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New York Times

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Maria Bashir

Defensora das mulheres tem viés conservador

Por GRAHAM BOWLEY

HERAT, Afeganistão - Maria Bashir, a única mulher atuando como procuradora-geral nas 34 províncias afegãs, não se limita a andar na corda bamba entre progressistas e conservadores -ela está na situação nada confortável de personificar tal dicotomia.

Bashir, 42, está acostumada a sofrer ataques pessoais e (até) físicos dos tradicionalistas por ela ser uma das mais graduadas mulheres em cargos públicos no país e por seu trabalho ser em prol dos direitos femininos.

O resto do mundo reconhece o ideal que ela representa.

Em 2011, em Washington, a primeira-dama Michelle Obama e a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, homenagearam-na com o prêmio Mulheres Internacionais de Coragem.

"Para homens não educados, mas também para homens educados, ainda é muito difícil aceitar que uma mulher está em posição de tomar decisões", disse Bashir.

Mas, recentemente, ela passou a enfrentar um tipo de crítica menos familiar -a de que ela prejudica as mulheres com seu próprio conservadorismo. A procuradoria comandada por Bashir é, de todo o Afeganistão, uma das que mais prendem mulheres por crimes ditos "morais", como adultério ou mesmo tentativa de adultério, segundo dados do governo.

Grupos de direitos humanos dizem que as leis afegãs discriminam as mulheres.

Muitas são condenadas por adultério, apesar de terem sido vítimas de estupro ou de terem sido forçadas à prostituição. Algumas são condenadas após terem fugido de lares abusivos.

Bashir insiste que precisa cumprir a lei, mas que trabalha para melhorar as oportunidades para as mulheres. No entanto, ela se tornou foco de questionamentos por parte de funcionários internacionais que trabalham aqui. Eles se perguntam até que ponto devem apoiar uma mulher que representa a mudança, mas que também impõe costumes que os países do Ocidente consideram discriminatórios.

Bashir sabe por experiência própria o que é ser discriminada. Ela era promotora em Herat, mas precisou abandonar o cargo quando o Taleban ascendeu ao poder, na década de 1990. Passou à clandestinidade, furtivamente lecionando para meninas e mulheres.

Depois da queda do Taleban, ela recuperou seu emprego. Há cinco anos, é procuradora-geral em Herat. Ela também trabalha com a ONU, dando palestras em colégios e universidades, onde conclama meninas e moças afegãs a expandir suas ambições e lutar por empregos fora de casa.

Para muita gente do país, essa mensagem não é bem-vinda. "Temos os mulás, temos os ex-jihadistas", disse. "Eles não poupam nenhum esforço para nos enfraquecer ou para nos difamar."

Seus inimigos não se limitam a falar. O filho de outra promotora foi confundido com o de Bashir e foi morto após ser sequestrado.

Mas há progressos. Cerca de metade dos alunos nas escolas e universidades de Herat são do sexo feminino. Mais mulheres estão solicitando proteção sob a nova Lei de Eliminação da Violência contra as Mulheres.

"Elas conhecem seus direitos e estão pouco a pouco acreditando nas suas capacidades", disse Bashir.

Alguns ativistas de direitos humanos estão frustrados por Bashir não ir mais longe para mudar o sistema judicial.

"O fato de você ver tantos casos saindo de uma província em particular lhe diz mais sobre a polícia, a procuradoria e o Judiciário do que sobre as mulheres", disse Heather Barr, pesquisadora da entidade Human Rights Watch no Afeganistão. "Ela é corajosa e é uma pioneira, mas ninguém está acima do escrutínio."


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