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New York Times

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Inteligência/Roger Cohen

Isto é uma revolução

Primavera Árabe levou a uma revolução mental

LONDRES

Virou moda depreciar a Primavera Árabe. Muitos agora dizem que ela não foi uma revolução, que apenas serviu para ajudar os radicais islâmicos e que produziu o caos no Egito e uma matança na Síria. Em suma, foi uma perda de tempo, mero prelúdio para mais um "inverno árabe".

Entre os críticos, é claro, há os que sempre pensaram que o mundo muçulmano fosse incapaz de formar sociedades democráticas. No entanto, entre eles também há muitos observadores ponderados. Um deles, Robert Malley, do Grupo Internacional de Crise, publicou um artigo chamado "Isto não é uma revolução" no "The New York Review of Books".

Ele começa assim: "A escuridão desce sobre o mundo árabe. Prejuízos, morte e destruição assistem a uma luta por uma vida melhor. Estrangeiros competem por influência. As demonstrações pacíficas com que isso começou e os valores elevados tornam-se memórias distantes... O único programa coerente é religioso e animado pelo passado".

A isso, eu diria quatro coisas. Em primeiro lugar, houve uma revolução. Ela aconteceu na mente dos árabes, de uma cultura paralisada de vitimismo para uma cultura emergente de atuação. A noção de participação política foi adotada e não será abandonada.

Segundo, o que, senão "escuridão", foram as ditaduras que duraram décadas e foram derrubadas pelas rebeliões? Coordenadas por meio da mídia social e refletindo uma frustração explosiva entre a juventude árabe, as revoltas exigiram abertura. Hoje há uma liberdade sem precedentes para dizer e escrever o que você quiser em sociedades como a do Egito e a da Tunísia.

Terceiro, a adrenalina e os sonhos de momentos revolucionários são coisas efêmeras, mas isso não é peculiar ao mundo árabe. As mudanças em curso são geracionais e desiguais. Acreditar que as esperanças por trás delas não passam de "memórias distantes" é esquecer a enormidade transformacional, por exemplo, dos generais egípcios batendo continência para um presidente da Irmandade Muçulmana, eleito pela maioria em uma votação livre e justa.

Quarto, quando se trata de programas religiosos, é importante identificar o que eles são. Os islâmicos de hoje não são os mesmos de 1979. Houve uma evolução importante no pensamento da Irmandade, no Egito, ou do partido Ennahda, na Tunísia. Ninguém está falando sobre teocracia ou em olhar para Teerã.

Eu conheci muitos árabes, especialmente egípcios liberais, que se preocupam com o futuro, mas sem querer retornar às antigas gaiolas. As mudanças são necessárias e difíceis. Mas, se de modo geral, elas são boas para os árabes, elas são boas para o Ocidente?

Um teste é a crise em Gaza. Antigamente, a Irmandade teria sentado nas laterais gritando xingamentos para Israel e slogans antiocidentais. Hoje -estas são as responsabilidades do poder- o presidente Mohamed Mursi do Egito tenta conter a violência na região atuando como mediador.

A Irmandade tornou-se um canal importante entre Washington e Hamas, Israel e Hamas e Hamas e Fatah na Cisjordânia. Forças importantes do mundo árabe foram obrigadas a substituir injúrias fáceis por criatividade em busca de compromisso.

É melhor para o Ocidente ter islâmicos engajados do que reprimidos. É melhor para o Ocidente falar com essas partes e respeitar eleições livres do que manter um apoio cheio de hipocrisia a tiranos. É melhor para o Ocidente que os despotismos que servem como fábricas de terroristas sejam derrubados e a juventude árabe se envolva na construção de suas sociedades, em vez de ser recrutada para causas jihadistas.

Nada disso garante a paz no Oriente Médio, o necessário sucesso econômico, o fim do ódio contraproducente a Israel ou uma linha reta para uma região mais dinâmica e livre. No entanto, é um começo na estrada sinuosa para sair da escuridão.


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