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Cineasta iraniano encara barreiras linguísticas

Por NICOLAS RAPOLD

O cineasta iraniano Abbas Kiarostami não ignora a possibilidade de ocorrerem mal-entendidos. Talvez ele até aprecie o potencial criativo que existe no desconhecimento de todos os fatos.

Muitos de seus filmes já deixaram os espectadores incertos do rumo da história.

Em "Cópia Fiel" (2011), Juliette Binoche representa uma mulher cujo relacionamento com um acadêmico parece mudar diante de nossos olhos, mergulhando a plateia numa perplexidade agradável e em um sentimento de maravilhamento resultante, em última análise, numa ficção mais vívida.

Os experimentos do diretor nessa direção datam de 1990, com "Close-up", e ajudaram a lançar o gênero hoje em voga que funde ficção e documentário. Ao mesmo tempo, Kiarostami inspirou-se nas tradições iranianas mais antigas de contagem de histórias e ilusionismo.

Com seus dois filmes mais recentes, o diretor encontrou outra maneira de desafiar a si mesmo. Pela primeira vez, ele rodou seus longas-metragens de ficção fora de seu país: "Cópia Fiel", na Toscana, e "Um Alguém Apaixonado", em Tóquio. Evitando o congelamento político do Irã, o diretor consegue alimentar sua imaginação.

"Um Alguém Apaixonado", lançado comercialmente em todo o mundo no ano passado, é a história de uma estudante universitária (Rin Takanashi) que trabalha como garota de programa. O filme relata seu encontro com um gentil idoso (Tadashi Okuno) e sua relação com um namorado possessivo (Ryo Kase).

A cena inicial determina o tom do mistério que está por vir. Ela é rodada de maneira que faz com que seja difícil identificar qual personagem deve ser alvo de nossa atenção principal.

Durante as filmagens, a barreira linguística provocou certo mistério para Kiarostami, cuja língua materna é o persa.

Foi necessário trabalhar com um intérprete de japonês no set. Mas, dentro do processo criativo de Kiarostami, o caráter estrangeiro da situação antecedeu as filmagens.

"Quando escrevo um roteiro, geralmente tenho na cabeça algumas pessoas reais sobre as quais estou escrevendo, mesmo que elas não atuem no filme depois", falou o diretor (por meio de seu intérprete) em outubro, durante o Festival de Cinema de Nova York, onde "Um Alguém Apaixonado" teve sua première americana. "Dessa vez, pela primeira vez, não tive essas pessoas reais em mente."

Filmar num país estrangeiro casou bem com os métodos de Kiarostami de direção.

Ele tende a dar poucas orientações aos atores. Ele gosta de escolher os atores, criar o ambiente e o clima e então deixar que eles façam o que quiserem.

"Geralmente eu faço muito pouco", falou Kiarostami. "Mas, com o obstáculo de uma língua estrangeira, fiz ainda menos. Foi a melhor saída." O diretor acredita piamente no poder da linguagem corporal e do contato olho a olho. Ele tem confiança total no desejo de seus colaboradores de serem compreendidos.

"Eu não fazia ideia do tipo de personagem que precisava ser", contou de Tóquio Tadashi Okuno, um ator que parece avô e representou o senhor mais velho com jeito de professor.

"O diretor me pediu para eu ser eu mesmo. Foi apenas na metade das filmagens que finalmente comecei a entender."

Kiarostami recordou a sensação inesperada de calma, ou até mesmo distanciamento, que teve por trabalhar fora de seu país.

"Senti como se, pelo fato de (os atores) falarem numa língua diferente, com pessoas diferentes, eu não fosse responsável por eles, mas fosse principalmente um espectador."


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