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New York Times

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Arquiteto projeta casa para vão

Por STEVEN KURUTZ

O arquiteto polonês Jakub Szczesny caminhava pelo antigo gueto judaico em Varsóvia, três anos atrás, quando topou com algo que descreveu como "um simpático bolsão de ar" entre um edifício de apartamentos do pré-guerra e um prédio residencial do pós-guerra.

Szczesny, que faz parte do coletivo Centrala, dedicado à arquitetura experimental, teve a ideia de construir uma casa no espaço incrivelmente estreito entre os dois prédios. "Me apaixonei pelo espaço entre os dois edifícios de períodos diferentes", contou. "Decidi criar um elo entre eles."

O arquiteto de 39 anos começou a imaginar um residente ideal para a casa. Seu escolhido foi Etgar Keret, escritor israelense cuja reputação de criar coletâneas de contos muito curtos o assinalava como uma pessoa acostumada a trabalhar dentro de parâmetros restritos, sem falar que seu legado judaico e suas raízes polonesas lhe davam uma ligação emocional com Varsóvia. Quando era criança, na Segunda Guerra Mundial, a mãe do autor levava alimentos escondidos, passando por "checkpoints" nazistas situados a apenas poucos metros de onde Szczesny esperava construir a casa.

Quando Keret, 45, recebeu a ligação do arquiteto, ficou perplexo. "Um sujeito com forte sotaque polonês me disse que queria construir uma casa proporcional aos meus contos", relatou. "Achei que fosse um trote." Mas Szczesny viajou de avião até Tel Aviv, onde mora o escritor, e comprovou sua sinceridade.

Em outubro, após mais de um ano de trâmites burocráticos e desafios de engenharia, a "Casa Keret" abriu suas portas, ou, melhor dizendo, porta. Com apenas 122 centímetros em seu ponto mais largo, ela talvez seja a residência mais estreita do mundo.

"Era um conjunto fantástico de impossibilidades", contou Szczesny. Ele teve que determinar a quem pertencia o espaço vazio, que era controlado pelo distrito de Wola. Autoridades o ajudaram com o processo de obtenção do alvará.

O design da casa usa uma moldura leve de aço feita de módulos pequenos que são unidos por parafusos. A quitinete tem 90 centímetros de largura, com pia minúscula e porta de correr que esconde o banheiro. Uma escada dá acesso ao segundo piso. A sala de estar, no térreo, é a parte mais estreita da casa, com apenas 89 centímetros de largura.

Etgar Keret, que viajou para Varsóvia para a inauguração da casa, vê o imóvel como o equivalente doméstico a um de seus contos: pequeno, mas completo. "É uma coisa muito, muito compacta", ponderou. "Mas tem tudo que uma casa precisa ter." Keret disse que pretende passar, pelo menos, uma noite na casa.

Pelas leis polonesas, a "Casa Keret" é pequena demais para ser uma residência. Foi classificada como instalação de arte e vai pertencer e ser administrada pela Fundação de Arte Polonesa. Szczesny e Keret pretendem selecionar artistas para estadias de cinco a sete dias no local.

Keret tem uma visão séria da casinha. "Para mim, é uma espécie de metáfora do processo de minha família reivindicar um lugar na Polônia outra vez", disse. "Nesse lugar onde dizimaram nossa família, agora haverá um lugar chamado 'Casa Keret'."

Para ele, como a própria casa, "nós somos alguém que precisou se esforçar para conquistar seu lugar aqui".


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