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Análise

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Al Qaeda investe em agendas locais

Por ROBERT F. WORTH

WASHINGTON - Um dos assuntos que percorrem a campanha presidencial é uma pergunta tácita, mas fundamental: depois de 11 anos de guerra ao terrorismo, que tipo de ameaça a Al Qaeda representa para os Estados Unidos?

Os candidatos deram respostas diferentes durante seu último debate, no final de outubro. O presidente Obama repetiu sua narrativa de ataques de teleguiados e terroristas mortos, e Mitt Romney advertiu sobre a marcha dos islâmicos.

Em certo sentido, ambos têm razão. A organização que planejou os atentados de 11 de Setembro, baseada no Afeganistão e no Paquistão, está em ruínas. Dezenas de seus líderes foram mortos desde que o presidente Obama assumiu o cargo, e os que restam parecem inativos.

Ao mesmo tempo, jihadistas de várias espécies, alguns deles identificados com a Al Qaeda, estão florescendo na África e no Oriente Médio, onde o caos que se seguiu aos levantes árabes lhes deu maior liberdade de organização e atuação. A morte de Christopher Stevens, o embaixador americano na Líbia, em setembro, durante um ataque de jihadistas líbios à missão americana em Benghazi, deixou isso claro.

Mas há uma diferença importante: a maioria dos novos grupos jihadistas tem agendas locais. Muitos poucos desejam atacar o território dos Estados Unidos, como fez a rede central de Osama bin Laden. Eles podem ir contra interesses americanos ao redor do mundo -como na Síria, onde a presença de militantes islâmicos entre os rebeldes que combatem o regime de Bashar Assad inibiu os esforços americanos para sustentar a rebelião. Mas isso está muito distante dos complôs terroristas destinados aos EUA propriamente.

"De muitas maneiras, voltamos ao mundo como era antes do 11 de Setembro", disse Brian Fishman, um pesquisador em contraterrorismo da Fundação Nova América. "São grupos jihadistas locais enfocados em projetos em seus próprios países, mesmo que às vezes mantenham o esquema retórico da Al Qaeda e sua luta global."

Embora esses grupos locais possam ter se beneficiado a curto prazo da turbulência que se seguiu às rebeliões da Primavera Árabe, eles também sofreram um golpe ideológico que pode tornar muito mais difícil o recrutamento de jovens seguidores. Movimentos de protesto pacífico derrubaram ditaduras na Tunísia e no Egito. Lá, assim como em conflitos mais violentos na Líbia e no Iêmen, os EUA estavam ao lado dos grupos pró-mudança.

A ideia de atacar os Estados Unidos, o "inimigo distante", no jargão jihadista, sempre foi impopular para muitos radicais islâmicos, cujo principal objetivo era substituir seus governos por teocracias. O conceito se tornou menos popular depois dos ataques de 11 de Setembro, quando Osama bin Laden e seus seguidores foram expulsos de seu santuário no Afeganistão. Nos anos seguintes, os afiliados da Al Qaeda no Iraque e na Arábia Saudita causaram dano considerável à marca, ao matar um grande número de muçulmanos, embora a matança de soldados americanos no Iraque, onde essas tropas eram vistas como cruzados ocupantes, ainda tivesse grande aprovação.

O que a Al Qaeda mantém é uma mística, a lenda de um pequeno bando de guerreiros que atacou um império e o acertou em um golpe devastador. Essa mística ainda tem um tremendo apelo, mesmo para insurgentes que divergem dos métodos da Al Qaeda ou de seu enfoque para atacar os EUA.

Nos últimos anos, houve uma proliferação de movimentos jihadistas que podem se inspirar um pouco na Al Qaeda, mas têm metas muito diferentes. Na Nigéria, o grupo islâmico radical Boko Haram matou milhares de pessoas em sua luta para derrubar o governo e estabelecer um Estado islâmico. Lá, a luta é principalmente sectária. O Boko Haram atacou principalmente cristãos e queimou igrejas.

Hoje, os jihadistas controlam o vasto norte de Mali e têm ligações com um grupo oficialmente afiliado à Al Qaeda que cresceu no conflito civil com a Argélia nos anos 1990.

Embora esses grupos sejam bem armados e perigosos, alguns parecem mais criminosos que ideológicos, focados em sequestros e tráfico de drogas.

Os jihadistas também ganharam força na península do Sinai, no Egito, do outro lado da fronteira de Israel.

Romney ligou essas ameaças variadas à ascensão da Irmandade Muçulmana ao poder no Egito. Para alguns analistas do terrorismo, esse tipo de conversa é contraproducente, porque não faz distinções cruciais entre potenciais aliados que declaram acreditar na democracia e nos direitos civis, como a Irmandade, e islâmicos radicais que consideram esses princípios uma heresia.

"Ainda há uma tendência a falar sobre o inimigo em grandes termos, fazendo generalizações, já que isso faz você parecer durão", disse Fishman, da Fundação Nova América. "Na verdade, faz o oposto, pois obscurece as diferenças que deveriam estar no centro de nossas iniciativas de contraterrorismo."

O mais perigoso movimento da Al Qaeda, de uma perspectiva americana, é o do Iêmen, que tentou diversas vezes plantar bombas em aviões com destino aos EUA. No Afeganistão e no Paquistão, os ataques de teleguiados americanos teve um efeito devastador, matando o religioso nascido nos EUA Anwar al-Awlaki e muitos outros altos líderes. O grupo se apoderou de vastos territórios no sul do Iêmen no ano passado, quando o governo local estava distraído com protestos de rua na capital. Porém, os jihadistas foram repelidos em junho, com assistência militar americana.

Ao mesmo tempo, a maior parte das realidades políticas que inspiraram a organização de Bin Laden continuam existindo, incluindo o apoio aparentemente desqualificado dos EUA a Israel e aos governantes dos países do golfo Pérsico. Os militares americanos ainda combatem no Afeganistão, e os talebans, que hospedaram a Al Qaeda durante os anos 1990, poderiam obter maior poder depois de um recuo americano.

A Al Qaeda "nunca foi um movimento de massa, mas sempre pretendeu ser um de vanguarda", disse Bernard Haykel, professor de estudos do Oriente na Universidade Princeton. "Por isso, mesmo com a primeira geração de líderes praticamente desaparecida, é muito difícil declarar a morte do movimento."


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