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New York Times

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Fiasco moderno derruba banco mais antigo do mundo

Por JACK EWING e GAIA PIANIGIANI

SIENA, Itália - O banco Monte dei Paschi beneficia os habitantes de Siena há 541 anos. Ele já resistiu a guerras, à peste e a pânicos e hoje se destaca por ser o banco operante mais antigo do mundo.

Mas um fiasco inteiramente moderno causou estragos ao banco, algo que o passar dos séculos não provocou.

Fundada em 1472, a instituição foi abalada por transações financeiras do século 21, e o governo foi obrigado a organizar um resgate pontual de US$ 5,1 bilhões.

As reações de espanto foram maiores justamente em Siena. Para muitas pessoas daqui, o Monte dei Paschi é muito mais que um banco: é "Babbo Monte" [papai monte], o maior empregador e patrono da cidade.

O dinheiro do banco sempre ajudou a financiar instituições beneficentes e obras públicas, incluindo o evento anual que faz a fama de Siena: o alegre Palio di Siena, uma corrida de cavalos em volta da Piazza del Campo.

Todos agora se perguntam como ficarão as coisas sem o dinheiro do "Babbo Monte".

"Hoje em dia, nada mais cai do céu", comentou Mario Marzucchi, presidente da organização beneficente Misericordia di Siena, que dá atendimento de saúde aos pobres da cidade e opera uma frota de ambulâncias. A entidade está tendo dificuldade em manter seus serviços e reformar sua clínica, que ocupa um antigo mosteiro beneditino.

O futuro do Monte dei Paschi será determinado em grande medida por seu presidente, Alessandro Profumo, executivo de 56 anos trazido de Milão.

Profumo revelou que o Monte dei Paschi foi enfraquecido, em parte, por suas transações com grandes bancos internacionais. O JPMorgan Chase e outros ajudaram a organizar transações que acabaram por prejudicar o banco italiano.

Os bancos estrangeiros não foram acusados de qualquer ilegalidade, mas Profumo deu a entender que eles lucraram à custa do Monte dei Paschi.

"Está claro que muitos bancos de investimentos ganharam muito dinheiro à custa do Monte dei Paschi", disse ele. "Eu diria que ganharam dinheiro demais."

Em Siena, assim como em boa parte da Europa, bancos controlados por políticos distribuíam empréstimos e empregos em troca de votos e patrocinavam entidades de caridade e organizações cívicas para conquistar a boa vontade da população.

Mas os problemas do Monte dei Paschi começaram de verdade em 2008, quando ele comprou do banco espanhol Santander um pequeno banco regional, chamado Antonveneta.

Analistas consideraram o preço de € 9 bilhões (US$ 11,9 bilhões) altamente inflacionado, mesmo na época, e, para agravar o problema, o Monte dei Paschi pagou em dinheiro.

Ele fez uma série de transações para levantar recursos sem comprometer sua base de capital e, com isso, desrespeitou regulamentos bancários.

Foi quando o JPMorgan entrou em cena. O banco americano ajudou o Monte dei Paschi a levantar cerca de € 1 bilhão em papéis negociáveis que possuíam características de ações comuns e de títulos de dívida.

Enquanto o Monte dei Paschi fosse lucrativo, os papéis pagariam um dividendo fixo de cerca de 5%. Mas, se ele passasse por problemas, os dividendos deixariam de ser pagos e os papéis seriam tratados como ações.

Não há provas de que o JPMorgan tenha cometido qualquer ilegalidade, mas não há dúvida de que ele ajudou a promover uma aquisição que enfraqueceu gravemente o banco de Siena. Mais tarde, o Deutsche Bank, da Alemanha, e o Nomura, do Japão, realizaram transações com a direção anterior do Monte dei Paschi que ajudaram o banco a ocultar um prejuízo de € 730 milhões.

Profumo está desmontando o sistema de patronagem e reduzindo custos. Os diretores vinculados a políticos foram afastados da direção do banco, centenas de agências foram fechadas e haverá cerca de 4.000 demissões.

Profumo disse que não pode excluir a possibilidade de o Monte dei Paschi ser vendido.

"O papel do Monte dei Paschi será o de um bom banco", disse Profumo. "Não será um empregador de último recurso, não será o banco que sempre concede empréstimos quando ninguém mais o faz. Seremos um banco bom. É o que basta."


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