Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

New York Times

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Aldeões recusam-se a dar lugar para mina

WILLIAM NEUMAN MOROCOCHA, PERU

Em uma área elevada e cercada por picos áridos, uma mineradora chinesa construiu ruas retas com longas fileiras de casas idênticas.Um terço delas ainda aguarda pessoas que venham morar sob elas.

A mineradora Chinalco, que pertence ao governo chinês, construiu a cidade para reassentar mais de 5.000 pessoas que vivem na vizinha Morococha, uma centenária aldeia de mineração.

A empresa pretende demolir Morococha para dar espaço a uma mina de cobre a céu aberto.

Desde setembro, a Chinalco reassentou quase 700 famílias. No entanto, centenas de moradores resistem e fazem protestos enquanto seus vizinhos vão para a nova cidade, que pode acabar tendo o nome de Nueva Morococha.

As cidades ficam a apenas dez quilômetros de distância e estão em altitudes semelhantes. Para muitos, porém, essa mudança é como ir para outro mundo. Morococha é velha, decadente e miserável. A maioria das casas tem paredes de barro e telhado de metal esburacado. Os moradores têm de buscar água em torneiras nas ruas e muitos usam toscas latrinas comunitárias. Já a nova cidade foi pintada e asfaltada recentemente e conta com escolas, igrejas e uma clínica. Todas as casas têm água corrente tratada e banheiros ligados a uma rede de esgoto eficiente.

Quando a maioria dos moradores sai para trabalhar, equipes de garis varrem as ruas que ficam desertas.

"Dá até para se perder por aqui", disse Virginia Vallodolid, 45, uma das varredoras, que se mudou para lá e ganha US$ 3 por dia da Chinalco. Ela abre a torneira e a água sai transparente, não amarela, como era costume em Morococha.

"Não sinto falta de coisa alguma", comenta Vallodolid, refletindo sobre os 15 anos em que morou em Morococha. "Lá eu vivia sem conforto."

No entanto, muitos em Morococha recusam-se a ir embora e a vender suas casas.

Marcial Salomé, o prefeito, disse que ele e outros moradores não se opõem à ideia de mudar, mas, em troca, querem mais.

Eles exigem, por exemplo, que a empresa garanta empregos para os moradores e pague US$ 300 milhões pela destruição da aldeia.

Salomé também citou uma queixa constante de muitos que se mudaram: as casas novas, de 40 metros quadrados, são muito pequenas. Salomé disse que outra empresa estrangeira, a Xstrata Copper, planeja um reassentamento semelhante de uma cidade no sul do Peru e prometeu construir casas bem maiores. "Queremos o que é justo", afirmou.

Uma das expoentes desse movimento de resistência é Sonia Ancieta, cuja casa tem mais de 185 metros quadrados, incluindo quartos de aluguel e uma loja em uma rua que outrora era movimentada. A Chinalco se propôs a compensar donos de negócios pelo prejuízo financeiro e a pagar os proprietários de casas, mas, para Ancieta, o que a empresa oferece é inaceitável.

"Eu nasci aqui", disse ela. "Vou perder minha identidade e muitas outras coisas, pois saindo daqui nunca mais voltaremos."

A mineração é o grande motor da economia do Peru. Estimular investimentos maiores nesse setor é fundamental para os esforços do presidente Ollanta Humala no sentido de melhorar as condições econômicas para um quarto da população do país que vive na miséria.

A pobreza extrema persiste em Morococha, onde a nova mina e a unidade de processamento, que vão rasgar a montanha amarela que se ergue atrás da cidade, deverão produzir uma média anual de 225 mil toneladas métricas de cobre durante 36 anos. Pelos preços atuais, essa produção renderia mais de US$ 1,7 bilhão por ano.

Ezio Buselli, vice-presidente de assuntos ambientais e corporativos da Chinalco, não revelou quanto a empresa gastou para construir a nova cidade e suas 1.050 casas, mas disse que o total ultrapassou os US$ 50 milhões originalmente reservados para o projeto.

Para ele, o grupo de resistência em Morococha não passa de um grupo pequeno, tentando arrancar mais dinheiro da empresa.

"A maioria das pessoas quer conseguir um pouco mais", afirmou Buselli.

Em uma manhã recente na cidade nova, a dentista Patricia Cóndor, 34, e seu marido, o farmacêutico Miguel Ángel Cayetano, 32, instalavam-se em sua nova casa com os dois filhos pequenos. "As crianças estão felizes", disse Cóndor. "Para elas, esse é outro mundo".

O casal só decidiu sair de Morococha quando as vendas em sua farmácia despencaram, devido à mudança de grande parte de seus vizinhos. "Há uma ou duas semanas, o movimento por aqui não era grande", comentou Cóndor. "Mas, nesta semana, há mais gente chegando, apostando na mudança."


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página