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New York Times

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Resenha De Exposição/Edward Rothstein

Exposição analisa vilões do 007

WASHINGTON - Para James Bond tudo é muito fácil. Nos filmes, ele tem meios materiais ilimitados e não tem grandes ambições, como, por exemplo, cobiçar o cargo de M. E, embora se aplique nas tarefas que lhe atribuem, não tem um desejo especial por nada, a não ser os prazeres da cama e da mesa. Bond é um homem simples.

Diferentemente de seus vilões. Estes têm ambições reais. Ernst Stavro Blofeld, em "Com 007 Só Se Vive Duas Vezes" (1967), quer manipular as superpotências para que travem uma guerra nuclear. Hugo Drax, em "007 Contra o Foguete da Morte" (1979), tenta eliminar a civilização com armas biológicas para que possa criar uma raça mestra.

Até os vilões com projetos mais modestos usam métodos de uma grandiosidade imperiosa. Quer ter sucesso no negócio de computadores, como Max Zorin em "Na Mira dos Assassinos" (1985)? Faça um terremoto engolir todo o Vale do Silício.

Estivemos preocupados com a escolha dos 007s durante 50 anos e agora, em "Operação Skyfall", com a introversão séria e preocupada de Daniel Craig. Mas o International Spy Museum [Museu Internacional do Espião], em Washington, com sua nova exposição "Exquisitely Evil: 50 Years of Bond Villains" [Requintadamente maligno: 50 anos de vilões de Bond], começa a dar o devido valor a essas outras criaturas.

A mostra, que ficará em cartaz durante pelo menos dois anos, acerta no tom, misturando solenidade com diversão, história com ironia, falando sobre figuras à beira do desenho animado, mas também detalhando como elas estão intimamente ligadas ao mundo real. O resultado é atraente mesmo que você não seja um fã de Bond. Quantas exposições poderiam exibir o "corpete e saia de noivado ensanguentados" com que a esposa de Felix Leiter foi assassinada em "Licença para Matar" (1989)? Ou montar interações inteligentes em que os visitantes são convidados a viver seu próprio "momento Bond" -desarmando uma bomba atômica em 15 segundos ou pendurando-se de um mastro escorregadio enquanto balança no ar?

A interação entre o real e a invenção está desde o início da exposição. Ian Fleming (1908-64), nos informam, foi recrutado para a inteligência naval britânica em 1939, com base em um artigo que havia escrito e foi rejeitado pelo "Times" de Londres. Mais tarde, quando imaginava Bond, Fleming disse que criou uma "mistura de todos os agentes secretos e tipos de comando que conheci durante a guerra".

Mas os filmes não apenas se basearam na experiência. Às vezes, pareciam equiparar-se a ela. O primeiro filme de Bond, "O Satânico Dr. No" (1962), sobre a retirada de foguetes americanos de uma base secreta no Caribe que pretendia instigar a guerra entre as superpotências, teve sua estreia menos de duas semanas antes que mísseis secretos no Caribe fizessem quase a mesma coisa, na crise dos mísseis cubanos.

Isso colocou o filme no centro das preocupações políticas da época. Sean Connery foi tão eficaz no papel de Bond que sua caracterização afetou os retratos posteriores de Fleming.

Os vilões do primeiro filme estabeleceram o padrão. Blofeld era uma presença recorrente, conhecido primeiro somente por seus dedos que afagavam um gato persa branco enquanto ele alegremente enviava asseclas balbuciantes para a morte. A exposição sugere que a cicatriz em seu rosto parece a cicatriz do treinador maligno em "Moscou contra 007", Morzeny, cujo nome lembra Skorzeny, o comando das SS, que realmente tinha uma cicatriz de duelo.

Os vilões de Bond evoluíram, personificando primeiro os temores da Guerra Fria, depois os da aniquilação nuclear, então preocupações sobre os monopólios, os barões de drogas, o colapso pós-soviético, o caos pós-atentados do 11 de Setembro e agora o ciberterrorismo.

No caminho, uma complexa interação se desenvolveu com os serviços de inteligência. Ficamos sabendo que, depois de assistir a "Na Mira dos Assassinos", com sua sugestão pioneira de software de reconhecimento facial, William Casey, o diretor da CIA, pediu que a agência desenvolvesse essa capacidade.

Bond também se tornou uma presença para agentes. Peter Earnest, diretor-executivo do museu e um ex-agente da CIA, diz sobre a antiga profissão: "Todos tivemos um momento Bond".

Em uma entrevista, Stella Rimington, uma ex-diretora do MI5 britânico, sugere que Bond "é muito bem treinado, mas não parece saber os limites".

Os vilões desumanos só podem ser dominados por alguém que, como eles, tenham capacidades desumanas e um gosto consumado. Mas 007 se recusa a lutar nesse terreno. Nada de discussões, interpretações psicológicas ou grandes ambições. Basta ele ser Bond e ter a licença para matar.


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