Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

New York Times

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Lente

Até a solidariedade virou pop-up

"Civilização em fluxo" responde com impermanência

Durante os alegres e vertiginosos dias de primavera e verão, antes que os ventos ganhassem força e o mar crescesse, Nova York já flertava com a impermanência.

Restaurantes, clubes e lojas temporários, ou pop-ups, começaram a pipocar sem aviso em pontos comerciais vagos ou espaços abertos, desaparecendo dias depois. Chefs, varejistas e promotores de festas aproveitavam a oportunidade para testar novas ideias e evitar os gastos de tempo e dinheiro que estabelecimentos permanentes exigem.

Mas, em se tratando de Nova York, isso logo virou uma tendência absoluta. E, em se tratando de Nova York, isso logo começou a chatear outros nova-iorquinos.

"Há aqui uma epidemia que parece ter alcançado uma proporção de crise nas últimas semanas", escreveu Neil Genzlinger em agosto no "New York Times", lamentando o que chamou de "o verão do pop-up".

Genzlinger observou que, ao lado de uma praça de alimentação temporária chamada The Lot, surgiu um rinque de patinação e, ao lado dele, duas lojas em forma de cubo, vendendo roupas. "É isso mesmo, de uma pop-up brotou uma pop-up, da qual por sua vez brotaram mais duas pop-ups", escreveu.

A abordagem foi aplicada à saúde pública. A cidade montou playgrounds temporários para crianças em bairros de baixa renda, onde o sedentarismo e a obesidade estavam afetando as crianças, noticiou o "Times".

Allison Arief viu um lado positivo nas estruturas feitas não para durarem, mas para se adaptarem. "É uma resposta adequada a uma civilização em fluxo", escreveu ela no "Times".

A impermanência assumiu um significado sombrio quando o furacão Sandy destruiu casas e praias na região de Nova York, em outubro, matando mais de cem pessoas. O que havia sido construído para durar várias gerações foi destruído em horas.

Um novo tipo de pop-up apareceu na hora em que governo, empresas e voluntários se apressavam em trazer comida, água e outros suprimentos para centros de auxílio.

Joe Nocera, colunista do "Times", foi à devastada localidade litorânea de Rockaways, no Queens. Dez dias depois da tempestade, ele encontrou dezenas de casas destruídas, pilhas de destroços e milhares de pessoas vivendo sem energia nem calefação, com temperaturas próximas a 0°C. Muitas faziam fila em frente a centros de apoio temporários buscando comida, água, cobertores e roupas.

Havia pouca presença do governo municipal ou federal.

"Voluntários", escreveu Nocera, "descobriram como ajudar pessoas num desastre". "Eles acharam restaurantes dispostos a doar refeições quentes, alugaram ônibus para mais voluntários e trouxeram suprimentos para ajudar os moradores a enfrentarem o frio."

Embora o prefeito Michael Bloomberg tivesse dito, antes da tempestade, que Nova York não necessitaria de ajuda federal emergencial, Nocera escreveu que "não é preciso passar muito tempo no Queens para perceber que Nova York precisa de toda a ajuda da qual dispuser".

Já faz tempo que o verão acabou. O flerte com a impermanência se tornou mortalmente sério.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página