e "O Outro Lado da Lua", abordaram o que parece ser um novo desejo entre cineastas e espectadores por uma das experiências mais antigas da humanidade: a jornada solitária.

Kathleen Dean Moore, professora de filosofia na Universidade Estadual do Oregon, disse que essa leva de filmes integra uma rica tradição narrativa de aventuras solitárias no deserto ou nos mares, incluindo a história bíblica de Jonas, o romance "Robinson Crusoé" e o filme "Náufrago", de 2000.

Em sua opinião, essas narrativas singulares já despertavam grande interesse bem antes da invenção dos smartphones.

"Hoje em dia, todos nos consideramos tolhidos pelo ruído social, mas será que antigamente isso não existia?", questionou Moore.

Pelo menos até certo ponto, está aumentando a necessidade de nos desligarmos da interatividade maciça dos tempos atuais.

"Isso fica mais evidente a cada ano", disse Tanya Schevitz, porta-voz do grupo Reboot, que este ano afirmou ter 240 organizações apoiando seu Dia Nacional de Desconexão. Em 2011, eram 50.

Strayed citou que sua aventura foi em 1995 (seu livro é de 2012), antes de a comunicação digital virar onipresente.

Em sua expedição de 1.800 quilômetros na Califórnia e no Oregon, alguém tentou lhe explicar como funciona um e-mail. "Não consigo entender", ela se lembra de ter dito.

Ela também achava absurda a ideia de andar o tempo todo com um telefone celular. "Quem em sã consciência concordaria em se locomover com um telefone no bolso?", ela se recorda de perguntar a um conhecido que sugeriu que até aventureiros em trilhas remotas em breve estariam conectados com o mundo.

A história de Strayed -sobre fazer uma jornada para se livrar da heroína e superar a perda da família e a própria infidelidade conjugal- tem tido repercussão óbvia em meio a leitores atuais.

Hornby, que não "passou tempo algum fora da gaiola", especula que os fãs de Strayed se sentem menos atraídos pelo chamado da natureza do que por sua identificação com a sensibilidade essencialmente urbana da autora. "Cheryl é muito reconhecível para o tipo de pessoas que leem seus livros".

O historiador de cinema David Thomson disse que é cedo para declarar que a leva de filmes sobre solidão é uma tendência estável.

Ele, porém, reconheceu o impulso geral para escapar da multidão. Essa observação veio no e-mail que ele enviou de uma região selvagem perto do Mont Blanc, na Europa, onde estava observando alpinistas em busca de "beleza, aventura e realidade inegável".


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