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New York Times

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Mudança climática sobe aos palcos

Por JASON ZINOMAN

Onde está a grande peça teatral americana sobre a mudança climática?

Não há como negar que o possível fim da civilização é algo dramático. Por isso é estranho que os teatros de Nova York, em geral, evitem o tema.

É fato que a recente produção "If There Is I Haven't Found It Yet" [Se existe ainda não achei], encenada fora do circuito da Broadway, abordou a obsessão de um professor com o desastroso impacto da mudança climática, mas nenhum drama sobre o tema conseguiu deixar uma impressão significativa.

A companhia teatral nova-iorquina Civilians montou o drama "The Great Immensity" [A grande imensidão], em temporada no Estado de Missouri, demonstrando preocupação em conscientizar o público sobre a mudança climática.

No entanto, seu diretor artístico, Steve Cosson, é bastante franco: "Em nível cultural, estamos para trás".

Isso pode começar a mudar com "This Clement World", em cartaz no espaço St. Ann's Warehouse, em Nova York. Nessa ambiciosa obra, a escritora e artista performática Cynthia Hopkins filtra a complexidade da ciência por intermédio da sua estética charmosamente excêntrica.

"É difícil encontrar uma conexão pessoal [com a mudança climática], pois não estamos sentindo seus plenos efeitos agora", disse Hopkins. "Compreender isso dramaticamente exige imaginação."

Alison Carey, dramaturgo que divulgou em janeiro pela internet uma peça chamada "Tonight's Fire" [O fogo desta noite], apresenta o desafio da seguinte forma, por e-mail: "Como escrever sobre uma mudança dessa escala -tempo afora, planeta afora-, quando os principais agentes são forças atmosféricas, não indivíduos?".

A solução de Hopkins é explorar brutalmente a liberdade do teatro não realista.

Ela passeia pelo tempo e pelo espaço, interpreta uma multidão de personagens e usa vídeos e canções.

No começo de "This Clemente World" [Este mundo clemente], expressão tirada do livro "Cosmos", de Carl Sagan, ela narra como alienígena uma história do mundo que inclui a criação do Sol e a morte dos dinossauros.

Hopkins também interpreta o fantasma de uma indígena americana fazendo um alerta a quem pensa que seu modo de vida jamais será ameaçado. Esses monólogos formam a tese de que nosso atual mundo hospitaleiro é muito mais frágil do que parece.

A peça foi inspirada em um discurso proferido em 2009 no Instituto da Terra da Universidade Columbia, em Nova York. Jeffrey Sachs, diretor do instituto, falou sobre como os artistas podem ajudar a combater a desinformação sobre esse tema, de uma forma que políticos e jornalistas não são capazes. "Percebi", disse Hopkins, "que eu poderia usar meus dotes bizarros para algo vital".

Dois meses depois, ela esteve numa exposição no Ártico patrocinada pela organização britânica Cape Farewell, que promove a comunicação entre artistas e cientistas acerca da mudança climática. Essa viagem tornou-se a espinha dorsal do seu espetáculo, no qual Hopkins interpreta muitos cientistas, incluindo um físico alemão que ela conheceu e que argumentava que há certa beleza no fim da espécie humana.

Tanto "The Great Immensity" quanto "This Clement World" tiveram significativo apoio externo. A peça dos Civilians recebeu uma rara bolsa artística de US$ 700 mil da Fundação Nacional de Ciências.

"The Great Immensity" aborda as medidas radicais e necessárias para salvar o ambiente, numa trama de mistério a respeito de uma mulher em busca de sua irmã desaparecida. A peça traça um retrato sombrio, mas tenta agarrar-se às potenciais mudanças.

Um enredo muito frio pode entorpecer a plateia. O documentário "Uma Verdade Inconveniente", de Al Gore, é de longe a mais popular obra de entretenimento sobre o assunto, mas suas sugestões para mudanças são modestas.

"Esse tema realmente separa os pessimistas dos otimistas", disse Ruth Little, administradora da Cape Farewell.

"É uma coisa complicada", disse Hopkins. "Acho que uma grande parte do ceticismo ocorre porque isso é tão aterrorizante que é facilmente avassalador e paralisante. O desafio é comunicar que também há esperança e possibilidade de agir."


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